Friday, February 24, 2006
In 84
July
you waited
carnations still on fire
- remember 74 -
soldiers on the street
guilt expiating
ire?
I was a spirit
in free dive
in 84 -
you lingered
and I forgot.
Years have drawn
apart revolutions
in 84
I lost memory
of you waiting
when I was 23
in 84.
Today
I quest
for a name, a shadow.
I keep some
dim likeness of you
but... no print.
Forgive me
if you
still hold a faint grief.
For some reason
I knew
I was no poetry
for your leaf.
Relieve me
from treason.
On this unforseen occasion
words of you
on a leaf of paper
brought the aroma
of carnations,
the overthrow of suspicion.
In 74
were you a soldier,
a troubadour,
a minstrel of reveries?
23
I was
in 84
a basket of tales
a chalice of wine.
My breasts whole
my eyes trails.
A concubine
for life's frails.
In 84
I was
23.
Humberta Araújo
Thursday, February 23, 2006
Friday, February 10, 2006
Violence is killing the innocence in all of us/A violência está a destruir a inocência que ainda nos resta
Violence is destroying the way we perceive the world and others. The incidents in world - no where in the Koran is there a prohibition of using the prophet's image - is a glimpse of what the world has become. But we do not need to go far to feel and experiment violence: yesterday a mother and her two children were found dead in a basement apartment in Toronto partially beheaded. Her husband was arrested. Violence knows no ethnical boundaries, but it comes in many forms and shapes.
A violência está a destruir a forma como vemos o mundo e os outros. Os incidentes dos últimos dias - em lugar algum o Corãp proíbe a utilização de imagens do Profeta -são uma janela para o mundo de hoje. Mas não é necessário irmos para tão longe para sentir e experimentar vioência: ontem uma mãe e duas crianças menores, entre elas um bébé foram encontrados mortos, parcialmente degolados num apartamento em Toronto. O marido foi preso. A violência não conhece fronteiras. Mas ela surge de muitas formas e feitios.
Everyday violence strikes behind private doors. Often, violence come from men that most of us perceive as good and well established. This was not the case, however. Financial problems and domestic violence seem to have been a part of this couple's life for sometime. But violence is also growing in the schools, in the playgrounds, in night clubs, in sports. But violence is particularly worrisome among young people.
Todos os dias a violência ataca no domínio doméstico. Muitas vezes ela vem de homens considerados bons e bem estabelecidos na vida. Este não foi o caso desta mãe e dos seus dois filhos: problemas financeiros e violência doméstiva acompanhavam a vida desta família. Mas a violência está também a crescer nas escolas, nos recreios, nos estabelecimentos de divertimento nocturno, nos desportos. Mas a violência é particularmente confrangedora no seio da juventude.
How can we adress and treat this social desease? Is there a cure? Or is humanity initiating a path of total destruction. Are our souls suffering with the same intensity that the planet is suffering? Are we just one and the same - as many agree, as I do? Are we all experimenting our own decline? Are we going to self destruct to self cleanse? Give your opinion!
Como poderemos atacar esta doença social? Existe cura? Ou a humanidade iniciou um caminho de destruição total? Estarão as nossas almas sofrendo com a mesma itensidade do planeta? Seremos uma só entidade - como muitos concordam incluindo? Estaremos a viver o nosso próprio declínio? Iniciamos um processo de auto-destruição e como tal auto - rejuvenescimento? Dê a sua opinião!
Wednesday, February 08, 2006
"Os Açorianos devem orgulhar-se de Joe Silvey
José Silva – Joe Silvey - baleeiro do Pico
Faz história na Colúmbia Britânica
Humberta Araújo
Toronto
"The Remarkable Adventures of Portuguese Joe Silvey" e "Stanley Park's Secret" duas obras de interesse histórico para ter em conta por quem se interessa pela saga da emigração açoriana para o Canadá.
"The Remarkable Adventure of Portuguese Joe Silvey" publicada em 2004 é o primeiro trabalho de Jean Barman abordando a problemática da emigração açoriana para a Colúmbia Britânica. No prefácio desta obra escreve Manuel A. Azevedo: "Existe um provérbio português que diz que Deus está em todo o lado, mas os portugueses chegaram lá primeiro."
Uma interessante observação sobre o trabalho de uma investigadora canadiana que tem dedicado estes últimos anos à descoberta da herança portuguesa neste país. Joe Silvey (Silva) foi um dos primeiros pioneiros portugueses a chegar ao Canadá muito antes de 1867, o ano da Confederação à qual a Colúmbia Britânica se juntou em 1871.
O ano da publicação desta obra de Barman é também relevante para a história portuguesa neste pais: comemorava-se os 300 anos do primeiro carteiro, o português Pedro da Silva.
A história do picoense Joe Silvey iniciou-se durante a corrida ao ouro de 1858 na Colúmbia Britânica. Estes foram os anos em que a população não nativa cresceu do dia para a noite. As 1000 almas que habitavam a Colúmbia Britânica viram de um momento para o outro o seu lugar “inundado” por sonhadores à procura de riqueza. Em pouco tempo a população somava 20 000 pessoas. Todavia, o picoense Joe Silvey não encontrou fortuna no ouro mas encontrou uma esposa nativa da localidade que mais tarde ficaria conhecida por Vancouver. Silva casou então com Khaltinaht, neta do lendário chefe índio Kiapilano. Após o matrimónio, o casal partiu de canoa rumo a Point Roberts onde José Silva abriu um bar (saloon) e se dedicou à pesca. Viveu em Brockton Point, a actual Stanley Park, localidade onde acabaria por encontrar outros companheiros de língua entre eles o baleeiro Peter Smith, Joe Gonsalves e o primeiro polícia de Vancouver, Tomkins Brew. Todos eles, com excepção de Gonsalves, que permaneceu solteiro - casaram com mulheres aborígenes.
Algum tempo depois Silva ficava viúvo e com duas crianças. Acaba mais tarde por casar com outra mulher indígena – Kwahama kwatlematt (Lucy-Lucia) e juntos criam 11 filhos, na ilha Reid. José Silva nunca mais regressaria à sua terra Natal - o Pico. "The Remarkable Adventures of Portuguese Joe Silvey" contém ainda uma importante colecção fotográfica da baleação açoriana e canadiana e, uma relevante memória fotográfica da família Silvey.
"Stanley Park’s Secret" é outro trabalho que completa os esforços de Jean Barman para tornar viva a história portuguesa na Colúmbia Britânica. Esta é uma obra mais abrangente que recorda também as famílias esquecidas do Rancho kanaka, Brockton Point e Whoi Whoi.
Mas quem foi Joey Silvey?
José da Silva que renasce agora através do entusiasmo de Jean Barman e dos seus descendentes espalhados por diversas regiões da Colúmbia Britânica, era um baleeiro do Pico, que em 1850 chegou ao Canadá atraído pela febre do ouro. O ano do seu nascimento continua uma incógnita – 1830 ?.
“Mesmo o nome Joe encontra-se envolto em algum mistério. Originalmente o seu nome de família seria Silva. Mas porque não sabia escrever alguém teria de fazê-lo por ele. Sempre que necessário complementaria a assinatura com um X para comprovar a autenticidade do que estava a ser assinado. Documentos mais recentes mostram o seu nome escrito tal como seria ouvido: Silva, Silvy, Sílvia e Silver. Por vezes a mesma pessoa escrevia o seu nome de formas diferentes. É possível, mas não provável que alguns destes documentos se refiram a outras pessoas. O nome só gradualmente tomou a forma de Silvey,” escreve a propósito Jean Barman.
As memórias mais vividas de Joe Silvey surgem da boca da sua filha mais velha Elizabeth, que já em idade avançada, as revela ao arquivista da cidade de Vancouver, o Major J.S. Matthews. Os seus encontros tiveram lugar de Outubro de 1938 a Outubro de 1943. Um ano e meio depois Elizabeth falecia. A filha deste picoense tinha igualmente uma importante colecção de fotos que são agora parte dos arquivos da cidade de Vancouver. De acordo com os registos canadianos do casamento, Joe Silvey era filho de João e Francesca Hyacintha. No Pico, a infância de Silvey deve ter sido povoada por relatos de viagens para a América no “Morning Star”, um navio que regularmente empregava jovens do Pico. Esta teria sido a embarcação na qual Silvey navegou para as Américas. A extraordinária história de José Silva leva-nos a admitir a possibilidade de ele ser neto de um escocês chamado Simmons. Ainda de acordo com Barman existiu um capitão baleeiro que saiu de Massachusets durante os anos 50 do século XIX. Apesar do seu nome (possivelmente uma variante do português Simões), Simmons era português de nascimento.
Uma segunda versão da história liga o nome de Joe Silvey a um dos soldados enviados pela Inglaterra para Portugal em 1808 para combater os franceses durante as guerras Napoleónicas. Alguns soldados decidiram ficar pelos Açores. Assim se poderá falar de uma herança escocesa e do facto de Joe ter uma pele mais clara que a portuguesa. De acordo com um dos seus descendentes, quando um Silvey deixa crescer a barba, a sua cor é vermelha. O registo da família diz que Joe tinha os olhos azuis e o sue filho Henry, verdes. Esta herança, escreve Jean Barman referindo-se a um trabalho dos investigadores Davis, Gallman e Gleiter publicado em 1995, pode explicar as razões pelas quais num documento oficial de compra de terras em 1872, Joe terá dado como seu nome legal o de ‘Joseph Sílvia Seamans.’
Aos 12 anos Joe Silvey começava as suas aventuras. Entre 1840 e inícios de 1850 o seu pai João decide levar dois dos seus filhos para a faina da baleia. Joe jamais voltaria a ver a sua mãe nem a ilha do Pico.
A sua chegada ao Canadá é uma incógnita. O ano de 1860 é o mais plausível sendo aquele referido pelo próprio.
Faz história na Colúmbia Britânica
Humberta Araújo
Toronto
"The Remarkable Adventures of Portuguese Joe Silvey" e "Stanley Park's Secret" duas obras de interesse histórico para ter em conta por quem se interessa pela saga da emigração açoriana para o Canadá.
"The Remarkable Adventure of Portuguese Joe Silvey" publicada em 2004 é o primeiro trabalho de Jean Barman abordando a problemática da emigração açoriana para a Colúmbia Britânica. No prefácio desta obra escreve Manuel A. Azevedo: "Existe um provérbio português que diz que Deus está em todo o lado, mas os portugueses chegaram lá primeiro."
Uma interessante observação sobre o trabalho de uma investigadora canadiana que tem dedicado estes últimos anos à descoberta da herança portuguesa neste país. Joe Silvey (Silva) foi um dos primeiros pioneiros portugueses a chegar ao Canadá muito antes de 1867, o ano da Confederação à qual a Colúmbia Britânica se juntou em 1871.
O ano da publicação desta obra de Barman é também relevante para a história portuguesa neste pais: comemorava-se os 300 anos do primeiro carteiro, o português Pedro da Silva.
A história do picoense Joe Silvey iniciou-se durante a corrida ao ouro de 1858 na Colúmbia Britânica. Estes foram os anos em que a população não nativa cresceu do dia para a noite. As 1000 almas que habitavam a Colúmbia Britânica viram de um momento para o outro o seu lugar “inundado” por sonhadores à procura de riqueza. Em pouco tempo a população somava 20 000 pessoas. Todavia, o picoense Joe Silvey não encontrou fortuna no ouro mas encontrou uma esposa nativa da localidade que mais tarde ficaria conhecida por Vancouver. Silva casou então com Khaltinaht, neta do lendário chefe índio Kiapilano. Após o matrimónio, o casal partiu de canoa rumo a Point Roberts onde José Silva abriu um bar (saloon) e se dedicou à pesca. Viveu em Brockton Point, a actual Stanley Park, localidade onde acabaria por encontrar outros companheiros de língua entre eles o baleeiro Peter Smith, Joe Gonsalves e o primeiro polícia de Vancouver, Tomkins Brew. Todos eles, com excepção de Gonsalves, que permaneceu solteiro - casaram com mulheres aborígenes.
Algum tempo depois Silva ficava viúvo e com duas crianças. Acaba mais tarde por casar com outra mulher indígena – Kwahama kwatlematt (Lucy-Lucia) e juntos criam 11 filhos, na ilha Reid. José Silva nunca mais regressaria à sua terra Natal - o Pico. "The Remarkable Adventures of Portuguese Joe Silvey" contém ainda uma importante colecção fotográfica da baleação açoriana e canadiana e, uma relevante memória fotográfica da família Silvey.
"Stanley Park’s Secret" é outro trabalho que completa os esforços de Jean Barman para tornar viva a história portuguesa na Colúmbia Britânica. Esta é uma obra mais abrangente que recorda também as famílias esquecidas do Rancho kanaka, Brockton Point e Whoi Whoi.
Mas quem foi Joey Silvey?
José da Silva que renasce agora através do entusiasmo de Jean Barman e dos seus descendentes espalhados por diversas regiões da Colúmbia Britânica, era um baleeiro do Pico, que em 1850 chegou ao Canadá atraído pela febre do ouro. O ano do seu nascimento continua uma incógnita – 1830 ?.
“Mesmo o nome Joe encontra-se envolto em algum mistério. Originalmente o seu nome de família seria Silva. Mas porque não sabia escrever alguém teria de fazê-lo por ele. Sempre que necessário complementaria a assinatura com um X para comprovar a autenticidade do que estava a ser assinado. Documentos mais recentes mostram o seu nome escrito tal como seria ouvido: Silva, Silvy, Sílvia e Silver. Por vezes a mesma pessoa escrevia o seu nome de formas diferentes. É possível, mas não provável que alguns destes documentos se refiram a outras pessoas. O nome só gradualmente tomou a forma de Silvey,” escreve a propósito Jean Barman.
As memórias mais vividas de Joe Silvey surgem da boca da sua filha mais velha Elizabeth, que já em idade avançada, as revela ao arquivista da cidade de Vancouver, o Major J.S. Matthews. Os seus encontros tiveram lugar de Outubro de 1938 a Outubro de 1943. Um ano e meio depois Elizabeth falecia. A filha deste picoense tinha igualmente uma importante colecção de fotos que são agora parte dos arquivos da cidade de Vancouver. De acordo com os registos canadianos do casamento, Joe Silvey era filho de João e Francesca Hyacintha. No Pico, a infância de Silvey deve ter sido povoada por relatos de viagens para a América no “Morning Star”, um navio que regularmente empregava jovens do Pico. Esta teria sido a embarcação na qual Silvey navegou para as Américas. A extraordinária história de José Silva leva-nos a admitir a possibilidade de ele ser neto de um escocês chamado Simmons. Ainda de acordo com Barman existiu um capitão baleeiro que saiu de Massachusets durante os anos 50 do século XIX. Apesar do seu nome (possivelmente uma variante do português Simões), Simmons era português de nascimento.
Uma segunda versão da história liga o nome de Joe Silvey a um dos soldados enviados pela Inglaterra para Portugal em 1808 para combater os franceses durante as guerras Napoleónicas. Alguns soldados decidiram ficar pelos Açores. Assim se poderá falar de uma herança escocesa e do facto de Joe ter uma pele mais clara que a portuguesa. De acordo com um dos seus descendentes, quando um Silvey deixa crescer a barba, a sua cor é vermelha. O registo da família diz que Joe tinha os olhos azuis e o sue filho Henry, verdes. Esta herança, escreve Jean Barman referindo-se a um trabalho dos investigadores Davis, Gallman e Gleiter publicado em 1995, pode explicar as razões pelas quais num documento oficial de compra de terras em 1872, Joe terá dado como seu nome legal o de ‘Joseph Sílvia Seamans.’
Aos 12 anos Joe Silvey começava as suas aventuras. Entre 1840 e inícios de 1850 o seu pai João decide levar dois dos seus filhos para a faina da baleia. Joe jamais voltaria a ver a sua mãe nem a ilha do Pico.
A sua chegada ao Canadá é uma incógnita. O ano de 1860 é o mais plausível sendo aquele referido pelo próprio.
“OS AÇORIANOS DEVEM ORGULHAR-SE DE JOE SILVEY”
Jean Barman
Humberta Araújo – O seu interesse pelos açorianos na Colúmbia Britânica é sem dúvida uma referência obrigatória para a nossa história neste país. Porque se interessou por Joe Silvey?
Jean Barman –Tenho duas respostas para lhe dar. Uma tem um carácter geral a outra refere-se especificamente a Joe Silvey. Quanto mais escrevo sobre a história do Canadá e da Colúmbia Britânica (C.B.) mais interessada fico nas histórias que não são contadas. Uma mão cheia de homens importantes – políticos e de negócios – parece-me menos importante que todos aqueles que trabalharam duro e fizeram a diferença no dia a dia das comunidades em que se inseriram. A localização privilegiada da Colúmbia Britânica no Pacífico permitiu a chegada de muita gente por mar. A C.B. atraiu pessoas de todo o mundo que procuravam uma vida melhor. A verdade é que sabemos muito pouco destes indivíduos. A corrida ao ouro que se iniciou em 1858 permitiu a homens como Joe Silvey e Peter Smith (seu amigo que viveu no futuro Stanley Park) a possibilidade de tentar a sua sorte na C.B. Mesmo assim nunca abandonaram os valores de trabalho árduo e os recursos ensinados pelos seus pais quando eram crianças nos Açores. Pelo contrário, estes valores foram as bases para a construção de boas vidas e a sua preservação.
Pescaram da mesma forma que o teriam feito na sua terra de origem; respeitaram as suas mulheres e filhos, tal como o teriam feito nas suas terras de origem e, tinham hábitos de higiene que permitiram que os seus filhos chegassem a adultos e que tivessem famílias numerosas. O Canadá e a Colúmbia Britânica beneficiaram muito de Joes e Peters que cá chegaram de todo o mundo. Precisamos de valorizar os seus contributos para a sociedade canadiana.
The Amazing Adventures of Portuguese Joe Silvey só foi possível porque muitos dos seus descendentes quiseram partilhar das suas histórias dando-me autorização para as divulgar junto de outras pessoas, ao mesmo tempo que me davam coragem para escrever tudo sobre a sua família. Não teria conseguido por mim própria. Nem eu poderia ter a presunção de o conseguir sózinha.
Tudo começou há alguns anos atrás quando numa entrevista na rádio mencionei o nome de Joe Silvey. Após esta entrevista recebi uma carta de dois jovens, que viviam na remota costa norte, expressando satisfação por ouvirem alguém partilhar o seu sobrenome e mostrando vontade de saber mais. Munida da pouca informação de que dispunha na altura escrevi para eles a primeira versão de Amazing Adventures, o que explica o nome do livro. Alguns Silveys leram o trabalho, contaram-me histórias e pediram-me que preparasse uma segunda versão para ser apresentada durante uma reunião da família Silvey. Mais descendentes partilharam comigo as suas histórias e, um editor que na família tinha alguém casado com um dos Silvey resolveu apostar na sua publicação. O livro tornou-se num “bestseller”.
H.A. – Só por si a publicação deste livro é já uma aventura. Joe Silvey é portanto um homem com uma história de vida muito peculiar. O que tem ele de especial para si?
J.B.- Não penso que Joe foi único mas sim semelhante a muitos, muitos emigrantes dos Açores e de outras localidades, que não só deixaram uma sociedade e encontraram outra, como também trouxeram consigo os seus valores de vida. A história do Joe é a história dos Açores, tal como é a história do Canada e da Colúmbia Britânica. Uma das razões pelas quais gosto do Joe e da sua família prende-se com o facto dos Silvey serem pessoas honestas que não tinham medo de trabalhar para construír uma vida boa. Aqui na C.B., os descendentes do Sivey tiveram que enfrentar o racismo não só porque eram portugueses e não britânicos, como a sociedade dominante (por isso o nome de BRITISH Columbia!) mas e, sobretudo porque tiveram descendência aborígene. Todavia, os Silvey souberam preservar o seu nome e multiplicaram-se através das gerações. Desde que o livro foi publicado há um ano têm-me chegado nomes de novos descendentes que desconheciam por completo a maravilhosa história dos seus antepassados. Ainda a semana passada pus em contacto com a família Silvey alguém que por correio electrónico me perguntava sobre Joe. Esta pessoa está agora a traçar a sua própria história como um Silvey.
H.A. – Conseguiu realizar um trabalho admirável ressuscitando a vida e os tempos de Joe Silvey. Como caracteriza a sua vida numa perspectiva cultural luso-canadiana?
J.B. – Joe Silvey é um homem importante porque chegou aqui um século antes da maioria dos açorianos. Sabemos muito mais dos homens e das mulheres que vieram depois da II Guerra Mundial para áreas remotas do Ontário ou da Colúmbia Britânica, do que sabemos de homens como Joe Silvey, que escolheram o Canadá não através de programas assistidos de imigração, mas por si próprios. Em Janeiro deste ano fui convidada para uma conferência em Toronto após a qual muitas pessoas de idade vieram ter comigo para expressar o seu orgulho pelo facto de alguém como Joe ter chegado ao Canadá antes deles.
H.A. – Como foi aceite este seu trabalho na província?
The Amazing Adventures tornou-se num sucesso de vendas na Colúmbia Britânica. Esteve no top 10 durante mais de três meses e ainda continua nas vitrinas das livrarias. Quanto às razões para tal aceitação acho que se devem:
1º Aos descendentes dos Silvey que somam actualmente mais de mil;
2º Aos descendentes de outras famílias que se vêm retratadas nestas páginas;
3º Às famílias de pescadores e aos profissionais da pesca que gostam de ler sobre alguém que tal como eles amou o mar;
4º Para os homens que gostam de uma história de aventuras. Aliás, um dos críticos que leu o livro disse-me a propósito que esta era a primeira vez em muito tempo que alguém escrevia uma história para homens de verdade;
5º Aos amantes da história da Colúmbia Britânica.
6º Às pessoas com poucos hábitos de leitura que me dizem que este é um livro que podem seguir com facilidade dado o grande número de fotografias e porque foi escrito de uma forma simples – o que se deve em parte ao facto desta ter sido primeiro uma história para crianças.
7º E claro de uma forma muito directa às pessoas de descendência portuguesa que querem conhecer a sua história.
H.A – Stanley Park’s Secret é um outro trabalho que retrata Joe Silvey e outros homens dos Açores que viveram no local na época de Silvey. Porque continuou interessada na história portuguesa nesta província?
J.B. – Uma vez mais foi um descendente que me incentivou a escrever Stanley Park. Neste caso estamos a falar de Peter Smith que muito provavelmente mudou de nome para não ser apanhado, após ter fugido de um navio de pesca à baleia ou outra embarcação durante a corrida ao ouro. Os Smiths tal como os Silvey foram grandes apoiantes do meu trabalho durante as minhas pesquisas sobre as famílias de Stanley Park. Mas não só. O apoio tem também chegado de outras pessoas que ali viveram durante as suas infâncias ou cooperação da família Gonsalves, cuja origem remonta à ilha da Madeira. Uma das outras razões que me leva a interessar pelas raízes portuguesas no Canadá prende-se com o facto do meu marido ser um estudioso da história do Brazil. Já vivemos algum tempo no Rio de Janeiro e visitamos várias vezes Portugal. Por outro lado, na Universidade da Colúmbia Britânica sou professora de dois estudantes de origem açoriana com teses sobre a vida dos portugueses no Canadá. Estou agora com esperança de poder visitar os Açores. Já comprei dois livros e estou muito contente com esta possibilidade.
H.A. – Que mensagem gostaria de deixar aos açorianos que lerem esta entrevista?
J.B. – Todos os açorianos devem sentir orgulho de Joe Silvey. Peter Smith e de todos aqueles homens e mulheres dos Açores que na sua maioria, por razões económicas, construíram as suas vidas longe das ilhas, sem nunca esquecer as suas origens. Eles levaram consigo os Açores e tornaram-se por isso embaixadores de uma forma de vida que valorizava o trabalho honesto, higiene e fidelidade à família.
H.A. – O que acha da possibilidade de uma tradução para português do seu trabalho?
J.B. – Uma tradução para português deixar-me-ia muito feliz. Só gostaria que o meu português fosse suficientemente bom para o fazer. A história do Joe Silvey interessa ao povo dos Açores. É sempre muito fácil esquecer aqueles que de entre nós escolheram fazer uma vida noutro local. Os açorianos contribuíram muito para o desenvolvimento do Canadá, Estados Unidos e outros. Por tudo isso cada açoriano pode se sentir verdadeiramente orgulhoso. Muito obrigado pela oportunidade que me deu de partilhar estes meus pensamentos consigo.
Tuesday, February 07, 2006
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