Thursday, February 19, 2009

Cantou sim! Mas para portugueses




A cantora portuguesa Mariza parece ter uma missão na vida como artista: mostrar aos estrangeiros o Portugal de hoje. Um país de orgulho, de ricas tradições culturais e que em nada fica atrás dos outros. É este Portugal que a cantora se vê na “obrigação” de levar mais longe.
A artista também reco-nhece, que os portugueses talvez se venham a sentir um pouco magoados, com uma das suas verdades: «Eu não trabalho muito para as comunidades portuguesas».
E tal compreende-se, pois a artista não é só uma voz portuguesa acarinhada pelos portugueses a viver fora, moldados pela saudade. Mariza mostrou em Toronto ser sobretudo, um produto dos tempos em que vive moldados pela internacionalização da cultura e dos espaços que vai conhecendo, das vozes com as quais vai comungando melodias e de uma perspectiva nova, que passa por um Portugal a-berto, moderno.
Mariza é também o resultado da disciplina e da profissionalização fórmulas para vencer e para arrancar um lugar junto das me-lhores vozes da música internacional de hoje. Mariza é sem suspeita uma diva, que conhece os limites e os horizontes do "marketing", da imagem, da Internet e da globalização.
Foi para mim, como decerto para um Massey Hall cheio, uma noite para não esquecer.
Depois da entre-vista, o espectáculo. Um apreciar de diferentes fa-cetas da artista num palco maduro, onde foi possível reconhecer sons da grande comunidade de língua portuguesa, onde o fado foi mais além numa caminhda que se expande, levando consigo o sentir luso a outras paragens e bebendo delas outros horizontes e musicalidades.
Mas diga Mariza o que disser. Em Toronto, Mariza cantou para os portugueses, pois embora teimasse dirigir-se ao público em inglês, a língua era sem dúvida a portuguesa e o português, foi sem dúvida aquele público fiél que encheu o Masey Hall.

“A minha voz terá sempre fado”



Mariza esteve em Toronto, não para cantar para os portugueses - embora reconheça sejam uma presença carinhosa pelas cidades onde passa - mas para os locais. Assim tem sido nas suas tournées pelo estrangeiro. 
"Quero mostrar Portugal a outras culturas, mostrando que nós em nada somos pequenos, que Portugal tem muitos valores e muito para oferecer. Dar a conhecer este Portugal só se pode fazer mostrando-o ao público local». Depois do seu espectáculo em Toronto, a cantora portuguesa partiu para Chicago, para no dia seguinte regressar ao Canadá, para mais uma actuação em Montreal. O encontro da jornalista com a cantora deu-se no café de um hotel da baixa de Toronto. Visivelmente “perturbada” pelo frio, numa tarde em que começávamos, nós, a saborear uma brisa primaveril prematura, Mariza prosseguia a sua agenda de entrevistas. 
“A minha voz terá sempre fado porque eu cresci num bairro muito típico, o da Mouraria, onde toda a gente canta e, se não canta, tem uma forma de estar muito fadista”. Palavras da cantora, que assim se revela aos portugueses, nesta sua digressão à América do Norte, onde dá a conhecer o seu último trabalho discográfico “terra”.
“A minha alma terá sempre fado. Só que quanto mais viajo e muito mais conheço o mundo, mais a minha música se transforma”. 
“Quanto mais pessoas e culturas vejo, quanto mais músicos conheço e com quem trabalho, quanto mais tento entender o mundo à minha volta, mais sou influenciada como cantora, como pessoa e como mulher. Tal, acaba por aparecer na música que faço. Ela não fica estática, pois é uma música orgânica, uma música que tem movimento.”
Este um movimento que reflecte também as transformações por que Lisboa passa. “Ao mesmo tempo Lisboa é uma cidade que está em constante movimento, uma Lisboa que tem uma geração nova, enquanto ao mesmo tempo quer preservar a sua cultura e as suas tradições e mostrar que faz parte de um Portugal novo, de um mundo novo, de uma família nova. Neste processo mostra que em nada somos uma cultura menor. Em nada somos menores. Muito pelo contrário. Nós temos uma cultura muito rica, começando pelos nossos escritores, poetas pela nossa própria música e pelo fado que é um dos grandes representan-tes da nossa cultura.”
Um desabafo rico de quem não esquece também as suas raízes africanas. «Não tenho grande afinidade com a cultura africana…ainda. Espero poder mais tarde estudar melhor esta faceta. Mas acho que preciso crescer mais um bocadinho como pessoa, para começar a entender este meu outro lado, o lado das minhas raízes africanas. Afinal, saí de África com 3 anos. Toda a minha vida foi vivida em Lisboa, na Europa. Viajar significava ir para Espanha, França ou Alemanha. Pouco ou nada para o continente africano. Este é um processo de conhecimento que vai demorar um pouco para entender este lado das minhas raízes.» 
Quanto às comunidades a cantora é peremptória. «Olhe, tenho que ser muito sincera. Eu não trabalho muito para as comunidades portuguesas. Se calhar vão ficar um pouco zangados comigo, com certeza. Mas quando vou a uma cidade, como por exemplo a Toronto onde existe muitos portugueses, a comunidade aparece. O mesmo acontece quando vou a Franca, Suíça ou ao Luxemburgo. Mas normalmente eu trabalho para o público local. Obviamente, que adoro receber o público português, que é extremamente carinhoso, e educado que já tenta entender que o fado que canto tem uma personalidade muito própria, muito minha. Todavia, o que eu quero mesmo é mostrar Portugal a outras culturas, mostrando que nós em nada somos pequenos, que Portugal tem muitos valores e muito para dar. E isto só se pode fazer porque já conhecemos o que somos. Mostrar este Portugal só se pode fazer mostrando-o ao público local. E como trabalho normalmente com agentes locais, muitas vezes também não chega às comunidades que estou em determinados auditórios.» 
À derradeira e inevitável pergunta: «Considera-se uma fadista?»
A resposta seria categórica. Não! Sou uma cantora portuguesa!»

Amante da cultura e da língua portuguesas, Mariza vê com bons olhos um acordo, que unifica a língua portuguesa. «O acordo ortográfico teria que acontecer. A língua brasileira é neste momento muito mais forte que a nossa. Veja-se, por exemplo nos Grémios Latinos, onde já fui nomeada duas vezes. Se eu fosse brasileira talvez tivesse ganho. A música brasileira tem muito mais força, e é muito mais conhecida nestes mercados A música portuguesa não. Algumas coisas, que fazem parte do nosso português mais antigo, vamos perdê-las, com certeza. Mas por outro lado também vamos ganhar. 
Temos que olhar para as coisas sempre como um pau de dois bicos: um lado positivo e outro negativo. Também ganhamos muito porque pertencemos a uma língua que é falada por milhões de pessoas. E isto, para nós é extremamente importante. Este acordo dá uma dimensão à nossa língua, que vai ter impactos positivos, sem dúvida a nível económico e abrir portas à nossa cultura.»
O próximo passo?
«O concerto de amanhã.»

O último CD de Mariza «terra» contou com grandes nomes da música internacional, nomeadamente do cabo-verdiano Tito Paris, da afro-hispânica Concha Buka, do brasileiro Ivan Lins ao piano, assim como dos cubanos Chucho Valdês e Ivan Lewis, para além dos espanhóis Javier Limon na guitarra flamenga e Piraña percussionista. A tornar este um trabalho internacional há a registar a participação de Dominique Miller, guitarrista a trabalhar com o cantor inglês Sting, há duas décadas. De «Fado em Mim» editado em 2001, a « terra» vai um caminho de sete anos que sem dúvida traçam um caminho de maturação artística e abre uma porta para o delinear do futuro caminho da cantora. Ela própria o diz. «Em sete anos consecutivos de tournée internacional, além de levar a minha música, fui tendo contactos com culturas e estéticas diferentes. Fui ouvindo e entendendo. Fui assimilando até chegar aqui.» 
E se pretender apreciar esta nova etapa da cantora, nada melhor que ouvir «terra», caso de não ter tido a possibilidade de assistir a um espectáculo a não esquecer.

Humberta Araujo
Fotos: H.A.

Friday, January 23, 2009

"Nós somos muito individualistas"


A comunidade precisa de se unir

De malas feitas para Copenhaga, o embaixador de Portugal em Otava dá uma entrevista exclusiva ao CRA. Fomos encontrar João Pedro da Silveira Carvalho em Toronto na companhia dos deputados portugueses na Organização para a Cooperação e Segurança Europeia e do presidente da Assembleia Parlamentar João Soares, aquando da última reunião da OSCE. 
Para substituir Silveira Carvalho o governo escolheu Moutinho de Almeida, que desempenhava as funções de cônsul geral em Macau. Neste seu adeus aos portugueses no Canadá, Silveira de Carvalho faz um balanço do que foram as suas prioridades junto da comunidade e faz uma análise do estado da comunidade, que considera ainda aquém das suas capacidades, em parte porque os portugueses não trabalham em equipa. "Nós somos muito individualistas. Nós não somos educados para um trabalho de grupo e isso tem as suas consequências." Da sua permanência na província do Ontário, o Embaixador faz um balanço positivo e realça aquelas que foram algumas das suas prioridades. 

João Pedro da Silveira Carvalho -"A minha primeira prioridade foi ajudar a comunidade a participar cívica e politicamente. Para isso e, passados 15 dias depois da minha chegada a Otava em 2003, reuni em Toronto com os diferentes membros da comunidade, que já tinham alguma experiência política, nomeadamente na Câmara Municipal e outros que já se tinham candidatado, mas que não tinham sido eleitos. Este encontro surgiu no sentido de encorajar a comunidade a uma maior participação. O balanço é bom. Espero ainda que nestas próximas eleições a comunidade portuguesa consiga ter mais eleitos de origem portuguesa. Porém, já conseguimos na realidade pela primeira vez ter um deputado ao nível federal. Temos actualmente dois a nível provincial aqui no Ontário. Neste sentido e em termos de participação política já algum passo foi dado durante esta minha permanência aqui.
Esta foi a minha primeira prioridade. A segunda foi a da criação de um "lobby" económico na comunidade. Foi meu intuíto reunir com a Federação dos Empresários, e a Academia do Bacalhau onde estão muitos empresários e profissionais portugueses. Vim encontrar-me com eles porque acho que a comunidade tem que influenciar as decisões a partir da criação de um "lobby" o que só vai ser possível quando para os canadianos for evidente que os portugueses representam alguma coisa de relevante economicamente neste país. Nesta ordem de ideias tentei reavivar a antiga Câmara do Comércio de Toronto, cuja patente está com a Federação. Infelizmente não consegui este objectivo".

HA – Portanto e de acordo com o seu ponto de vista, parte do insucesso de algumas iniciativas deve-se ao facto da comunidade não se ter apercebido da importância da criação deste tipo de grupo de pressão?
JPSC -  "Mesmo a criação de uma representação política, que não tenha por trás de si algum apoio financeiro é muito difícil de se manter. A comunidade tem de entender que esta é a única forma da mesma vir a ter no Canadá uma maior exposição e reconhecimento. Os portugueses são reconhecidos como trabalhadores, honestos, mas nós temos que subir um degrau. E este degrau é o degrau da cidadania. Para isso necessitamos de mais pessoas eleitas; temos que ser visíveis para os canadianos, mostrando que temos algum poder económico. Temos que ter uma participação cívica activa, pois só assim a nossa comunidade pode mostrar aquilo a que tem direito, face ao número de pessoas que somos e ao nível de desenvolvimento que já atingimos."

HA - Os portugueses que emigraram nunca foram indivíduos de grande participação cívica e política. Acha que só a educação dos mais novos poderá contribuir para a mudança do "status quo"?
JPSC- "Toca aí num aspecto que também sempre foi minha preocupação. Em todas as oportunidades que tive sempre pedi aos pais que levassem os filhos o mais longe possível na educação. Porque só assim conseguiremos que as gerações mais novas tenham acesso ao poder decisório no Canadá. Nós não podemos adiar esta filosofia. Provavelmente já antes de mim este esforço deveria ter sido feito no sentido de apoiar a comunidade. O embaixador, os cônsules não têm que fazer uma política sua. Temos sim que apoiar a comunidade para que ela alcance os objectivos que ela definiu como os seus próprios. Eu tentei apoiar a comunidade nestes sectores, nomeadamente o da educação. Foi sempre um dos aspectos que eu referi nas minhas mensagens. Eu sei que é fácil aliciar os jovens a ganharem uns dólares, ajudando os pais. Acho esta atitude compreensível. E esta é a experiência portuguesa. Mas alertei as famílias para o facto de os filhos ao abandonarem os estudos muito cedo deixam de ter capacidade de alcançar postos de trabalho mais qualificados.

Língua portuguesa

HA- Um outro assunto que sempre preocupou o embaixador foi o da protecção e promoção da língua portuguesa
JPSC - A comunidade é que verdadeiramente tem mantido o português vivo. A verdade é essa, nomeadamente o associativismo a quem manifesto o meu agrado pelo trabalho desenvolvido na conservação da cultura e das tradições, mas também da língua, porque elas são o espaço onde se fala o português. Aqui no Canadá vim aperceber-me de um facto muito curioso: apesar de muitas vezes os pais falarem com os filhos em inglês, os jovens não se importam de comunicar com os avós em português. Esta é uma forma muito curiosa dos jovens manterem a língua.

HA - O ensino da língua portuguesa no sistema escolar oficial do Ontário persiste nomeadamente através dos programas de línguas internacionais. Acha que o governo português deveria apoiar estes programas provinciais?
JPSC- Para lhe ser totalmente sincero acho que Portugal deve apoiar qualquer programa que vise a preservação da língua no Canadá ou em qualquer país onde haja comunidades portuguesas. A nova política que o governo quer implementar ainda não é totalmente conhecida no que diz respeito ao ensino no estrangeiro. Como se recorda, vários governos anteriores a este anunciaram medidas de apoio para as associações que ensinassem português, para além de outras medidas, as quais nunca viram a luz do dia. Por consequência, e desconhecendo o conteúdo da nova política, não me quero pronunciar sobre como esta política se poderia articular com os conselhos executivos das escolas onde se ensina a língua portuguesa no Ontário.”

Comunidade dividida

HA - Apesar de já cá estarmos há cinquenta anos a verdade é que a nossa visibilidade pode ainda ser considerada diminuta. Qual a sua opinião?
JPSC – "A visibilidade da comunidade tem sofrido por causa da falta de união entre os portugueses da comunidade. Para lhe ser franco e do meu ponto de vista os portugueses no Canadá são como todos os portugueses em qualquer parte do mundo. 
Nós somos muito individualistas. Nós não somos educados para um trabalho de grupo e isso tem as suas consequências. Cada um vai para seu lado e assim é difícil sermos uma equipa. Tentei aqui muito mudar esta mentalidade e sobretudo ao nível económico. 
Eu posso dizer que vi imensos empresários e todos estiveram sempre disponíveis para falar comigo. O encontro em que eu reuni mais pessoas só consegui oito, num imenso universo de portugueses de sucesso e capazes. Mas estes pequenos problemas existentes entre uns e outros só prejudicam. 
A questão educacional também não ajuda. Infelizmente, esta é uma herança também. Em Portugal nunca fomos educados para formarmos uma equipa e de percebermos que como equipa conseguimos obter resultados mais duradoiros do que ao nível individual. Somos muito individualistas e muito donos do nosso próprio sucesso. Não partilhamos com os outros."
HA - Acredita que esta forma de ser tem também impacto negativo nas gerações mais jovens?
JPSC - "É o sangue que nos corre nas veias."

HA - Fale-nos um pouco do seu futuro profissional?
JPSC - "Eu vou para embaixador de Portugal em Copenhaga. Vai ser um passo estimulante, apesar de ter sido uma actividade que já fiz na Irlanda.
Não terei uma comunidade portuguesa como aqui, pois o número de portugueses é muito restrito. Vou sobretudo acompanhar os dossiers da União Europeia, algo do qual tenho algum conhecimento porque fui Director-Geral para a União Europeia na anterior presidência portuguesa. Para me substituir vai ser transferido de Macau o cônsul Moutinho de Almeida."

“Este foi um grande momento que vivemos em Toronto”



Toronto foi palco de uma importante reunião internacional no passado mês de Setembro que trouxe a esta cidade diversos parlamentares membros da OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação na Europa e, cujo presidente do seu parlamento é o português João Soares, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa e filho de Mário Soares. 
A OSCE é um organismo que promove o diálogo e a cooperação entre estados e, dela fazem parte parlamentares de 56 países. Nesta reunião o tema central foi o conflito entre a Federação Russa e a Georgia. “Um encontro positivo pois foi o primeiro do género depois do início dos confrontos de Agosto". 
João Soares, que foi eleito para o cargo em Julho, é uma cara bastante conhecida dos emigrantes, pois entre outros foi presidente da municipalidade lisboeta, uma cidade muito querida para os emigrantes no Canadá. E a emigração não é um tema ao qual esteja alheio. 
“Temos que ter orgulho nas comunidades que temos espalhadas pelo mundo”, disse João Soares.
O tema desta reunião de Outono centrou-se em torno da “OSCE num Mundo sem Fronteiras: Comércio, Segurança e Migração”. A dimensão mediterrânica da OCDE, a economia, meio ambiente, direitos humanos, migração foram outros dos muitos temas do encontro. Na ordem do dia esteve contudo a crise na Geórgia. Com representantes da Federação Russa e membros do governo da Geórgia, nomeadamente a ministra dos Negocios Estrangeiros Eka Tkeshelashvili e membros da oposição da Geórgia, este foi o primeiro debate entre as partes desde o conflito iniciado no dia 8 de Agosto. 
Em declarações exclusivas ao Nove Ilhas, João Soares mostrou-se satisfeito pela forma como decorreram os trabalhos. “Pela primeira vez depois do conflito ambas as partes puderam trocar ideias e todos os parlamentares tiveram oportunidade de apoiar no esclarecimento da situação”. Posições diferentes e de certo modo cautelosas ouviram-se sobre este conflito, que para muitos marca o ressurgimento de atitudes imperialistas por parte da Rússia, que acusa a Geórgia de ter sido o motor do conflito.
De acordo com um relatório de um grupo internacional de observadores “no dia 7 de Agosto de 2008 os militares da Geórgia usaram força indiscriminadamente e de forma desproporcional resultando na morte de civis no sul da Ossetia. Os militares russos desde então têm usado força de forma indiscriminada no Sul da Ossetia e no distrito de Gori e aparentemente têm escolhido como alvos comboios de civis que tentam fugir das zonas de conflito”.
A iniciar o seu mandato como presidente da Assembleia Parlamentar, a OSCE e João Soares viram-se assim confrontados com o acordar de um dos chamados “frozen conflicts-conflitos congelados” naquela região.
“O quadro de responsabilidade que é o meu e que resulta da eleição de Julho passado é o de Organização de Segurança e Cooperação na Europa na sua vertente parlamentar. Estamos a falar de 56 países de Vancouver a Vladivostok, um território vastíssimo. Estamos a falar da mais larga organização de cooperação e segurança regional que existe no mundo logo a seguir às Nações Unidas. As questões que este território se confronta são conhecidas e, têm a ver com três grandes áreas onde tem havido problemas: os Balcãs, o Caucaso e a Ásia Central. Desta vez fomos confrontados com uma situação inesperada num dos chamados conflitos congelados do Caucaso.” Para João Soares está hoje “razoavelmente apurado” que a primeira iniciativa neste confronto numa escala convencional foi da parte da Georgia que deu origem a uma resposta por parte da Rússia. 

“Alguma coisa de muito substancial já foi conseguida que é o cessar fogo. Há um quadro negocial, onde acho que eu tenho tido um papel muito importante, que passa pela colocação de observadores no terreno e nos territórios da Ossetia e da Abkhasia.” Recorde-se igualmente que por iniciativa do actual chefe de estado francês e presidente da União Europeia, Nicolas Sarkosy negociou com a Rússia a colocação de 200 monitores-observadores da União Europeia na fronteira entre a Georgia e a Ossetia do Sul e Abkhasia. Tal representa, segundo Soares “ um reconhecimento “de facto” da independência destes dois territórios e traz um contributo da UE na fiscalização dessas fronteiras.” 
Nesta ordem de ideias, João Soares salienta que o papel da OSCE é muito mais numa lógica de intervenção no terreno dentro destes territórios. Para o presidente do parlamento vai continuar a existir jogos de força no plano internacional entre quem reconheceu a independência destes territórios e não se viu acompanhado. Existe “um factor de complexidade adicional com o facto da Rússia ter reconhecido a independência destes territórios e, com a imposição que começa a ser feita por parte da Russia de que as autoridades da Ossetia do Sul e da Abkhasia sejam também ouvidas em tudo quanto tem a ver com estes rterritórios”. 

Para quem esteve presente nos trabalhos foi patente o apelo de todos os parlamentares de dentro e fora da região para a necessidade de diálogo para que as populações não sofram mais.
“Algum diálogo já começou aqui em Toronto. Nestas coisas o caminho faz-se caminhando e à medida que se vão dando os passos é que se consegue estar mais próximo daquilo que são os nossos objectivos que é a segurança e a cooperação numa região tão vasta da Europa. Quando se promove o diálogo como se promoveu aqui cria-se uma oportunidade para que as pessoas e as diferentes posições sejam ouvidas. Este foi um grande momento que aqui vivemos e único desde que o conflito começou nunca as partes tinham estado juntas nestas condições. 
Esta reunião em Toronto, cujo anfitrião foi o Parlamento Federal, contou com a presença de um número recorde de parlamentares: cerca de duzentos representantes de 49 países da OSCE. 

Lisboa de hoje
Agora em Copenhaga, João Soares reserva um espaço especial para a sua Lisboa que é também a cidade de muitos emigrantes no Canadá. “Lisboa continua a ser uma das cidades mais lindas do mundo e tem muitas semelhanças com Toronto no sentido que é também uma cidade cosmopolita, onde se encontram várias comunidades vindas de muitos pontos do mundo. Evidentemente que para todos nós portugueses sermos do continente ou das regiões autonomas Lisboa é sempre uma referência maior da nossa terra. Já não tenho responsabilidades em Lisboa. É um capítulo que encerrei do ponto de vista pessoal, mas continuo a ser um lisboeta cada vez mais apaixonado pela minha cidade.”



Valorizar a emigração 
“Eu acho que este governo está a fazer um eforço significativo no sentido de valorizar o papel que a emigração sempre desempenhou ao longo da nossa história. Nós sempre fomos um país de emigrantes mas agora somos tambem de imigrantes. Temos que ter orgulho nas comunidades que temos espalhadas pelo mundo. A única vez que vim a Toronto foi na década de 80 a convite da Casa do Alentejo. Não esqueço este convite pelo qual estou muito grato. E sempre que me desloco a qualquer país do mundo faço sempre questão de visitar as nossas comunidades”, disse ainda ao Nove Ilhas João Soares.
Fizeram parte da delegação portuguesa nesta reunião da OSCE os deputados António Almeida Henriques, Maria Antónia Almeida Santos, Luis Campos Ferreira, Osvaldo Castro, Jorge Morgado, Isabel Pires de Lima e José Soeiro e Nuno Paixão do secretariado.

Entrevista e fotos:
Humberta Araújo

O Trabalho do Bom Pastor no Quebeque


Não sou indiferente à instituição do Bom Pastor. Desde muito jovem, que ouvi falar do Bom Pastor, que durante algum tempo, cuidou de uma familiar minha, em S. Miguel. Na década de noventa, vi-me de novo transportada para o mundo do Bom Pastor, aquando das filmagens de “Gente Feliz com Lágrimas”. O edifício do Bom Pastor foi o palco escolhido pela RTP/A para a adaptação da obra do escritor açoriano João de Melo, na qual tive o prazer de interpretar um pequeno papel. Para além da experiência de contracenar com o colega e realizador Zeca Medeiros, tive a oportunidade de conhecer de perto o belo imóvel do Bom Pastor. Os seus quartos, os jardins abandonados, os fornos, a lavandaria, os seus corredores e as suas belas janelas. No seu todo, davam uma imagem, ainda que diminuta, do que teria sido a vida naquele imóvel durante os seus anos de ouro.
O Bom Pastor veio de novo ao meu encontro numa recente visita que efectuei à cidade do Quebeque, sem dúvida a jóia da coroa canadiana. Para além da beleza extraordinária da cidade, onde é possível descobrir em cada esquina o orgulho, o patriotismo e o amor dos franceses do Quebeque, a velha cidade descobre-se por entre um intrincado de histórias da História que fazem este país. 
A existência de um museu dedicado à obra do Bom Pastor no Quebeque, foi uma admirável descoberta, que não só me permitiu uma ligação emocional à instituição nas ilhas, mas abriu -me uma janela para o real conhecimento do Quebeque do século XIX. A vida e obra da sua fundadora Marie-Josephte Fitzbach (com alguns paralelos a Teresa da Anunciada e o Convento da Esperança em Ponta Delgada) - ambas com um dossier no Vaticano para beatificação – centraram-se sobretudo no trabalho junto das prostitutas, que abundavam numa localidade devastada pela pobreza, incêndios, mercadores, marinheiros e imigrantes. Este trabalho estendeu-se inevitavelmente ao apoio a mães solteiras e presidiárias. A missão de apoiar “mulheres” perdidas contou com a oposição de alguns dos mais importantes nomes da vida pública da época, alguns membros da Sociedade São Vicente de Paula. Mas foi apadrinhada por um visionário e membro da sociedade: George Mainly Muir. Entre 1850 e 1860 o seu esforço levou à criação de algumas infraestruturas de apoio às mulheres: casas de abrigo e uma prisão. Marie Fitzbach ficou responsável pela gestão destes serviços, criando a instituição do Bom Pastor em Quebeque. A sua figura é hoje venerada na província e, são hoje muitos os milagres, atribuídos a Marie Fitzbach. Para além desta dimensão religiosa, Quebeque tem ainda a agradecer ao Bom Pastor e às mulheres que serviram a comunidade, o grande número de edifícios históricos construidos e utilizados pela instituição, hoje riqueza patrimonial do país. 
Neste pequeno contributo do NI ao Bom Pastor, fica um agradecimento especial à irmã Claudette Ledet, responsável pelo Museu e uma guardiã deste património de valor inegável. Ainda hoje o 14 da rua Couillard, no Velho Quebeque apoia mulheres e idosos, cumprindo a missão instituída pela sua fundadora. O Bom PAstor do Quebeque tem hoje uma presença forte no continente africano e Brasil.
H.Araujo

Banif/Açores "Poupanças

"Os Emigrantes podem estar descansados “Somos um banco conservador e por isso as poupanças estão seguras.Pelas garantias intrínsecas do funcionamento e do conhecimento que temos da nossa organização os emigrantes podem confiar que as suas poupanças estão garantidas. Poupanças que estão igualmente seguras na sequência da garantia total dada pelo estado português sobre todo o sistema financeiro em Portugal.” 
Esta a certeza dada em Toronto pelo responsável da Unidade de Negócios do Banif, que nesta cidade encetou contactos directos com a comunidade portuguesa. A emigração desde sempre representou uma parcela importante para os negócios bancários. Representações históricas continuaram a relação entre o emigrante e o país de origem. Uma destas instituições bancárias foi a BCA, que após a privatização passou a chamar-se BANIF e que junto da comunidade açoriana ficou conhecido como o BANIF/ Açores. A representação do BCA-BANIF Açores "para conhecer melhor os seus clientes" deslocou-se ainda a várias representações do BANIF na América do Norte. 

H.Araujo