Toronto foi palco de uma importante reunião internacional no passado mês de Setembro que trouxe a esta cidade diversos parlamentares membros da OSCE – Organização para a Segurança e Cooperação na Europa e, cujo presidente do seu parlamento é o português João Soares, ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa e filho de Mário Soares.
A OSCE é um organismo que promove o diálogo e a cooperação entre estados e, dela fazem parte parlamentares de 56 países. Nesta reunião o tema central foi o conflito entre a Federação Russa e a Georgia. “Um encontro positivo pois foi o primeiro do género depois do início dos confrontos de Agosto".
João Soares, que foi eleito para o cargo em Julho, é uma cara bastante conhecida dos emigrantes, pois entre outros foi presidente da municipalidade lisboeta, uma cidade muito querida para os emigrantes no Canadá. E a emigração não é um tema ao qual esteja alheio.
“Temos que ter orgulho nas comunidades que temos espalhadas pelo mundo”, disse João Soares.
O tema desta reunião de Outono centrou-se em torno da “OSCE num Mundo sem Fronteiras: Comércio, Segurança e Migração”. A dimensão mediterrânica da OCDE, a economia, meio ambiente, direitos humanos, migração foram outros dos muitos temas do encontro. Na ordem do dia esteve contudo a crise na Geórgia. Com representantes da Federação Russa e membros do governo da Geórgia, nomeadamente a ministra dos Negocios Estrangeiros Eka Tkeshelashvili e membros da oposição da Geórgia, este foi o primeiro debate entre as partes desde o conflito iniciado no dia 8 de Agosto.
Em declarações exclusivas ao Nove Ilhas, João Soares mostrou-se satisfeito pela forma como decorreram os trabalhos. “Pela primeira vez depois do conflito ambas as partes puderam trocar ideias e todos os parlamentares tiveram oportunidade de apoiar no esclarecimento da situação”. Posições diferentes e de certo modo cautelosas ouviram-se sobre este conflito, que para muitos marca o ressurgimento de atitudes imperialistas por parte da Rússia, que acusa a Geórgia de ter sido o motor do conflito.
De acordo com um relatório de um grupo internacional de observadores “no dia 7 de Agosto de 2008 os militares da Geórgia usaram força indiscriminadamente e de forma desproporcional resultando na morte de civis no sul da Ossetia. Os militares russos desde então têm usado força de forma indiscriminada no Sul da Ossetia e no distrito de Gori e aparentemente têm escolhido como alvos comboios de civis que tentam fugir das zonas de conflito”.
A iniciar o seu mandato como presidente da Assembleia Parlamentar, a OSCE e João Soares viram-se assim confrontados com o acordar de um dos chamados “frozen conflicts-conflitos congelados” naquela região.
“O quadro de responsabilidade que é o meu e que resulta da eleição de Julho passado é o de Organização de Segurança e Cooperação na Europa na sua vertente parlamentar. Estamos a falar de 56 países de Vancouver a Vladivostok, um território vastíssimo. Estamos a falar da mais larga organização de cooperação e segurança regional que existe no mundo logo a seguir às Nações Unidas. As questões que este território se confronta são conhecidas e, têm a ver com três grandes áreas onde tem havido problemas: os Balcãs, o Caucaso e a Ásia Central. Desta vez fomos confrontados com uma situação inesperada num dos chamados conflitos congelados do Caucaso.” Para João Soares está hoje “razoavelmente apurado” que a primeira iniciativa neste confronto numa escala convencional foi da parte da Georgia que deu origem a uma resposta por parte da Rússia.
“Alguma coisa de muito substancial já foi conseguida que é o cessar fogo. Há um quadro negocial, onde acho que eu tenho tido um papel muito importante, que passa pela colocação de observadores no terreno e nos territórios da Ossetia e da Abkhasia.” Recorde-se igualmente que por iniciativa do actual chefe de estado francês e presidente da União Europeia, Nicolas Sarkosy negociou com a Rússia a colocação de 200 monitores-observadores da União Europeia na fronteira entre a Georgia e a Ossetia do Sul e Abkhasia. Tal representa, segundo Soares “ um reconhecimento “de facto” da independência destes dois territórios e traz um contributo da UE na fiscalização dessas fronteiras.”
Nesta ordem de ideias, João Soares salienta que o papel da OSCE é muito mais numa lógica de intervenção no terreno dentro destes territórios. Para o presidente do parlamento vai continuar a existir jogos de força no plano internacional entre quem reconheceu a independência destes territórios e não se viu acompanhado. Existe “um factor de complexidade adicional com o facto da Rússia ter reconhecido a independência destes territórios e, com a imposição que começa a ser feita por parte da Russia de que as autoridades da Ossetia do Sul e da Abkhasia sejam também ouvidas em tudo quanto tem a ver com estes rterritórios”.
Para quem esteve presente nos trabalhos foi patente o apelo de todos os parlamentares de dentro e fora da região para a necessidade de diálogo para que as populações não sofram mais.
“Algum diálogo já começou aqui em Toronto. Nestas coisas o caminho faz-se caminhando e à medida que se vão dando os passos é que se consegue estar mais próximo daquilo que são os nossos objectivos que é a segurança e a cooperação numa região tão vasta da Europa. Quando se promove o diálogo como se promoveu aqui cria-se uma oportunidade para que as pessoas e as diferentes posições sejam ouvidas. Este foi um grande momento que aqui vivemos e único desde que o conflito começou nunca as partes tinham estado juntas nestas condições.
Esta reunião em Toronto, cujo anfitrião foi o Parlamento Federal, contou com a presença de um número recorde de parlamentares: cerca de duzentos representantes de 49 países da OSCE.
Lisboa de hoje
Agora em Copenhaga, João Soares reserva um espaço especial para a sua Lisboa que é também a cidade de muitos emigrantes no Canadá. “Lisboa continua a ser uma das cidades mais lindas do mundo e tem muitas semelhanças com Toronto no sentido que é também uma cidade cosmopolita, onde se encontram várias comunidades vindas de muitos pontos do mundo. Evidentemente que para todos nós portugueses sermos do continente ou das regiões autonomas Lisboa é sempre uma referência maior da nossa terra. Já não tenho responsabilidades em Lisboa. É um capítulo que encerrei do ponto de vista pessoal, mas continuo a ser um lisboeta cada vez mais apaixonado pela minha cidade.”
Valorizar a emigração
“Eu acho que este governo está a fazer um eforço significativo no sentido de valorizar o papel que a emigração sempre desempenhou ao longo da nossa história. Nós sempre fomos um país de emigrantes mas agora somos tambem de imigrantes. Temos que ter orgulho nas comunidades que temos espalhadas pelo mundo. A única vez que vim a Toronto foi na década de 80 a convite da Casa do Alentejo. Não esqueço este convite pelo qual estou muito grato. E sempre que me desloco a qualquer país do mundo faço sempre questão de visitar as nossas comunidades”, disse ainda ao Nove Ilhas João Soares.
Fizeram parte da delegação portuguesa nesta reunião da OSCE os deputados António Almeida Henriques, Maria Antónia Almeida Santos, Luis Campos Ferreira, Osvaldo Castro, Jorge Morgado, Isabel Pires de Lima e José Soeiro e Nuno Paixão do secretariado.
Entrevista e fotos:
Humberta Araújo
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