Friday, January 23, 2009

O Trabalho do Bom Pastor no Quebeque


Não sou indiferente à instituição do Bom Pastor. Desde muito jovem, que ouvi falar do Bom Pastor, que durante algum tempo, cuidou de uma familiar minha, em S. Miguel. Na década de noventa, vi-me de novo transportada para o mundo do Bom Pastor, aquando das filmagens de “Gente Feliz com Lágrimas”. O edifício do Bom Pastor foi o palco escolhido pela RTP/A para a adaptação da obra do escritor açoriano João de Melo, na qual tive o prazer de interpretar um pequeno papel. Para além da experiência de contracenar com o colega e realizador Zeca Medeiros, tive a oportunidade de conhecer de perto o belo imóvel do Bom Pastor. Os seus quartos, os jardins abandonados, os fornos, a lavandaria, os seus corredores e as suas belas janelas. No seu todo, davam uma imagem, ainda que diminuta, do que teria sido a vida naquele imóvel durante os seus anos de ouro.
O Bom Pastor veio de novo ao meu encontro numa recente visita que efectuei à cidade do Quebeque, sem dúvida a jóia da coroa canadiana. Para além da beleza extraordinária da cidade, onde é possível descobrir em cada esquina o orgulho, o patriotismo e o amor dos franceses do Quebeque, a velha cidade descobre-se por entre um intrincado de histórias da História que fazem este país. 
A existência de um museu dedicado à obra do Bom Pastor no Quebeque, foi uma admirável descoberta, que não só me permitiu uma ligação emocional à instituição nas ilhas, mas abriu -me uma janela para o real conhecimento do Quebeque do século XIX. A vida e obra da sua fundadora Marie-Josephte Fitzbach (com alguns paralelos a Teresa da Anunciada e o Convento da Esperança em Ponta Delgada) - ambas com um dossier no Vaticano para beatificação – centraram-se sobretudo no trabalho junto das prostitutas, que abundavam numa localidade devastada pela pobreza, incêndios, mercadores, marinheiros e imigrantes. Este trabalho estendeu-se inevitavelmente ao apoio a mães solteiras e presidiárias. A missão de apoiar “mulheres” perdidas contou com a oposição de alguns dos mais importantes nomes da vida pública da época, alguns membros da Sociedade São Vicente de Paula. Mas foi apadrinhada por um visionário e membro da sociedade: George Mainly Muir. Entre 1850 e 1860 o seu esforço levou à criação de algumas infraestruturas de apoio às mulheres: casas de abrigo e uma prisão. Marie Fitzbach ficou responsável pela gestão destes serviços, criando a instituição do Bom Pastor em Quebeque. A sua figura é hoje venerada na província e, são hoje muitos os milagres, atribuídos a Marie Fitzbach. Para além desta dimensão religiosa, Quebeque tem ainda a agradecer ao Bom Pastor e às mulheres que serviram a comunidade, o grande número de edifícios históricos construidos e utilizados pela instituição, hoje riqueza patrimonial do país. 
Neste pequeno contributo do NI ao Bom Pastor, fica um agradecimento especial à irmã Claudette Ledet, responsável pelo Museu e uma guardiã deste património de valor inegável. Ainda hoje o 14 da rua Couillard, no Velho Quebeque apoia mulheres e idosos, cumprindo a missão instituída pela sua fundadora. O Bom PAstor do Quebeque tem hoje uma presença forte no continente africano e Brasil.
H.Araujo

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