Mãe que ficaste guarda-me o mundo…
Humberta Araújo
Doces foram os nossos contados dias,
Os trigais doirados a perder de vista.
Ternos e meigos eram os teus beijos,
Nas noites das nossas caladas vidas.
Mas o dia veio tirar da fome fria
Os nossos corpos vazios de nada
Deixas-te a casa, o peito, o porto
Perduramos na pergunta calada.
Filhas ficamos de mães angustiadas
Nas nossas casas, cartas, branca espuma
Saudades de um tempo absorto
Entre a ribeira, o forno, a igreja.
Um dia a carta de chamada,
um arrocho na alma profundo,
os adeuses, a terra, uma mala de prantos
fomos cegas de olhos de bruma.
Num enlace de xailes com cheiro de ilha
embarcamos num pássaro de cartas
Choramos em terra alheia
Falamos numa língua sem fado.
Mãe que esta nova terra tem seios fartos
Úteros que brotam promessas sem fundo.
Mãe que ficas onde os horizontes são parcos
Guarda-me uma broa, uma ribeira, o mundo!
12 comments:
O Poema é lindo. Como não posso comentar sem ser blogger, aqui vai o meu registo
Confesso que não gosto muito de poesia, mas normalmente acabo por ler sempre os que aparecem no Cunnus Reborn Azores.
Melhores cumprimentos
Marisa P Fagundes Pereira
Marisa
Muito obrigado pelas suas palavras. Aliás, não imagina a importância que elas têm para quem escreve. Isto porque se o brincar com as palavras diz algo a alguém que normalmente não aprecia poesia, é porque a poesia está definitivamente a cumprir o seu papel e, em última análise, estou eu a cumprir o meu. Utilizar um dom para tornar o mundo das palavras mais acessível e assim, não deixar no esquecimento realidades, vidas e sentimentos parece-me uma dádiva que precisa de ser alimentada. Talvez um contributo para fazer o mundo um pouco melhor e talvez fazer alguma justiça.
Obrigado
Humberta
Bom dia Humberta, como escreves bem...este tocou-me especialmente, talvez por serem as nossas Mães.
Beijinhos
Tu não sabes o enorme prazer que senti ao ler teu comentário!!!
Que delícia o efeito das linhas imaginárias a cruzar o espaço, sem que possamos vê-las, embora sabendo-se que elas existem, formando elos independente de divisas territoriais e idiomas!!!
Não conheço os Açores, mas tenho uma ligação forte com as ilhas de lá e por muitas razões. O Canadá é sem dúvida uma terra que me encanta. Adoro as paisagens brancas e tudo aí.
Na minha ilha, ainda restam marcas deixadas pelos açorianos, mas seus descendentes não se ocuparam em guardar muitas mémórias, o que é lamentável. Mas de todo, ainda há. Não podemos negar também, que o número deles aqui era reduzido e que na ilha, especificamente, havia uma população que se manteve em crescimento fechado e com formação de novas famílias com trocas entre as vilas e que, com o crescimento acelerado e a vinda - ou invasão - pela procura da qualidade de vida - de pessoas de muitos outras cidades e países (a ilha hoje é um padaço da ONU), muitas das razís ficaram para trás. Perdas que não são fáceis de serem reconstiuidas, mas enfim...
Fiquei mesmo muito feliz com tua visita e espero que voltes mais vezes. Adorei tua janela, adorei tudo aqui e adorei mesmo que tenhas me visitado. Há coisas conhecidas aqui e inclusive, uma amiga querida - MDeus!!!
Não vamos perder o elo, tá?
Um beijinhos pra ti e que tua semana seja ótima!!!
Beijinhos e muito obrigada mesmo!!!
relendo esse teu tecido de letras, me comovo com o lamento permeado de saudades... Mesmo essa que não é de arrependimetos...
Isso temos de lindo em nosso idioma... Saudade...
Só nós sabemos exatamente a extensão dela...
Muito lindo Humberta!!! Parabéns!!!
Beijo
ò,ó
Passei aqui pra te desejar um feliz dia das mulheres, com gostinho de ilha...
Beijos!!!
ò,ó
Humberta passei para te desejar um bom dia para ti e que a exposição te corra bem. Infelizmente não tive tempo para tirar as fotos que precisava para o trabalho que planeava fazer, mas no fundo o que fiz gostei, a minha mãe sei que merece ser homenageada neste dia porque lhe encolheram os horizontes pelo facto de ser mulher.
Beijinhos para ti.
Que bela Homenagem à Mãe!
Olá Humberta,
Que lindo aquilo que escreveste no meu blog. Tocou-me!
Beijinhos,
Olá Jorge
Por alguma razão pensei que a mensagem lhe ia chegar. Anida bem.
Espero vê-lo por cá de quando em vez.
Obrigado...lágrima...o gosto da alma.
lindissimo poema de quem deixou os horizontes de origem. mas não esquece e de imagens distantes e tão próximas, afinal, se alimenta.
beijos, Humberta.
Que é feito de ti?
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