Friday, January 25, 2008

"Três foi a conta que Deus fez"


“Três foi a conta que Deus fez”. Assim dizia a minha avó. Assim o ouvi pela vida fora. Todavia, esta minha relação entre os números e o sagrado não se ficou por aqui e em épocas diferentes da vida fui confrontada com outros números, entre eles o zero, o seis e o sete. Os seres humanos sempre buscaram um sentido simbólico para os números. Se mergulharmos no fascinante universo da numerologia, descobrimos que para muitos filósofos gregos, entre eles os mais conhecidos Platão e, sobretudo, Pitágoras, a ciência dos números, era uma ferramenta crucial para o conhecimento da época e tinha o poder de mostrar a harmonia do universo. Pitágoras, por exemplo dizia que a realidade era pura matemática e que cada número tinha as suas características muito únicas. Pelo mundo fora, povos diversos expressam este fascínio humano pelo significado misterioso dos números. No caso dos deuses aztecas, cada um possuía o seu número e a sua cor, símbolos que tinham um relacionamento directo com a sua posição no cosmos. Mas voltando à minha avó, que teimava dizer que "três foi a conta que Deus fez”, resolvi mergulhar nesta coisa dos números e descobrir (ou pelo menos tentar), o significado desta premissa cuja validade a minha avó repetia e admitia sem demonstração prática. Porque teria Deus escolhido um número ímpar? Talvez numa comemoração discreta do caos. Se tudo gira em dualidade: entre o bem e o mal, o belo e o feio. Dentro e fora, quente e frio, homem e mulher, a noite e o dia, porquê trazer mais alguém para semear a confusão? Ora nesta aventura através dos números passo primeiro pelo zero, pois significando nada na sua essência, tem um poder enorme ao nível do infinito. Para imaginar a grandeza do infinito costumava, em criança, juntar zeros a um só número e assim perder-me na circunstância do infinito, na imensidão que representa o vazio, ao mesmo tempo absoluto, o nada a não existência. O zero permite um mergulho ilimitado no nada, que apesar disso, não deixa de possuir a capacidade do ilimitado. Experimente juntar zeros ao seu cheque e vai ver que as possibilidades são ilimitadas. O zero na sua expressão física representa também o ovo, o princípio de todas as coisas. Depois veio o 7: os sete dias da semana, No Novo Testamento, Jesus convida Pedro a perdoar seu irmão 70 vezes 7, a missa do sétimo dia. Mas não é só entre cristãos que o sete é considerado um número especial. Existem os sete ramos da árvore cósmica dos xamãs. O sete para os egípcios era o número da perfeição. Para os gregos, ele está relacionado aos cultos do deus Apolo e assim sucessivamente. Mas para mim era necessário saber mais sobre este três. Na tradição cristã associa-se o três com a trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. A família, por exemplo, é pai, mãe e filho – não sei como fica quando falta uma filha… Mas descobri também que o 3 leva assim de vencida, a dualidade do 2, representa o princípio, meio e o fim; o nascimento, vida e morte; céu, terra e as águas. Para muitos o ser astral ou emocional continua ligado ao corpo durante três dias após a morte e, segundo evidência científica, enquanto todos os sistemas do corpo humano morrem, o cérebro leva 3 dias para se “desligar” completamente. Para os chineses este é o número perfeito pois reúne o homem, a terra e o céu. E os gregos vêem a Deusa como uma entidade relacionada com a vegetação sob seus três aspectos: jovem, mãe e idosa.
Com toda esta carga simbólica e religiosa comecei a pouco e pouco a compreender melhor porque é que a minha avó, nascida e criada numa pequena freguesia de S. Miguel, teimava dizer que “Três foi a conta que Deus fez”. Longe de toda a ciência dos números, ela bateu tudo e todos com o seu conhecimento. E enquanto para ela a fé era razão suficiente para em números representar a essência do seu divino, muitos físicos e matemáticos da cristandade acreditam que os números apontam para Deus ou em outros casos para uma entidade divina.
Portanto, da próxima vez que se confrontar com números não se esqueça da sua simbologia filosófica e religiosa.

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