Thursday, January 03, 2008

A morte do feminino





Sem dúvida que as duas mais eficazes armas da mulher são a sensualidade e a inteligência. Ambas felizmente dissassociadas das imagens que prevalecem na sociedade moderna, que forçam uma mentalidade muito estereotipada do que deve ser a beleza feminina. Sensualidade e inteligência caracterizam qualquer mulher e são independentes de conceitos de perfeição física. Qualquer mulher pode e deve ser sensual, independentemente do tamanho, feitio, cor, religião ou estado civil. Assim sendo e, uma vez que este trabalho é dedicado em parte às mulheres de países islâmicos, só porque se vive sob os preceitos dos islão, não se deixa de ser mulher com uma “cunnus” própria, inteligência e sensualidade. Sensualismo de acordo com o dicionário Editora da Língua Portuguesa 2008 é a “doutrina segundo a qual todos os nossos conhecimentos vêm das sensações, consideradas como condição necessária e suficiente de todos eles, mesmo os mais abstractos; é a doutrina segundo a qual o belo se identifica com o agradável;.” Ora haverá no mundo algum ser humano desprovido de sensações, de conceitos de belo e agradável? Não me parece! Tudo o que é sensual diz respeito aos sentidos. É por isso relativo ao prazer físico ou sexual e encontra-se relacionado com o voluptuoso, ou lascivo. Ora para quem já passou por pelo menos um país islâmico e lida com imigrantes de várias regiões islâmicas sabe bem como os homens gostam de olhar o sensual alheio, mas reservam o direito de matar uma filha, em nome de um Deus cruel e inexistente, em plena sociedade aberta, multicultural e último reduto por eles escolhido para em liberdade continuarem as suas crenças e melhorarem as suas condições de vida. No Canadá jovem adolescente só porque desejava mostrar a sua sensualidade revelando um rosto e um cabelo livre do “hijab”, o tradicional lenço islâmico, foi assassinada. Aos 16 anos, a jovem de origem paquistanesa Aqsa Parvez, 16 foi estrangulada pelo pai Muhammad Parvez, um devoto islamista só porque, como afirmou um dos seus colegas de escola "ela adorava roupa…ela só queria mostrar a sua beleza... ela só queria vestir-se como nós, como uma pessoa normal.” Ela é mais uma vítima da intolerância masculina dentro do radicalismo islão, que controla fortemente o desejo feminino de liberdade. Aqsa foi uma das muitas “mortes de honra”, homicídios levados a cabo por todo o mundo da diáspora islamista, onde as jovens gerações de mulheres pretendem fazer parte das culturas que as receberam. A violência contra as mulheres no mundo islão tem aliados também no Canadá junto de jornais de renome nacional, que teimam não tratar estas questões com sinceridade com medo de se imiscuírem em questões do foro privado e religioso. O escândalo é tal que mesmo feministas islâmicas criticam estas atitudes passivas dos media e o silêncio das suas irmãs ocidentais, que facilitam esta mesmo opressão. “As feministas ocidentais querem fazer crer que se preocupam muito com o destino das mulheres no mundo islâmico no exterior, mas ignoram o que se passa dentro dos seus próprios países". Inteligência é igualmente outro atributo que pode levar uma mulher à morte. O caso mais falado nas últimas semanas: Benazir Bhutto, que longe de partilhar a inocência e as descobertas da sua jovem conterrânea a viver em Mississauga foi vítima do monstro Taliban, que no fundo ela própria criou. Buttho foi contudo muito além da inteligência e sensualidade. Como escreve Rosie Dimanno no Toronto Star “esta foi uma mulher que mentiu e manobrou com brio, fascinando os seus mais teimosos cépticos com a sua inteligência, charme e beleza”. Atributos ainda mal manobrados por Aqsa Parvez, que nem pode ter os seus colegas de escola no funeral, porque a família decidiu enterrá-la mais cedo e noutro cemitério, longe de tudo e de todos, numa sepultura anónima como um animal sem nome ou identidade.

Humberta Araújo


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