Monday, October 22, 2007

Telenovelas afastam portugueses do programa de governo em Toronto




O “discurso do trono” – mais conhecido em Portugal por apresentação do programa de governo - pacientemente lido pela Governadora Geral Michaëlle Jean passou ao lado de uma grande maioria de portugueses. Esperado com alguma expectativa pelos membros mais politizados da comunidade, pouco ou nada disse ao comum do cidadão de língua portuguesa



Quando os políticos lusos apelam cada vez mais à participação activa dos lusos na vida pública do pais, deparámo-nos – particularmente no que diz respeito ao discurso do trono do primeiro ministro do Canada – com o facto de muitos portugueses não entenderem bem o que estava em causa, prestando por isso pouca atenção a um momento televisivo, que chamou a atenção de muitos canadianos. A possibilidade de um novo acto eleitoral antecipado de Stéphane Dion (agora posto de parte pela estratégia do liberal), que levaria novamente à estrada os políticos do Ontário, ainda a digerir os resultados de um sufrágio de há duas semanas, deixou muita gente na comunidade apática. Para além da apatia, a jornalista deparou-se também com um certo desconforto por parte dos entrevistados, que preferem não falar sobre politica, atitude reminiscente talvez de um Portugal do passado, que obrigou muitos dos que aqui vivem ao silencio, e hoje apreensivos quanto a esta coisa de democracia e liberdade de expressão. Mesmo assim Vicente Graciano não teve palavras a medir ao dizer que não prestou atenção ao discurso porque “desconfia”dos políticos. “Não tenho nada a dizer porque eles não fazem nada. Sabe, os políticos são como as religiões. Cada uma é que está certo, mas no fim estão todos certos. Os políticos são a mesma coisa. Eu ouço eles falarem muito mas não fazem quase nada.”Mesmo assim, Vicente Graciano foi explicito ao considerar que o primeiro ministro no seu discurso deixou de fora os pobres.
Opinião comungada por outras pessoas que entrevistamos e que preferiram não dar o seu nome. As dificuldades de uma vida de trabalho levou a que um grupo de amigas que encontramos ao principio da tarde a gozar um pouco de descanso nos mostrasse até que ponto, a politica e o discurso do trono passou ao lado de uma grande maioria de trabalhadores portugueses. Eu não vi o discurso porque a gente se meteu a ver as telenovelas e, eu não sigo estas coisas da política, porque eu não sei falar inglês. Às vezes eu leio os jornais portugueses, quando eles têm coisas que me interessam.”
Maria dos Santos também nunca votou “porque não sou canadiana”. Uma realidade comungada pelas outras três amigas. “Eu estou a pensar resolver esta situação agora, porque disseram-me que a partir dos 55 anos não e preciso saber falar inglês e não se paga nada. “
Natália não quer saber de políticos porque “eles só ajudam os ricos e nunca os pobres.” A língua tem sido um dos principais factores de alheação às questões políticas por parte de muitos imigrantes. “Viemos para aqui foi para trabalhar para ganhar alguma coisa. Não havia tempo para ir para a escola e eu sempre trabalhei com pessoas portuguesas e por isso sei muito pouco”, realçou Maria dos Santos, que contou com a concordância das outras amigas. “É sempre bom que a gente aprenda um pouco de tudo. Mas foi assim a nossa vida, e agora já é tarde.”

“Eu não vi o discurso porque a gente se meteu a ver as telenovelas”

No Canada desde a década de 50 João Correia é um cidadão interessado pela política canadiana. Ao discurso do primeiro-ministro não deu, porém, muita atenção. Nos actos eleitorais tem exercido o seu direito de voto. Segundo João Correia o partido Conservador não esta a governar muito mal.” Todavia, eleições neste momento poderiam dar uma maioria ao partido Conservador “e isto então seria ruim. Eu já estou aqui há muitos anos e acompanhei outros governos conservadores de John Diefenbaker, muito esperto para falar. Não governou muito mal, mas deu segredos militares aos americanos. O Joe Clark, também não chegou a fazer nada, e o Brian Mulroney, deixou isso tudo na banca rota. O que fez de bom foi o Trade Agreement.”

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