Thursday, January 26, 2006

Às endémicas dos Açores com um abraço

“Vai de flores,
menstruada
uvas-da-serra.
A viúva – vidálias
Conchelos- do Mato
Queiró, ginja.
Novembro – viúva
Santos Finados
Vai de vidálias
Malfuradas, fetos
Louro, angélicas.
Fieis defuntos
Viúva, menstruada
Marsílias na campa.


Humberta Araújo
MArço 2004

Thursday, January 19, 2006

Eleições e emigrantes - Elections and Immigration

Portugueses no Canadá preparam-se para mais um acto eleitoral. 4 partidos - quatro formas diferentes de ver a sociedade canadiana. Os imigrantes têm apoiado de forma muito convincente os liberais. O Ontário continua uma forte tradição liberal. Toronto, uma urbe moderna com problemas sociais específicos que carecem de olhares práticos e firmes. Como votarão os portugueses neste acto eleitoral que se aproxima? Acha que os representantes portugueses a nivel provincial e federal têm acompanhado os problemas e anseios dos imigrantes portugueses? Somos um povo que participa em actos cívicos?

DÊ A SUA OPINIÃO!

Portuguese in Canada are prepating themselves for new elections. 4 forces are in charge. Four diferent ways of looking at Canadian society. Most immigrants have given their support to the Liberals. Ontario has a strong liberal tradition. Toronto, a modern city with specific social problems requiring firm practices by government. How will the portuguese vote? Do you think that portuguese politicians at the provincial and federal level have looked fairly to portuguese problems in their communities? Do we portuguese participate in civil life?

GIVE US YOUR OPINION!

Wednesday, January 18, 2006

HE ABUSES ME WHEN...


He hides and lies like a wounded woolf,
and he abuses me with silences,
games of words...displeasure for my being.
He abuses me when he eats my cooking
without a word, a gesture of appreciation.
He abuses me when he plays with my mind
disturbs my faith, relinquishes my dream.
He abuses me when he calls me stupid
and holds me accountable for being unkind.
He abuses me when he takes my words
distorting meanings and purposes.
He abuses me for not loving the body
my soul rests upon after a day of labour.
He abuses me for not seeing that my name
holds a story, a will, a road to conquer.

Humberta Araújo
Jan. 2006

CafePortugal

Caf�Portugal

Tuesday, January 17, 2006

ODE TO THE LONELY...

Does it really matter
Where I eat?Where I sleep?
Where I hide my wondering
desires ?
Does it really matter if I
remember or choose to forget?
My path is numb.I see angels
in every corner smiling.
Does it really matter?
To whom does it really matter?

Humberta Araújo DEc. 21, 05 Posted by Picasa

Meu amado dormindo em mãos de núvens...

"Lembras-te de como era sermos crianças sob um céu tão prenhe de segredos? Às vezes havia o medo - só por inquietantes momentos - o pavor de uma imprevisível lembrança. Recordo bem os olhares roubados à magnificência daquele estado de pureza onde a mágoa não consentia lugar. Como me lembro de ti..." Eu fora tão menina. Tão minúscula. Nada mais que uma pequenina vogal num livro repleto de palavras titânicas. Eu fora o "a"num concerto de doutrinas de onde me levaste numas mãos cheias de núvens. Depois comigo fizeste palavras. Tornei-me assim numa ave e tu te divertiste a ver-me voar. Cansada, deste-me uma árvore onde repousei só o necessário instante para que à minha boca levasses àgua da nascente. E, eu bebi do sémen da montanha. Parei para adivinhar do silêncio das letras, as valsas dos significados. Mas descobri-me num labirinto de desassossegos. Aninhei por isso o teu coração junto a um estranho bater do meu peito que em tempestuoso crecendo ia tomando conta de mim. Em que me transformava eu ainda mal havia nascido? Continuaria assim num labiríntico "a" - o princípio de todas as coisas - em lenta supressão. Tive medo. Foi então que me chamaste uma vez mais à tua mão de núvens. Com dificuldade voei até ti porque o meu peito crescia fora de mim. O teu olhar encontrou o meu perturbando o interior de mim com tal violência que esqueci quem era. Regressei embalada nas núvens das tuas mãos insensatas. Disseste que me amavas. Mas eu não entendi o teu dialecto e dei por mim com o peito a sangrar. Tão depressa o teu beijo poisou na minha ferida e eu já era alma. Vi o tempo e a pertença. E porque não te vi a ti voei, fugi. Só vi mar e a bruma que escondia o horizonte Chorei as tuas mãos de núvens. E neste choro descobri o que as letras não dizem nem as bocas se atrevem a mentir. Reconheci o espírito do tempo que eras tu , petrificado a meus pés recebendo o sal que me caia dos olhos. Tu eras a rocha negra que esposava a minha alma em desalento. Eu te beijei, basalto do meu combate. Enfeitei-me de musgos numa celebração apaixonada da tua fidelidade. Enquanto o mundo se digladia e as bocas confundem as palavras, a ilha fica sempre, qual marco perfeito da celebração entre o divino e a magnífica força do seio da esfera. Meu amado dormindo em mãos de núvens...

HUMBERTA ARAÚJO
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Sunday, January 15, 2006

TIME is Mine


TIME
I have been missing time…for a long time
…And I crave for those lost hours!

Who took time away from me?
Who concealed my moments?
Who deprived me of memory?

Time consumed
Changing diapers of domestic imagery.

Time is mine!

Who went through my pots and pans
And consumed my time?
Through the pages of my dishes
I saw no discernment,
Because I washed them,
Many times I scrubbed them
So you could feast upon my hours
And take charge of remembrance.


Every time I scrubbed the floors
And cooked sumptuous meals,
You embezzled words that were mine.
Presumptuous you wrote the script
Deliberately forgetting that it was I
Who gave you the time
To marvel at the sight of power.

You wanted me to believe
That giving birth was my time.

…now, I deliver pages unkind to your ears,
Wicked words that threaten your rhyme.

Humberta Araújo



Saturday, January 14, 2006

ESPERANDO...WAITING

Esperando...no vazio
É a gente que passa,
o tempo que se esmirra.
Esperando pela chegada
de um cheiro íntimo
de uma boca em chama.

Na casa do meu pranto
uma cadeira sem poiso
uma janela sem noiva
uma página sem canto.

Humberta Araujo

Shades of Winter - Photos by Lucas Araújo Coutinho



Azorean Women and literary creation - A MUST READ

Women's literary contribution in the portuguese region of the Azores
In the recent past the Azores have experienced a literary and cultural boom. The Página GIacial, a now extinct literary supplement that was prominently included during the 60's and 70's in a daily newspaper in Angra do Heroismo (island of Terceira) was to give voice to a whole generation. of writers. This richness of the life of the mind in one of Europe's most isolated regions was initiated during the past century by such writers and poets as Antero de Quental, Roberto de Mesquita and Vitorino Nemésio. It is among the present generation that we propose to analyse what we believe to be the most prevailing traits of Azorean literature: the particular notion of time and space, which epitomizes a characteristic pattern of the Azorean experience given the peripheral Atlantic location of these Portuguese islands: This whole notion of existence vis-à-vis the rest of the world has been profoundly interiorized by language and style of Azorean women writers, and has been the acute sensation of their insularity. This has resulted in a new significant rhetorical mode of looking at island reality, and thus opening new avenues of thought and vision of these authors place in the world.
By Profs. VAMBERTO FREITAS E ADELAIDE See Women Writers

Vera Sabino - From Azores to Santa Catarina, BRASIL


I met Vera Sabino in Ponta Delgada 3 years ago. She was in the islands by invitation of the azorean government which sponsored a meeting of brasilian artists, writers and historians whose ancestors had emigrated from the islands to Brasil. I was drawn to one of her paintings which I bought and took it with me to Canada. I often look at that painting remembering one of the most important religious festivities of the islands which her ancestors took to Brasil. Today, Vera Sabino shares with me the Espiríto Santo through her art and vivid colors. I hope we can meet again soon. Vera Sabino Link
Humberta Araujo

For thirty years Vera Sabino has been a master of color and shape as her artistic eye sees Nature through a surreal retina. The locale is the island of Santa Catarina, its birds, butterflies, and the goddess of an Olympus subjugated by the enchantment and the sortilege of her art forms. There are fruits that have been invented; witches disguised as pythons of the Island, archaic animals, fish that cannot be found in dictionaries of everyday language, symbols of an inner perception. Vera Sabino is a synthesis of myth and reality, a live mirror of our universe under construction; free to re-encounter the most secret facet of freedom itself, a gift that the artist exercises with integrity, dignity and a rare splendor.

Wednesday, January 11, 2006

foguetabraze

foguetabraze

Parabéns ao Fogotabraze e Entramula dois espaços para gostos diferentes. Mas porque é na diferença que está a riqueza....

Tuesday, January 10, 2006

Televisão Portuguesa-Preços não são responsabiliade da RTPi


"Não nos compete a nós impor um preço, nem definir a estrutura de oferta comercial. Não o fazemos no Canadá como não o fazemos em parte alguma. Em todo o mundo, o serviço free-to-air da RTPi (nota: via satélite) coabita com os serviços prestados pelas empresas distribuidoras que necessariamente têm um custo para o subscritor aderente.

Há três passagens da mensagem do Sr. Aires da Silva, que merecem um breve comentário:

1. Não há qualquer restrição do CRTC à manutenção do nosso sinal em aberto (via satélite), pelo que o Administrador da RTP citado não está a violar e muito menos a desafiar o CRTC. Isto não faz qualquer sentido uma vez que no período que antecedeu a autorização do CRTC, já a RTPi tinha o seu sinal em aberto;
2. Aliás, em determinados sectores que vêm comentando estas questões, parece haver alguma confusão. A principal preocupação da RTP é a de manter o sinal em aberto - fre-to-air – para que as pessoas tenham a opção de uma recepção gratuita. A gratuitidade, sempre que a ela se alude, tem por objecto as pessoas, não as empresas distribuidoras. Isto tem dado azo a interpretações enviesadas que deturpam a realidade e confundem as pessoas;
3. A RTP candidatou-se seguindo as regras do CRTC que lhe permite emitir sem que para tal houvesse necessidade de constituir uma parceria local. Não é sensato, porventura, deixar subentendido que a RTP tenha eventualmente sido discriminada pelo CRTC. "

Com os meus melhores cumprimentos,

Paulo Jorge Velez Santos
International Distribution Manager


ENQUADRAMENTO DA TV PORTUGUESA
1. A Rogers paga à RTP uma percentagem simbólica, que em parte se destina a custear despesas de marketing que a Rogers, durante o processo de negociação exigiu à RTP e delas nunca abdicou;
2. É falacioso justificar que o preço de $14.95 se deva ao facto de a Rogers pagar um montante minoritário à RTP;
3. Por outro lado, a RTP não deve, nem pode interferir na política de conteúdos e comercial das empresas que a distribuem. A escolha do preço $14,95 ou de qualquer outro valor é da exclusiva responsabilidade da Rogers que o poderá modificar sempre que entender;
4. As razões pelas quais a RAI tem um preço de $2.50 só a Rogers as poderá dar. A este respeito devo dizer o seguinte: aparentemente, não parece haver razões para sentimentos discriminatórios da Rogers face à comunidade portuguesa. Independentemente de concordarmos ou não com o preço de $14.95, verificamos que este valor é o preço médio praticado pela Rogers relativamente a conteúdos “étnicos”. Mais, independentemente desta análise, o facto é que, apesar de tudo, o preço da RAI não é a regra, é a excepção;
5. Durante as negociações, a RTP nunca abdicou do seu serviço em regime free-to-air (via satélite), porque entendeu que através dele cumpre a sua especificidade de serviço público de TV. As empresas distribuidoras colmatam restrições que eventualmente, em alguns casos, podem impedir as pessoas de receberem a nossa emissão através dos “nossos” satélites;
6. A RTP está disponível em sinal aberto em qualquer parte do mundo não deixando de privilegiar relações com as empresas distribuidoras que possibilitem uma maior penetração da emissão da RTPi. É o caso da Rogers como são o de muitas outras empresas espalhadas pelo mundo inteiro.
International Distributor Manager



RTPi is available to viewers across North and South America, free of charge, through the Intelsat 805 satellite (C-Band, requires 6ft antenna) and the AMC 4 satellite (Ku-Band, requires 100cm antenna).
C-Band reception
Intelsat 805 may be received through the use of a 6' C-band satellite antenna in the "deep blue" sections. A 7' antenna or more is recommended in all other areas.
RTPi can be received free of charge from the AMC 4 satellite anywhere in North America with a 100cm antenna (for 100% reliability) or a 75cm antenna (for 80% - 90% reliability).
If you do not currently have a C-Band antenna, you may catch RTPi with one of our Mpeg-2 Free-to-air Ku-Band system, with 100cm (recommended) or 75cm Winegard antenna. Select on any of the systems below and select the option with 100cm or 75cm antenna.
Kusat.com

RTPi - MONTREAL - Serviço a Manter

De Montreal chega-nos o comentário de Luis Pereira:
"Só queria adicionar mais um comentário sobre a RTPi e a RDPi. Tomem nota que tudo começou com as transmissões via satélite do Portugal/Magazine para o Canada e USA, já la vão 16 anos, e seguidamente veio a RTPi. Fiquem sabendo que o nosso canal nunca foi recebido ilegalmente no Canada porque o serviço sempre esteve de livre acesso para aqueles Portugueses que pagaram até $ 3000.00 Dollars so para receber a RTPi em suas casas e, comércios via C-band.Também quero mencionar que para que o canal RAI entrasse nas redes de cab no Canada, foi iliminada completamente a transmissão via satelite de livre acesso para a América do Norte. Espero que a RTPi não siga o caminho da RAI e respeite todos os Portuguesesque habitam em regiões remotas no Canada e USA onde não podem ter serviçosde Cabo, e também para aqueles que não pretendem afiliação a qualquer companhia de cabo. Eu sou eu um deles. Graças ao novo satélite AMC-4 Ku band, qualquer Português pode receber em todo o continente Norte Americano até Hawai o canal da RTPi e Radio RDPi GRATUITAMENTE e com um sitéma ao custo de $ 300.00 Dollars Canadianos.Para aqueles que se envolveram em negócios escuros, cinzentos, pretos(Pirataria), pois tendes no que vos metestes.Quero aprovar a decisão do CRTC, porque sou Liberal não acredito que o governo do Canada possa proibir as transmissões televisivas Portuguesas ou de outra cultura nas redes de distribuição Canadianas principalmente no ano2006, mas por favor guardem a RTPi livre para todo o mundo, não só para meia duzia de cidades no Canada e USA."

Luis Pereira
Ao Serviço da Comunidade Portuguesa de Montreal desde 1988
Viva a RTPi

LOPES DE ARAÚJO LIED TO US

In a comment regarding the transmission of RTP-i "CUNNUS REBORN" Whytton da Silva writes: Every day that goes by, we are looking pretty foolish on this issue. Damn right embracing! The CRTC made a decision which must be obeyed. Period! The price quoted by Rogers Cable, which was reached upon extensive negotiations with RTPi, is in line with their “international TV” price schedule (i.e. at least 34 of 42 networks are $15 dollars). It is simply a business decision.
To argue discrimination because of RAI’s considerable reduced cost is rather ridiculous, since the Italian state television network is heavily subsidized. The same could have been said about Deutsche Welle, but we all known that the German government pulled the plug on its subsidy and Rogers, quite understandably, switched-off that TV signal on December 31st 2005.
Further still, is the fact that Mr. Lopes de Araújo, the director of RTP international services, lied to us big time when he stated that RTP provides Rogers Cable with a FREE signal. We now know that is not true at all. Mr. Araújo was forced to admit otherwise when pressed by a LUSA reporter (Notícia SIR-7618978), that RTP indeed receives a “minimal compensation”. What is not known however, is to whom is this compensation paid to, and specifically.
One of RTP administrators, Mr. Gonçalo Reis, defies and challenges the CRTC rules and regulations, when he suggest that the Portuguese community “has and will always have” its signal free-to-air signal on satellite television. He even quotes a minimal cost of about €150. Both men are skating on thin ice, that’s for sure.
But that’s not all. Toronto’s self-elected ad hoc committee, spearheaded by Mrs. Nellie Pedro, a journalist and a friend, not once* refers to the existence of SIC international ($14.45 on Rogers Cable), on the air since the 1st of September 2001, nor have they mentioned the 30% “Canadian content” produced in Canada by Luso-Canadians, in accordance with The CRTC demands. Keep in mind that FPtv is a “Canadian” company, which provides employment to a dozen Portuguese. It will also be wise to remember that FPtv pays SIC for its programming and Rogers for its broadcast. A hefty monthly bill.
Whatever happened to the five Ws of journalism, or the three sides of a coin? Oh well… discrimination, you say?
Finally, let me just inform you that I am the Programme Coordinator in Canada for the “Liga Portuguesa de Futebol Profissional – LIGA”, which is wholly owned, in Canada, by FPtv (purchased from SportTV Portugal SA). Although I am not directly involved with FPtv’s production or programming, I am nevertheless employed by the same company. As such, I have a keen interest on the subject and consequently I resent those who claim to represent me without ever being consulted.
Aires Whytton da Silva

* The letter written in Portuguese, yes in Portuguese, addressed to Ted Rogers does indeed refer to FPtv, but only in reference to the cost of a package offered by Rogers Cable. It ignores, either on purpose or in ignorance, the linkage requirements by The CRTC. Alleluia!

Sunday, January 08, 2006

OLGA CABRAL - Winnipeg 1909-1997

Woman Ironing

I am ironing the dress in which I ran from the prom
I am ironing my favorite dresses of long ago
I am ironing the dresses I did not have
and the ones that I did have, stitched so finely of fog
I am ironing the dress of water in which I met you
I am ironing our tablecloth of sun and our coverlet of moon
I am ironing the sky
I am folding the clouds like linenI am ironing smoke

I am ironing sad foreheads and deep wrinkles of despair
I am ironing sackclothI am ironing bandagesI
am ironing huge damp piles of worries
I am smoothing and patting and folding and hanging over chairs to air out and dry
I am ironing the tiniest things but for whom or for what I cannot imagineI
am ironing my shadow which is ironing me.

from VOICE/OVER Selected poems of Olga Cabral – West End Press, 1993

Olga Cabral, the daughter of Portuguese parents. Born in 1909 in the West Indies, she was taken as a child to Winnipeg, Canada, and shortly thereafter to New York City where she lived for the rest of her life. She was married to the Yiddish poet Aaron Kurtz. She began publishing poetry in the magazines in the 1930s but her first volume of poetry, Cities and Deserts, did not appear until 1959 when it appeared under the aegis of Roving Eye, a press directed by Bob Brown of American expatriate fame. Next appeared The Evaporated Man in 1968, followed by Tape Found in a Bottle (1971), The Darkness Found in My Pockets (1976), Occupied Country (1976), In the Empire of Ice (1980), and The Green Dream (1990). In 1993 there was a collective volume titled Voice/Over: Selected Poems (1993), which offers a sample of the poetry she published in book form for over four decades.

Blissful Night



Soon will Heaven seal its eyes
to a deep silent sleep.
A peaceful bliss descends upon its womb
to laze delightfully as the night snow falls.
Between its lavish sheets the restful heart dreams of Heaven while I weep
to the sounds of that blue ocean
fondly kissing my naked toes.
And I watch the sailor man
sail to a dense and misty embrace!

Copyright ©2005 Humberta M. Araujo  Posted by Picasa

Inglês preserva a Cultura Lusa - Portuguese Culture finds future in English language

Uma contradição ou um facto

A comunidade emigrante actual está a transformar - se progressivamente e, como tal, a colocar novos desafios aos governos regional e nacional. No caso específico dos Açores, porque é aquele que me está mais próximo, pode constatar-se que a língua portuguesa está a desaparecer ou a metamorfosear-se. Aqui fala-se o português, mas o português do emigrante. E cada um fala a língua lusa ao seu jeito e de acordo com a herança familiar, a escolaridade e a província em que vive.
Talvez por isso, hoje o debate seja diferente. E este surge de uma escuta atenta das segunda e terceira gerações, aquelas que o país quer fazer despertar por razões puramente económicas, históricas ou culturais.
O jovem canadiano aqui nascido, criado e educado está confrontado com um grande manancial de culturas e línguas e, talvez por isso sinta despertar mais do que nunca o interesse pelas suas raízes. Mas nesta situação específica as raízes não são a língua, mas sim o avivar de um sentimento que é parte de uma memória individual fruto das experiências de cada um na família, na comunidade e junto dos grupos sociais em que se integram.
Assim sendo o jovem orgulha - se do português que sabe falar, mas reprime-se na sequência de atitudes pouco tolerantes por parte dos adultos, que na comunidade através das Associações Recreativas e Culturais assumem o absoluto poder e controlo do que é ser verdadeiramente português e da pureza de uma língua, que nem por isso é assim tão pura.
Na maioria dos casos as tomadas de decisão são feitas pelos dirigentes e os jovens são um mero invólucro. A falta de participação da juventude parece acontecer porque na verdade ela não é chamada a participar no processo decisório. Os jovens são naturalmente diferentes na perspectiva de como olham a cultura e a língua portuguesas. Mas é esta a perspectiva que no futuro acabará por prevalecer. Para esta nova geração lusa a língua é um factor importante a ter em conta, mas não é o essencial.Este súbito interesse pelas raízes é um factor relevante e um potencial riquíssimo a ser explorado.

H. Araujo

JOÃO, I miss you...JOÃO tenho saudades tuas

He remindes me of my grandma Beatriz. She loved her pigs. And how sad she was when Winter announced itself in the islands ... it was time for the killing of the pig. It meant food for the family for a full year! I myself witnessed Grandma running to hide at the shoemaker's house, a neighbour. Beatriz would cover her hears with her hands to push away the screams of pain of her beloved animal.
The story of João - I named this pig João in memory of one of my mom's pigs - will be revealed to you soon. Stay tunned!!!!!
Este porquinho faz-me lembrar a minha avó Beatriz. Ela adorava os seus porcos. Triste ficava quando o Inverno se anunciava na ilha...era tempo para a matança do porco. E eu fui testemunha da sua dor e de como ela corria para casa do sapateiro para tentar fugir dos seus gritos alucinantes.
A história de João - este simpático porquinho da foto - chamei-o João em memória de um porco de minha mãe - ser-vos-á contada brevemente.
FIQUE À ESPRTEITA!!!!!
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Thursday, January 05, 2006

Mulheres e Artes\Women and the Arts


Maria Miranda Lawrence é uma pintora açoriana na British Colúmbia. Natural dos Açores, mais propriamente da ilha de S. Miguel empresta o seu nome e talento à cultura do Canadá. Uma artista multi-facetada que trabalha em diversos "media". Dedica-se de um modo muito particular ao retrato e à pintura figurativa. A inspiração vai buscar às suas raízes açorianas.
Maria Miranda Laurence is a painter from Azores who works and lives in British Columbia. Most of her inspiration is drawn from her azorean roots.

Lena Gal
is another azorean artist from S. Miguel living near Sintra who gives to colours the challenge of creation.
Lena Gal é outra açoriana também de S. Miguel actualmente a residir nos arredores de Sintra que empresta às cores o desafio da criação. "A pintura que faço é uma pintura consciente, vem da minha vivência e das minhas memórias com forte ligação à terra, à ilha onde nasci. A ilha na minha alma universaliza-se na linguagem pictórica, estabelecendo um diálogo intimista, num figurativo poético, pessoal e de grandes alegorias."
Helena Maria Galvão Amaral, que escolheu como nome artistico LENA GAL, nasceu em 1957 em São Miguel viveu desde sempre ligada às artes. Desde jovem começou também o seu amor pela poesia, contos e temas regionais.

Teresa Bettencourt
a residir nos Estados Unidos é outra das nossas artistas contempladas hoje neste blog. Da ilha Terceira rumou aos Estados Unidos - Tampa Bay. Na família já são conhecidos muitos artistas nas áreas da música poetas, artistas e fotógrafos.

Teresa Bettencour from the island of Terceira lives in the US. When asked if she feels being raised in this environment influenced her decision to express her creativity, Teresa states quite simply, "When it's in your blood, you don't choose it - it chooses you!"A well-rounded and self-taught artist, Teresa began by voluntarily illustrating her dictation books in primary school, and eventually moved on to her first paid artistic work, which involved a venture into costume design in her mid-teens.

Conheça melhor estas mulheres visitando as suas páginas nos Links deste espaço.
If you want to know more about these artists visit our links.

H. Araújo


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CUIDADO QUE AS PALAVRAS SÃO PIORES QUE AS BALAS...


...espera...sabes que ler faz mal...pode ser o rastilho...uma casca de banana...por isso pensa...pois posso ter escrito sobre ti. Posso...quem sabe abrir-te uma porta...tem cuidado...porque a poesia tem poderes...é uma poção...perigosa...posso...quem sabe fechar-te uma janela...
Mas se te reconheceres nas palavras é porque foste iluminada/0...se te sentires perdida/O...não há ajuda possível...mas se chegaste até aqui...admiro-te a coragem...falta pouco até ao fim...e tudo assim começou...pelo vazio...
humberta maria araujo

PUTA
Nunca lhes disse de mim,
mas todos reclamam
saber quem sou.
Os tristes, enfim!
Da ilha,
de mulher,
dor
e prazer!

H.A.2002
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RTP-INTERNACIONAL - Quem paga? Who pays?

RTP-i no Canadá está a dar que falar…
RTP internacional…quem deve pagar?
Dê a sua opinião - Give us our opinion

Televisão portuguesa para os luso-canadianos está a criar algum mal-estar. Após uma longa espera a comunidade terá agora acesso à internacional, mas a um preço considerado elevado. Neste sentido o grupo “ad hoc” criado para estudar o caso pediu já à RTP-I esclarecimentos. Espera-se assim que a RTP Internacional esclareça o valor das receitas a receber pela transmissão da sua programação no Canadá,distribuída pela empresa de cabo Rogers. Tudo isso acontece quando se sabe que a Rogers Cable Communications pagou um determinado montante á televisão portuguesa para assegurar a distribuição levando 14. 94 dólares por mês aos portugueses. Em declarações à Lusa, Nellie Pedro, do Comité "ad hoc" para a RTP Internacional, sublinhou ter recebido de "David Purdy, vice-presidente da Rogers Cable Communications, uma resposta de que essepreço a cobrar se deve a um valor que a companhia irá pagar à RTP". "É importante obter agora uma clarificação da RTPInternacional, dado que, como me disse o Director de AntenasInternacionais da RTP, Lopes Araújo, a RTP está a oferecergratuitamente o seu sinal nos Estados Unidos e no Canadá",acrescentou.
Entretanto, Lopes de Araújo o director de antenas internacionais da RTP disse a propósito não ter qualquer responsabilidade no preço a cobrar pela Rogers para permitir aos portugueses o acesso à internacional, afirmando ainda que o canal tem sinal aberto e gratuito no Canadá. "No acordo que firmámos com a empresa distribuidora de canaispor cabo em Toronto, a Rogers Cable Communications, não está fixadonenhum valor para a distribuição da RTPi", disse Lopes de Araújo àAgência Lusa.Por outro lado, a Rogers cobra 2,45dólares canadianos pelo canal italiano RAI. Segundo o vice-presidente da Rogers, David Purdy, "o preço acobrar deve-se a um valor que a companhia irá pagar à RTP".


RTP International..should the Portuguese in Canada pay more than other group for watching portuguese TV from the mainland?
What do you think about this issue when Rogers is asking from the Portuguese community more per month than it is asking for the Italians for exemple?

GIVE US YOUR OPINION

PICO - the Island of Aguardente/Pico a ilha da Aguardente

PICO the Highest and the most MAGESTIC of them all. When many were whalers, some people lived digging the lava to find a bit of soil to plant fig-trees to make alcohol , sort of brandy- aguardente! Children from both sexes following the adults would help prepare the fruits to become fully developed - by moistening the bic of the fig with olive oil. My friend Maria is showing how it was done. Children would also transport the figs to the domestic distilleries. Even today, Pico's aguardente is truly appreciated.

PICO - a ilha majestosa na sua exuberância. Aqui para além da baleação homens, mulheres e crianças tratavam das figueiras para que o precioso figo deslumbrasse maduro depois de ser molhado com azeite. Também os mais pequenos carregavam os cestos pelas estreitas veredas entre as vinhas para levar os figos até às pequenas destilarias/alambiques de onde sairia a ainda hoje bastante apreciada aguardente.
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Tuesday, January 03, 2006

Azores paradise of blues

AZORES - a land of space, beauty and frienship! Posted by Picasa

Azorean Rosaries - Pearls of Faith

Azorean Rosaries, pearls of faith have been in the hearts and homes of humble and wealthy men and women of the islands.
Jornal dos Açores, brings a story on Rosaries and a man - António Realeza - who has turned Rosaries on a art of its own. Jornal dos Açores is a young media project from the island of S. Miguel.

www.jornaldosacores.com

Terços dos Açores, pérolas de fé companheiros de açorianos/as ricos e pobres. O Jornal dos Açores apresenta uma história sobre Antoninho Realeza que só no ano passado elaborou no total cerca de mil rosários, sendo que o maior volume de vendas se destina, sobretudo, aos romeiros .
O Jornal dos Açores é um jovem projecto jornalístico da responsabilidade de João Paz.
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Moriana

Moriana

Words are silences. Silences of gestures, silences of the heart beating against the city's orchestra.
Moriana a blog of words, senses and silences. TAKE A LOOK!
As palavras são silêncios. Silêncios dos gestos, silêncios do bater do coração contra a orquestra da grande urbe. Moriana uma página pessoal de palavras, sentidos e silêncios. DÊ UMA OLHADELA!
H.Araújo

Monday, January 02, 2006

...shouting prayers from the HOMELAND














LOST IDENTITIES

We are the lost ones
The ones who believed
who shared a flag, an hymn!
We are the ones who left
for the sorrow
of those who cared.
For the envy
of those who lingered.
Amongst us some have lived
for the glory of others.
Some to fill one's own desires.
Most of us have lost our grammar,
forgotten those heartfelt oaths
when the pioneers awakened the silence
shouting prayers
from the HOMELAND and NEA HELLAS.
The island became a rock
and sunk to eternity.
We swore never again to see tyranny
But haven't we become tyrants?
Where are all the seamstresses,
the midnight cleaners, the cooks,
the dishwashers, the fruit pickers,
the waitresses, the rail workers?
Where do we hide those of us
who never learned to sign a name
or speak a foreign dialect
well enough to read, to write,
to speak, to vote?
Where are our literates,
the PHD's
the Master degrees?
Where are the politicians,
the mayors, the MP's?
Do we dine together?
Do we speak the same tongue?
or savor wine from the same cup?
I have witnessed the glory
of America...


Humberta Araújo Posted by Picasa

História de uma micaelense no Canadá

... e o pão voltou a ficar inteiro!

Esta é uma de várias histórias que preparo para publicação sobre as mulheres emigrantes que deixaram as ilhas logo após a grande vaga de 1954. Esta é a vida de Maria Júlia, cujo marido ao ouvir a história da sua companheira chorou como uma criança. No final deste trabalho pode ver uma foto a preto e branco da casa onde Maria Júlia viveu na Lagoa.

1 de Agosto de 1958. Maria Júlia do Espírito Santo lançou mais um olhar para o horizonte através da janela junto à varanda. Era quase madrugada. Com a irmã Maria Lígia não pregara olho toda a noite. Enquanto os dois sobrinhos dormiam, ambas retiravam da casa todo o recheio da família para dar a conhecidos e pobres da freguesia.
6H00 da manhã. “Estava um dia maravilhoso”. Maria Júlia, com o coração nas mãos, fecha a porta do nº 2 da Rua Valverde em Água de Pau, freguesia do Concelho da Lagoa. Tinha então 30 anos de idade. “O que mais me custou foi fechar as portas da minha casa. Deixá-la vazia. Fechá-la sem saber quando voltava. Foi um bocado duro. A gente pensa que uma casa não nos é nada, mas ela diz-nos qualquer coisa e isso nos choca.” Encheu os pulmões de ar e orgulho: “Eu vou deixar a minha casa, pensei. Para onde é que eu vou? Mas depois tive que pensar no futuro e esquecer.”
Di-lo com a voz trémula. Uma das poucas vezes que Maria Júlia deixou escapar alguma dor, durante toda a entrevista.
Órfã de pai e mãe. Guilherme Borges de Almeida falecera em 1943. “Foi fazer 51 anos à cova”. Doze anos mais tarde, junta-se-lhe a mãe, Maria Júlia Ferreira de Almeida com 64 anos. O pão partia-se em inúmeras fatias.
Dá a volta à fechadura. Recorda claramente o dia da fotografia. Eram finais da década de 40. Vê-se a si, de braços cruzados, com as duas irmãs e os sobrinhos na varanda. Ao lado, a mãe de luto com o seu xaile e lenço, olhando atentamente o fotógrafo. O sol banha a parte superior da casa. Todas tinham o olhar seguro da mãe, lábios finos e alguma austeridade. Era preciso coragem e dizer adeus à terra em silêncio..
“Depois de partir, paciência. Tive que pensar na outra vida que me esperava.”
Não houve festas de despedida. A autorização por parte do Governador Civil, que estava de partida para Santa Maria foi obtida a ferro e fogo, com ajuda de um amigo de família no dia 31 de Julho.
“Cheguei a casa às 7 da noite. Resolvi fazer malas. Durante toda a noite despejei a mobília que tinha na casa para dar a uns e a outros, para não ficar ali nada. Guardamos de recordação uma chaleira e uma “trempe” de correr. Toda a noite levamos a trabalhar, pois de manhã estávamos de partida para o aeroporto. Não houve tempo para despedidas. Foi tudo muito rápido. Muito chocante.”
Partiu de taxi com algumas amigas, a irmã e os dois sobrinhos em direcção a Santana. “Depois apanhei um avião de 5 pessoas. Eu, a minha irmã, os dois pequenos e um rapaz. Fomos às 7 horas da manhã para Santa Maria. Quando lá cheguei, por graça de Deus, encontrei um senhor amigo, pai de uma rapariga a quem eu dava injecções em S. Miguel, que nos levou para a sua casa, onde pudemos descansar. A nossa viagem para o Canadá ia ser feita a 2 de Agosto à uma da manhã na Canadian Pacific. A viagem levou 11 horas.”
Aos 73 anos, recorda com firmeza aquele dia em que deixou Água de Pau: “Foi um dia de alegria e tristeza. É o que lhe posso dizer. Deixei muitos amigos atrás. Fui a primeira imigrante que tivesse embarcado daqui para o Canadá, como turista.
Não fui de carta de chamada. Tinha no Canadá uma irmã mais velha. A que ia comigo juntava-se ao marido. Eu embarquei foi como turista.”
Com a ajuda de “uma carta enviada à Imigração Canadiana em Lisboa pelo senhor José Hipólito de Melo, proprietário de uma agência de viagens, fui autorizada a partir no mesmo dia com a minha irmã.”
Depois das formalidades, nomeadamente os exames médicos efectuados em Ponta Delgada
Maria Júlia do Espírito Santo estava apta. “Mas tive que fazer uma grande dieta que eu estava gorda que era uma coisa séria. Levei um mês e meio a fruta e água. Foi muito custoso porque sou uma pessoa, que quanto mais fruta come, mais fome tenho. Mas lá consegui emagrecer um pouco.”
Onze horas depois estava no aeroporto de Mirabel, em Montreal. Tal como consta no seu passaporte a entrada deu-se a 2 de Agosto de 1958.
Montreal: de pés descalços !

“Chego a Montreal e fui separada da minha irmã. Fiquei completamente sozinha sem saber dela e sem falar nada em francês ou inglês. Isto porque eu era turista e ela emigrante. Aos gestos, os senhores do aeroporto disseram-me para eu ir para outro lado onde ia receber as malas. Eu fui mas continuava sem saber da minha irmã. Cansava-me de perguntar. Ninguém me respondia E o aeroporto não era o que é hoje. Eram umas tábuas a dividir as repartições. Até onde se punha as malas era feito de madeira. Passava-se ali de qualquer maneira. Não é como hoje. Eu vi o aeroporto velho. Ninguém português para explicar fosse o que fosse. Nem a minha própria irmã eu via.”
A única certeza que tinha da permanência da irmã no aeroporto eram as malas que continuavam à espera. “Eu não peguei nelas. Sabia que eram dela e que devia aparecer ali. Levei então as minhas para serem revistadas. Dentro de uma delas tinha – lembro-me bem - uma caixinha com um relógio de pulso. Um dos homens, que trabalhava no aeroporto, perguntou-me se eu tocava flauta. Fez-me a pergunta através de gestos porque eu não falava nada inglês. Eu disse que não. Que aquilo era um relógio! Então ele meteu as mãos à cabeça e disse: “OH my God...foi o que eu percebi e depois disse fermez...fermez. Eu entendi que aquilo queria dizer para fechar a mala.”
Maria Júlia diverte-se ao recordar este episódio e acrescenta: “Ainda por cima eu estava descalça, com os sapatos na mão. Imagine! Estava com os pés inchados depois de onze horas de avião. Eu já não podia com os sapatos. Foi o meu primeiro sofrimento no Canadá. Depois eu vim a compreender que o homem do aeroporto devia estar a pensar: “esta rapariga deve estar doida”.
Ultrapassado o incidente, “fecho a mala e fui para a saída do aeroporto sempre com a esperança que a minha irmã aparecesse. Os taxistas perguntavam se eu queria entrar. Nunca saí dali!” Não teve medo... “pois sabia que era só uma questão de tempo até que a minha família viesse ter comigo. E assim foi. A minha irmã veio depois, e nisto a outra que vivia já no Canadá chegou com o marido e os filhos e...pronto. Foi um Deus que apareceu diante da gente.”
As bagagens eram muitas e foi necessário “mandar buscar mais um carro de praça. Cheguei muito cansadinha, como calcula, e fui dormir.”
Mas a aventura do dia não ficaria por ali. “À noitinha meu cunhado quis ir comigo dar uma voltinha à cidade de Montreal. Vocês vão passar por um sítio” - disse ele”- onde vão ver o mar por baixo e uma ponte por cima. Calcule aquilo era uma maravilha para mim, e eu ria muito e dizia que estava a ver as luzes todas a correr. Mas era mentira. Foi uma amiga que me deu uma cerveja para beber. Eu tinha ficado um pouco tarouca. Para mim foi uma maravilha muito grande ver aquilo tudo. Mas digo-lhe! Foi uma maravilha muito grande quando tudo começou. Depois é que vieram as complicações”.
Indaguei da roupa que vestia no dia em que partiu. “Tenho aqui uma fotografia para ver. Estava com um chapeuzinho que agente usava naquele tempo, na nossa família. Estava com este vestido e um casaquinho.” Na foto a preto e branco, emoldurada, Maria Júlia está sem chapéu... “Mas foi com esse vestido que eu imigrei.”
As onze horas de avião não foram passadas em angustia, recorda. “A viagem foi muito boa e eu estava tão contente, pois ia para a minha família. Olhava pela janela e via muitos barquinhos brancos no mar, mas aquilo eram icebergs. Tudo para mim foi uma admiração muito grande. Foi uma coisa maravilhosa. Até o taxi de Água de Pau para Santana. Quando cheguei ao Canadá gostei logo daquilo.”
Escola em S. Miguel
Em S. Miguel, Maria Júlia frequentou a escola primária até à 4ª classe. Para além da escola, a vida na Lagoa era passada à volta das lides domésticas como qualquer outra rapariga da sua idade. A educação foi feita sempre sob o olhar atento do pai. “O meu pai sempre foi muito correcto com as filhas. Nunca houve muitas liberdades naquele tempo. Fez sempre tudo para que elas soubessem ser boas donas de casa. Não casou nenhuma porque teve a infelicidade de morrer novo, mas fê-las boas donas de casa e boas cozinheiras. Saber fazer de tudo...de tudo.”
Recorda então, que aos 14 anos, o padre que a baptizou disse ao pai : “Oh compadre, vá ver a sua filha amassando o pão, que aquilo vai sair uma grande porcaria. Foi uma brincadeira da parte dele.” Maria Júlia confirmava assim que desde aquela idade já cozinhava pão como as mulheres adultas da comunidade. “Fazia tudo...de tudo numa casa. Assim fomos educadas.” E foi esta educação que as ajudou a sobreviver os anos que viveram primeiro sem o pai, e depois sem a companhia da mãe. Conheceram também as lides da agricultura e do tratar as terras. “A gente não trabalhava na terra, mas quando era preciso ir à terra pôr isto, aquilo ou aquele outro, íamos. Até que ainda hoje não esqueci as épocas das sementeiras e da apanha das novidades. Meu pai educou-nos com tudo isso. Ele tinha também um talho de carne.”
A vida corria bem aos Almeida. “Nós tínhamos uma vida estável , uma vida boazinha. Depois do meu pai morrer e a minha mãe...” Maria Júlia faz uma longa pausa e, após um profundo suspiro, explica: “havia um pão inteiro para comer quando meu pai e minha mãe estavam vivos. Depois do meu pai morrer com 50 anos de idade, o pão ficou em metade. Morreu minha mãe, ficou em fatias. Nunca passamos fome. Vivi 3 anos sozinha com minhas duas irmãs, com o máximo respeito, mas com muitas dificuldades. Para mim o Canadá foi um céu!
... julgando eu que aquilo era o céu

“Julgando eu que aquilo do Canadá era o céu nos primeiros dias que eu viajei.”
Em S. Miguel, “a gente só tinha carroças e charabãs. Ir no taxi foi tão bom. Imigrar para o Canadá foi melhor. Uma mudança muito grande. E, enquanto viajava naquele avião, os meus pensamentos eram positivos, pois eu pensava que ia fazer uma grande vida. E fiz. Trabalhei muito no Canadá. Fui uma grande labour. Uma grande trabalhadora.”
As primeiras semanas foram “fáceis”. Fiquei em casa porque não tinha autorização para o trabalho”. Minha irmã casada é que me auxiliou mais o marido. Depois mudei-me para a província do Ontário com eles. Foi por pouco tempo, cerca de cinco meses porque logo depois recebi uma chamada da imigração para me apresentar. Assim regressei a Montreal para tratar da minha documentação e ver se ficava no Canadá. E foi aí que apareceu logo um problema”.
Não era filha de seu pai...

Após o nascimento de Maria Júlia, o pai foi dar a conhecer o facto ao pároco da freguesia. Como mandava a tradição católica foi baptizar a recém-nascida. A mãe de Maria Júlia, que deveria ficar uma a duas semanas em repouso, permaneceu, como era tradição em casa. À igreja deslocaram-se somente o pai, a parteira, o padrinho e a madrinha. Naqueles anos, e dada a elevada percentagem de mortalidade infantil, os baptizados eram feitos aos 4º ou 5º dias após o nascimento.
“A minha mãe tinha uma camisinha amarradinha com uns lacinhos nos ombros para vestir os bebés e uma mantinha para agasalho. Era assim que os recém-nascidos da nossa família se vestiam para a cerimónia. As crianças só eram vestidas depois de baptizadas por causa dos óleos santos. Todas as quatro filhas e dois rapazes da família foram baptizadas com a mesma camisinha, que ainda hoje existe, e que nunca foi lavada. Após receber o baptismo, o bebé era vestido na igreja pela parteira que o entregava então à madrinha.”
A cerimónia do baptismo de Maria Júlia não foi diferente, excepto num pequeno pormenor.
”Eu baptizei-me na segunda-feira do Senhor Espírito Santo. O senhor padre achou por bem que eu ficasse por Maria Júlia do Espírito Santo. Para meu pai aquilo foi tudo muito simples.”
O mesmo não acharam os serviços de Emigração do Canadá. “Quando fui tratar dos papeis à emigração eles disseram-me que eu não era filha de meu pai. Não era porque não tinha o nome das minhas irmãs. Eu não era portanto filha de meu pai.”
A confusão instalou-se e Maria Júlia por pouco não se viu de novo sozinha em Água de Pau. Todavia, e com o apoio de alguns portugueses influentes e o recurso a tribunal Maria Júlia conta que tudo acabou por ficar resolvido com “uma procuração que mandei para S. Miguel para que fosse feito um averbamento na minha certidão e assim corrigir o meu nome e ter autorização para ficar.”
Foram as piores quarenta e oito horas passadas no Canadá. “Eu chorei tanto. Porque eu não era nada. Já me tinham até dito que eu devia preparar as malas para voltar. Mas, com as promessas e as orações que fiz ao Senhor Santo Cristo, acabou tudo por se resolver, e fiquei lá com autorização para trabalhar.
Foi o Senhor Santo Cristo...o Sô Santo Cristo. É tudo muito bom quando a gente parte, mas sempre se leva aquela saudade muito grande. E com ela sempre o Senhor Santo Cristo que nos ajuda nas horas aflitas.”
1 dólar e 50 céntimos à hora
Assegurados os papeis e a possibilidade de trabalhar, Maria Júlia inicia-se numa fábrica de descascar batata. “Aquilo fazia-me uma confusão à cabeça, que eu já nem podia com nada. Já estava a pôr máquinas, dedos tudo p’ra dentro. Uma confusão. Misericórdia! Estava sempre com as mãos em água. Eu não aguentava aquilo e saí.” Pouco tempo depois conheceu o emprego que ia manter durante os 9 anos que permaneceu no Canadá (1958 –1967) como operadora de máquina de costura. Ainda hoje possui o cartão vermelho que lhe permitiu ser uma “machine operator” numa fábrica de vestuário infantil. “Eu fui uma grande operator.”
Trabalhava das oito da manhã, umas vezes até às cinco, outras até às nove. Tínhamos um intervalo para o almoço de uma hora e dez minutos para um café às 3 horas. Quando a gente estava em overtime o “bossa” oferecia uma coca cola ou uma fatia de pizza. Tive três anos a ganhar quarenta e nove cêntimos à hora.”
A vida na fábrica não foi fácil e nem todas conseguiam resistir às pressões de colegas e dos patrões. “Eles com os imigrantes faziam o que queriam. Eu cheguei depois a ganhar um dólar e cinco cêntimos por hora. Sempre na mesma fábrica e a prova é que eu fui classificada como a maior labour porque eu trabalhava com máquinas de especialidade. Tinha 5 máquinas. Ora, umas vezes tinha que trabalhar com o elástico, cozer as costuras só das calças ou os elásticos para mangas de fatinhos de marinheiro. Eu trabalhava com uma máquina de 12 agulhas. E eles nunca me pagaram por isso, pelas especialidades que eu sabia fazer. Mas eu gostava de estar na fábrica. Estava tão bem.”. A fábrica onde trabalhava Maria Júlia não tinha responsáveis de secção portuguesas. “Era uma juifa...uma juifa dos infernos que lá estava. Traidora. Em S. Miguel meu pai sempre nos ensinou a trabalhar e a sermos responsáveis, sabendo fazer tudo e rápido. Eu quando achava que o meu trabalho estava pronto, dizia-lhe. Ela respondia-me com raiva “raios te parta imigrée”. Isto porque ela não me queria pagar o trabalho extra, que eu fazia, porque eu era muito rápida.”
A pressão acumulava-se.. Entre a fábrica, as condições de trabalho e a família. Maria Júlia viu-se assim no seio de uma disputa entre as operárias por ter furado o cartão a uma conhecida. Foi chamada aos responsáveis da fábrica e após ter exposto os seus argumentos destemidamente e, exigido a identidade da pessoa que a traiu e pôs o seu lugar à disposição. Acabou por ficar após pedido dos patrões. À saída do escritório preocupadas as operárias amigas indagavam do acontecido junto dos patrões. Maria Júlia limitou-se a responder-lhes: “eu fui lá cima porque eles pediram-me para cantar Abril em Portugal”.
A vida na fábrica era extenuante, particularmente no Verão, quando as temperaturas atingiam valores insustentáveis. “Aquilo era muito calor...mas muito calor mesmo. Havia dias no Verão que a gente tinha que sair todas. Não se aguentava o calor. O restaurante não dava vencimento à Coca Cola, à Seven Up ou à água. Éramos mais de duzentas mulheres. Ficávamos encharcadas em suor. Não se podia.”
O seu primeiro cheque após uma semana de trabalho totalizou 18 dólares.
Falar o francês

“Foi difícil. Fui apanhando o francês aos poucos, principalmente na fábrica. “Coseuse” – a máquina partiu. Foi a primeira palavra que aprendi. O problema é que eu pensava que tinha mesmo partido a máquina. Ficava assustada. Mas era só a agulha que se tinha desenfiado, e eu não sabia como a havia de enfiar. E o “bossa” lá dizia: Julie c’est son aiguille. C’est tout. E eu lá respondia. Merci monsieur. Ele lá ia-me ensinando: c’est son aiguille, son scissure, son didots. Ok ? Nunca mais me esqueci daquilo.”
Dedal, tesoura e agulha foram as primeiras palavras que Maria Júlia aprendeu na nova língua. Escola nunca houve. “Não senhora! Naqueles primeiros anos da imigração isso não havia!”
Perdida na cidade regressa de moto com a policia

À procura de uma peixaria... perdeu-se.
“Era como se tivesse que ir para Vila Franca e acabasse no Nordeste. Perdi-me com as minhas cavalas que ia cozinhar para o jantar.
Depois de algum tempo desencontrada em Montreal encontrei um polícia e mandei-o parar. Depois expliquei-me meio português, meio francês: Monsieur, eu quero ir para Champ-de-Mars. Tenho aqui poisson. Quero fazer peixe pour dinner. O polícia estava numa daquelas motas que tinham uma barquinha ao lado. Eu já estava muito nervosa. Falava mal o francês, mas enchi-me de coragem olhei para ele e disse-lhe: Vous vá m’apporter a Champ-de-Mars. Apareceu entretanto um senhor do continente e eu expliquei-lhe a minha situação . Ele lá disse ao policia onde eu morava, e eu vim de mota para casa.”
Maria Júlia diverte-se ao contar este episódio, que demonstra bem a sua força vulcânica. “Era Inverno, continua a recordar. “Estava com um capuz na cabeça e vim ali sentada com tanto frio, apanhando aquele sinó todo. Mas, apesar de todos estes contratempos ainda cheguei a casa a tempo de consertar as cavalas. Contei a história a minha irmã e aquilo foi um tal a rir as duas.”
Maria Júlia do Espirito Santo, natural da Lagoa numa moto da polícia do Service de la Police de la Communauté Urbaine de Montréal, quando as jovens da sua idade na ilha iam já embalando os seus primeiros filhos.
“Na mota o polícia só se ria. O Canadá, naquele tempo, foi bom para mim. Como lhe disse havia um pão que se havia partido. A vida era outra, e agora eu estava de novo a arranjar cavalinhas para a minha família. Aquilo da fábrica das batatas é que não deu certo.”

A memória, as mal-assadas, a bandeira, Salazar e Nossa Senhora de Fátima

Esta é uma história sui géneris. Maria Júlia nascida em S. Miguel a 14 de Maio de 1928 é uma mulher emigrante, espírito independente que consegue em inícios da década de 60 viver aventuras únicas, que a maioria das mulheres do seu tempo julgariam inadmissíveis. Uma jovem, solteira, de 30 anos transportada de moto pela rua de Saint Laurent é realmente um feito histórico. Mas estes eram episódios esporádicos que contrastavam com um dia a dia monótono e caracterizado pelo trabalho.
“No Inverno, a roupa era lavada na lavandaria e ali seca. A lavandaria ficava na Duluth e enquanto a roupa secava íamos às compras. Cozinhava-se português em casa e a única loja de comércio da nossa terra era a “ARCA”. Tínhamos todos os momentos ocupados, e quando a vida o permitia, os serões eram passados à volta da saudade da terra. Porque agente quando embarca somos umas pessoas divididas”. Festejavam-se, dentro do possível em casa, as tradições da terra.
“No Carnaval, por exemplo, faziam-se as mal-assadas. Tudo era feito das portas para dentro, sempre com a terra natal no coração.”
Recorda então um episódio significativo passado junto ao rio Saint-Laurent. “Um dia o meu cunhado chega a casa e gritando diz: vamos depressa para a doca. Vocês vão ver uma coisa. Todas as mulheres da casa e as crianças fomos até à doca.” E o que viram... “um barco com a bandeira colonial portuguesa”. Com as lágrimas nos olhos Maria Júlia recorda... ”A nossa bandeira portuguesa. Fomos vê-la tão ao longe no mastro de um navio. Quando partimos de Portugal ficamos muito divididos. Recorda-se por isso muito. Vive-se intensamente o passado e a nossa terra. Eram os espectáculos dos portugueses, as poucas notícias que nos chegavam eram comentadas por toda a gente.” Notícias dos Açores só pelas cartas da família e dos amigos. Falava-se da política em Portugal, da Guerra e de Salazar e das ajudas que ele dava aos emigrantes. “Cá por mim queria uma máquina de costura. Mas até hoje. Salazar ajudava os emigrantes através do senhor Manuel Teixeira que me apoiou bastante. Salazar deu muito à Paróquia de Santa Cruz e é que mandou a imagem de Nossa Senhora de Fátima para Montreal. Eu não sei se era o Dr. Salazar directamente que ajudava os imigrantes ou se eram os seus “big shots”. Mas era o governo português e o que eu sei é que a imagem de N. S. Fátima veio directamente de Portugal.” A ideia de trazer uma imagem de Fátima para Montreal fazia já parte do ideal emigrante. Era então na catedral de Notre Dame que os primeiros emigrantes assistiam à liturgia em latim.
Finalmente em 1959 os emigrantes vêm um sonho realizado. A imagem de Nossa Senhora de Fátima adquirida em Braga e paga pelo 1º Ministro Oliveira Salazar chega a Montreal imagem e é então depositada numa dependência da Igreja de Notre Dame onde os portugueses podiam orar. Em 1964 é adquirida uma sinagoga a “Neighbourhood House” Igreja da Comunidade” que se torna pequena. Em 1983 a comunidade adquire a escola “Our Lady of Mont Royal” se instala a Igreja Portuguesa de Santa Cruz.
E se Nossa Senhora de Fátima levava o nome português aos quatro cantos do mundo, o Sr. Santo Cristo transportava a identidade açoriana.
“Ah...meu rico Senhor Santo Cristo. Assisti só a uma ou duas festas do Santo Cristo em Montreal porque depois me vim embora.”
Mulher da primeira geração de emigrantes que chegaram ao Quebec, Maria Júlia não conheceu a transposição das festas do Espírito Santo da sua terra para Montreal que só acontece em 1979.

Recordar era um tomento.”

As festas religiosas eram uma oportunidade para recordar. Mas as memórias das festividades religiosas em S. Miguel tornavam-se um tormento. “Sente-se um tormento, uma dor porque não estamos na nossa terra mas mesmo assim estamos a reviver tudo!”

Os feriados em Portugal e as festas religiosas foram intensamente vividas na intimidade dos seus lares pelas mulheres emigrantes.
“No 15 de Agosto, festa de Nossa Senhora dos Anjos em S. Miguel, depois de tanto trabalho na fábrica, a minha irmã cozia ainda pão de trigo em casa; assávamos carnes e lá se fazia o nosso jantar e acabávamos todas por chorar.”
Mas o que faziam as mulheres da família de Maria Júlia nos tempos livres? “Quais tempos livres?”
Outro dos momentos chave, que recordou com grande emoção ao ponto de me levar a mim também às lágrimas, foi o dia da sua nacionalização como cidadã canadiana.
“Antes de casar decidi me nacionalizar. Tive que aprender muita coisa sobre o Canadá.” Para a cerimónia de naturalização, Maria Júlia foi acompanhada de um compatriota seu de Santa Clara, freguesia do concelho de Ponta Delgada. “Eu e ele levávamos uma bandeirinha de papel de Portugal ao peito. Mas tão depressa estou com a minha bandeira como a arrancaram de mim. Fizemos várias juras e quando debaixo do chão...”Maria Júlia não se contem. O choro toma-lhe conta das palavras “ vejo nascer duas bandeiras. Primeiro a portuguesa e depois a canadiana. A gente cantava o hino canadiano – que eu já nem me lembro. Mas pouco depois eu já não estava a cantar o hino. Eu já não estava cantando nada, porque começou a desaparecer a minha bandeira e ficou só a outra. O rapazinho de Santa Clara agarrou-se a mim e disse-me : minha rica terra! Minha rica pátria! Eles não perceberam. Minha rica terra! Eu vim doente para casa. A gente fala, fala de Portugal...que isso....que aquilo...Mas aquela bandeira tem muita influência.
Depois disso tiraram-nos as bandeiras portuguesas e espetaram as do Canadá. Eu disse cá para mim: para que é que eu quero isso? Apesar de eu estar gostando de estar lá eu queria era a minha bandeira. A pessoa que imigra é uma pessoa dividida.”

...hás - de ser a mãe dos meus filhos

Solteira e jovem teve alguns pretendentes em Montreal, mas o seu coração, já tinha dono. “Um deles era do Porto, mas era muito velho e eu não quis.”
Recorda então como conheceu o seu futuro companheiro em S. Miguel. Tinha 18 anos. Ele era da Lomba do Louçã, Concelho da Povoação. “Era empregado na Loja Taveira, onde vendia cortinados, na Rua Hintze Ribeiro. A minha mãe era freguesa de lá. Eu conheci-o quando ia às comprar com a minha mãe. Mas como sabe naquela altura o namoro era um problema. Eu ia à loja duas ou três vezes no ano. Eram estas as vezes que nos víamos.”
Mas como acontece então o namoro de uma jovem doméstica micaelense com um empregado de balcão a trabalhar em Ponta Delgada quando só se viam 2 ou três vezes no ano?. “Ele é que disse à minha mãe que gostava de mim. Ela era uma pessoa muito divertida. Quando chegou à loja fez lá os seus cumprimentos habituais. Olá Senhor Medeiros. O senhor está com uma boa disposição hoje. Parece que passou bem o fim-de-semana. Ao que ele respondeu: Não senhora. Não fui eu que passei bem o fim-de-semana. Foi um amigo meu que foi passear de mão dada com a sua noiva”. Ao que a minha mãe retorquiu .”Muito bem e o senhor como é que foi com a sua?”
A senhora sabe, eu gosto muito de uma moça de Água de Pau que mora na rua de Valverde n.º 2, numa casa de varanda, e se eu tiver de casar, será com ela.”
Minha mãe não disse nada. Mas naquele dia ele fez-me uma coisa engraçada.” A recordação destes momentos faz brotar um sorriso no rosto de Maria Júlia. Ele ofereceu-me um par de meias sem minha mãe ver e, na altura deu-me um aperto de mão. E eu disse: tu nunca mais me dás apertos nenhuns. Isso tudo sem a minha mãe ver.
Mais tarde a minha mãe disse-me: aquele rapazinho...aquele rapazinho parece que gosta de ti.”
Vieram depois as festas de Nossa Senhora dos Anjos. 15 de Agosto. Altura propícia para os pretendentes das jovens casadoiras se juntarem para mais uma “maliça”, um aperto de mão ou um sorriso comprometedor. Assim eram os costumes na ilha. No Domingo da procissão minha mãe vá à janela e depois diz-me:
“Tá aí um bom problema. Aqui no lado de cima está o gato de olho azul. Este era um dos rapazes que gostava de mim. Ele era de Rabo de Peixe. E do lado de baixo, dizia a minha mãe, está o boneco da Porta Larga.”
- ...senhora?
- É o Medeiros...
- Acabei por não ir à festa por causa disso. Mas ele ficou sempre a gostar de mim. Foi o destino. O tempo passou e eu fui para o Canadá e a coisa ficou por aqui.”
Por aqui, ponto e virgula. Porque tal como nos disse Maria Júlia o destino é uma coisa contra a qual não se pode lutar. Como foi casar com uma pessoa que no fundo quase não conhecia? É o coração.”
E assim foi. Em 1965 de regresso a S. Miguel para umas férias de 15 dias, Maria Júlia reencontra o boneco da Porta Larga.
“Eu ainda estou para casar e estou à sua espera à muitos anos. Você vai ser a mãe dos meus filhos. Mas não houve ninguém”, remata Maria Júlia do Espírito Santo, que casa no Canada a 25 de Novembro de 1967, ano em que regressa à terra Natal, onde hoje vive em Ponta Delgada com 73 anos ao lado de Arsénio Sousa Medeiros de 83 anos.(2001)

De encontro com ruínas

1965 é também o ano de reencontro com as ruínas do que antes fora o seu lar “Fui sim senhora visitar a nossa casa!” Di-lo com um tom de voz áspero e amargo. “Só encontrei ruínas. Custou-me muito. Chorei muito. Estava tudo cheio de lenha no que havia sido os nossos quartos, a nossa cozinha com os nossos armários. Foi muito duro! Foi muito duro! Quando fechei a porta jurei que nunca mais havia de lá entrar. Não há palavras. Foi horroroso.” A voz trémula esconde as lágrimas contidas. “Nunca devia ter vendido a nossa casa”.

Achei-me muito decidida...

Mulher açoriana, solteira num país estranho e longe da terra, da língua e da sua bandeira descobriu-se “muito decidida. A vida foi outra. Aquela coisa do acanhamento que a mulher tem, a vergonha isso passou. A gente tem que viver. Eu perdi muito disso no Canadá. Não ia deixar que fizessem pouco de mim. E sempre tratei todos com respeito. Mesmo na fábrica nunca chamava os patrões por “bossas” mas sempre por “monseigneur” ou “madame”, mesmo quando eles me diziam para fazer o contrário. Aprendi assim com os meus pais. Portanto também lá no Canadá ia ser assim.”
A sobrevivência levava a formas improvisadas e inovadoras de comunicação. Maria Júlia quando ia aos stores fazer as suas compras arranjava sempre formas criativas para se fazer entender. “ Fazia sempre da mesma maneira. Cumprimentava todos em francês, porque isso eu sabia. Apresentava-me como imigrée, que falava pouco e lá ia avisando ao empregado, que ele me ia ajudar. E assim através de gestos, das poucas palavras que sabia e até de desenhos, sempre comprei tudo o que precisei, e nunca fui explorada por ninguém.” E explicita como fazia para comprar roupa para os sobrinhos:
- Un garçon...comprennez... ?
- Pantalons? Non...não...
- Ah oui...chemise?
- Oui...é isso ...é isso”...
E lá nos ríamos. Nosso Senhor é que sabe, mas eram tão simpáticos. Quando eu entrava lá eles já se começavam a rir.”
A dificuldade era mútua. Maria Júlia afirma orgulhosamente, que aprendeu muito, mas que também ensinou.
- Quero uma chemise...boa...
- Boa?... Boa Noite! Respondia o empregado que já me conhecia. Encontrei gente boa.”
Guarda boas recordações da comunidade italiana, mas reconhece muitos problemas na comunidade portuguesa de Montreal.
“Era uma ganância muito grande. Uma inveja. Era uma coisa muito séria.”
De regresso a S. Miguel passa o tempo a tricotar. A saúde já não lhe permite os banhos de mar. Os serões são passados junto à televisão. O Canadá é já só uma memória avivada nas cartas que chegam ou nos familiares que vêm de visita. Com o regresso aos Açores e o seu casamento Maria Júlia reconhece que perdeu muita da sua autonomia. Foi um processo difícil. “Mas tinha que ser, e com o tempo adaptei-me. Tive uma boa vida.”
FIM
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