Wednesday, November 26, 2008
Trabalhadores seguros
Passou pelo voluntariado, foi um atleta de renome internacional que chegou às Olimpíadas. É jovem, lusocanadiano e deputado provincial. Foi Ministro do Turismo e é agora responsável pelo Ministério do Trabalho.
Na sua primeira entrevista exclusiva ao Nove Ilhas como Ministro do Trabalho, Peter Fonseca que começa a inteirar-se da complexidadde dos dossiers a ele reservados, mostra estar a levar a peito o novo cargo, talvez por ser-lhe muito próximo. Filho de trabalhadores portugueses, Fonseca conhece bem os sacrifícios e a importância do trabalho e a segurança para as famílias. Por isso quer diminuir o número de acidentes de trabalho – particularmente na construção civil – e assegurar que os trabalhadores conheçam os seus direitos para que se possam defender contra práticas ilegais levadas a cabo por alguns empregadores. No que diz respeito à construção civil, um sector muito querido dos imigrantes portugueses, Fonseca entre muitas outras acções apresentou já legislação para que todos tenham seguro.
Nove Ilhas - Depois do Turismo, que expectativas tem para este Ministério?
Perter Fonseca - É uma honra para mim ter sido esco-lhido para servir primeiro como eleito pelas pessoas de Mississauga e East Cooksville e depois como Ministro do Turismo e agora no Trabalho. O meu papel é servir de acordo com a vontade do primeiro-ministro. Estou muito contente por iniciar um novo desafio. O que fazemos nos nossos ministérios, basicamente é olhar pelas pessoas que são o nosso recurso mais valioso. Não somos como em Alberta que tem petróleo. Aqui na província temos pessoas e elas fazem um trabalho excepcional. O meu ministério tem a responsabilidade de manter as pessoas saudáveis e seguras. Queremos que o local de trabalho seja justo através de boas relações entre empregados e patrões. Vamos continuar o sucesso que temos tido na área do trabalho. Posso dizer que nos últimos cinco anos o número de acidentes de trabalho diminuiu em 20%. Este número significa que por causa das medidas que o governo implementou, 50 mil pessoas não tiveram um acidente de trabalho. Houve um grande impacto humano e fiscal com estas medidas, o que significa que se poupou aos contribuintes 5 biliões de dólares. Esta é uma acção positiva que irei continuar.
NI - Na prática que medidas espera implementar para reduzir ainda mais os acidentes de trabalho?
PF – Eu pretendo continuar a implementar o novo programa que acabamos de lançar “Safe at Work Ontario”. Com ele queremos ter uma atitude proactiva junto das empresas por forma a termos a certeza que podemos desenvolver estratégias junto dos empregadores que antecipem as situações críticas, antes que os acidentes ocorram. Vamos inspeccionar o que não está bem, antes que alguma coisa aconteça. Temos inspectores que são grandes profissionais capazes de fazer este trabalho com as empresas. O importante hoje é termos consciência da necessidade de trabalharmos num ambiente que é seguro e saudável e de implementarmos medidas para uma mudança substancial neste sentido. Junto das escolas estamos também a implementar desde o sétimo ano ao décimo segundo o programa “Live Smart Work Safe”. O meu primeiro emprego foi aos 14 anos e nesta idade eu não tive um programa como este nem tinha ideia dos meus direitos. É crucial que os jovens nas escolas saibam como se proteger de acidentes nos locais de trabalho. Por outro lado, quando estes jovens vão para o seu primeiro emprego – e existem muitos jovens portugueses a trabalhar – eles também podem ajudar o proprietário ou a organização onde trabalham a tornar o local seguro para todos. Ao compreenderem quais são os seus direitos estes jovens vão ser factores de mudança para o melhor sem medo de represálias e antes que um acidente decorra.
NI – Para além de assegurar que a curto prazo os locais de trabalho se tornem mais seguros como pretende mudar a cultura no local de trabalho?
PF – Queremos uma viragem cultural no local de trabalho. Algumas das melhores empresas que conhecemos têm tratado as questões da saúde e segurança no trabalho de uma forma bastante pragmática. Existem do mesmo modo algumas pequenas empresas que o têm feito de forma consciente. Estas são empresas fortes e que apostam em continuar a trabahar a longo prazo nesta província, por isso estão conscientes da necessidade de apostar em investimentos na segurança dos seus trabalhadores que no futuro trarão dividendos positivos importantes. Todavia, ainda temos muitas empresas que não entenderam a mensagem e que decidiram cortar nas despesas não apostando na segurança. Para estas empresas preparamos visitas pelos nossos inspectores que reforçam a lei e fazem com que as mesmas empresas concordem em aplicar as medidas que protejam os seus trabalhadores. Quero que em conjunto encontremos práticas mais positivas no sector da saúde e segurança. Esta é a situação que vim encontrar e cujo sucesso estou a analisar para dar continuidade e assegurar que podemos progredir nestas áreas.
NI - Para além destas questões, outros problemas afectam os trabalhadores: violência, trabalho em agências temporárias, receio de represálias do patrão se fizerem queixas e falta de informação sobre os mesmos direitos.
PF – Tenho alguns dossiers em estudo, alguns deles bastante ineressantes como é o caso da violência no local de trabalho. Houve consultas neste sentido com o meu antecessor e, estamos agora a estudar estratégias de mudança a nível governamental, para resolvermos estas situações. Já algumas pessoas morreram vítimas de violência no local de trabalho. Não tole-ramos violência no emprego e responderemos com celeridade logo que sejamos contactados em situações do género. Vamos tomar medidas para resolver estas situações.
Outra das áreas que estamos a olhar diz respeito às agências de trabalho temporário. Estas agências empregam cerca de 712 mil trabalhadores independentes. Esta é uma das outras áreas que queremos resolver analisando as razões que tornam os nossos trabalhadores vulneráveis. Queremos reduzir esta situação, assegurando que os trabalhadores tenham conhecimento dos seus direitos e que as leis sejam implementadas pelos patrões. Mesmo que empregando trabalhadores com problemas de língua as empresas são responsáveis por mater os trabalhadores informados dos seus direitos e devem saber onde se podem dirigir em caso de dúvidas. Tal deve aplicar-se também às agências de trabalho temporário.
NI – O medo de perder o emprego leva muitas vezes os trabalhadores – na sua maioria novos imigrantes – a recorrerem ao silêncio com receio de perderem o emprego.
PF – O medo de represálias é sempre uma questão a ter em conta, especialmente com tra-balhadores vulneráveis. Para que tal não aconteça queremos facultar os meios para que os trabalhadores saibam quais são os seus direitos e qual o processo a seguir, caso tenham necessidade de fazer uma queixa. Quero deixar a mensagem aos trabalhadores que não tenham receio de fazer vencer os seus direitos. O seu emprego está garantido, os seus direitos garantidos. Não podem ser despedidos porque fizeram uma queixa. Segundo a lei estão protegidos. Eu compreendo que é difícil para muitos tra-balhadores tomarem decisões por medo do que poderá vir a acontecer ao seu emprego. Mas eles estão seguros sempre que façam uma queixa ao ministério.
NI – Concorda com a necessidade de uma campanha mais abrangente junto das empresas e trabalhadores para que ambas as partes respeitem direitos e deveres, particularmente junto dos trabalhadores mais vulneráveis, nomeadamente imigrantes?
PF – Isto é o que pretendemos fazer juntos das agências de trabalho temporário que empregam muitos dos trabalhadores, na sua maioria desconhecedores dos seus direitos. Porque trabalham com muitas organizações diferentes é nossa intenção que estes trabalhadores e estas agências conhecem a lei onde se podem dirigir em caso de necessidade. Na maior parte dos casos, espero que os trabalhadores saibam quem contactar no nosso ministério quando tem dúvidas. O processo de fazer uma queixa foi também muito simplificado. Da papelada que era necessário, agora pode muito simplesmente recorrer à internet para fazer uma queixa, através do “Employment Standards Claims”. A queixa é feita pela internet e recebida em tempo real. Os nossos funcionários começam logo a investigar os casos que vão desde a falta de pagamento de ordenados, férias ou outros. No caso de segurança e saúde o trabalhador pode telefonar directamente ao ministério e, os nossos inspectores tomam logo conta do caso. Não precisa dar o seu nome ou informação pessoal. Uma chamada anónima é o suficiente para começarmos o processo de investigação.
NI – A construção civil é uma área onde os acidentes são uma preocupação. Este é um sector de grande importância para a comunidade portuguesa onde já existe um número significativo de vítimas de acidente. Que preocupações tem para o sector quando ainda há dias trabalhadores sofreram um acidente em condições atmosféricas difíceis. Por causa da crise, acha que se poderá entrar numa fase de descurar custos na segurança?
PF - Não queremos ninguém a “cortar caminho", especialmente na área da segurança dos trabalhadores da construção civil. Os nossos inspectores, que de uma forma pro-activa deslocam-se às empresas de maior risco e mais vulneráveis – nomeadamente trabalho nos telhados, electricidade, ou guindastes e gruas – tudo fazem para ter a certeza que os acidentes não acontecem.
Ao contrário do Turismo, uma das áreas mais difíceis para mim no Ministério do Trabalho, refere-se aos números. Todas as semanas em média recebo dois emails a dizer-me que alguém perdeu a vida a trabalhar. Esta tem sido a parte mais difícil deste trabalho: saber das fatalidades e como as resolver. Por ano acontecem na província 250 mil acidentes. Estamos os dois aqui a falar há 10 ou 15 minutos e neste espaço de tempo cinco incidentes já tiveram lugar. Cinco pessoas, em cada 10 minutos, sofrem um acidente. Muitos destes acidentes podem ser prevenidos e estamos a trabalhar na prevenção. Na construção fazemos o mesmo. Contractámos mais 130 inspectores na província para assegurar que na construção as áreas de maior risco são prioritárias. Posso dar-lhe um exemplo da acção preventiva que estamos a tomar. Na província temos 254 "cranes" a funcionar. O ano passado fomos inspeccionar este equipamento e tivemos que dar ordens de paragem para manutenção a 156 destes equipamentos. Infelizmente, nem sempre a mensagem de segurança chega à indústria. Por isso torna-se fundamental que tenhamos esta acção junto das empresas.
NI- Sei que recentemente tomou a decisão de mandatar a indústria para que todos os trabalhadores na construção tenham seguro. Quais as implicações desta nova legislação?
PF – A ser aprovada esta legislação vai através da WSIB cobrir todos os trabalhadores. Hoje em dia nem todos têm seguro. O problema é que – e tenho recebido muita gente nestas condições – sem seguro os acidentados, que não podem regressar ao mesmo tipo de trabalho, ficam numa situação muito precária. Estes traba-lhadores sofrem não só fisicamente, mas emocionalmente em conjunto com as suas famílias que se veem privadas dos meios de sobrevivência. Porque esta é uma profissão de alto risco queremos toda a gente segurada. No que diz ainda respeito à segurança financiamos, através da Work Place Safety and Insurance Board (WSIB), associações de segurança que se deslocam ao local de trabalho e junto dos trabalhadores das empresas sub-contratadas, ajudam os seus trabalhadores nas áreas da segurança permitindo que os mesmos tenham conhecimento da formação que precisam para a sua segurança pessoal.
alhadores ficam a saber exactamente o que devem fazer. Nos casos em que os nossos inspectores encontrem irregularidades as empresas que têm pessoas a trabalhar sem obedecer às leis de segurança são multadas. Como sabe no caso da construção as grandes companhias tem sub-contratos e há que ter a certeza que obedecem à lei.
NI – O que acha poder trazer de novo ao Ministério do Trabalho?
PF – Essencialmente o que eu gostaria de trazer é uma mudança na percepção cultural que existe no caso da importância da segurança e a saúde no local de trabalho. Estamos a investir em áreas que vão desde as escolas ao “site”. Temos uma comunidade muito diversificada e por isso quero ter a certeza que toda a gente – independentemente da língua ou cultura – seja conhecedora e consciente dos seus direitos como trabalhadores e que os patrões e as organizações que empregam pessoas sejam responsáveis. A formação para a segurança deve ser também contínua, pois as pessoas tem tendência a esquecer ou a “desleixar” um pouco as medidas de segurança. Estas são as áreas nas quais gostaria de deixar uma marca: incentivar uma cultura para a saúde e segurança e garantir que quem está a trabalhar numa área há muito tempo tenha formação contínua, para que as medidas de segurança continuem sempre frescas no dia a dia do trabalhador e que os novos tenham formação adequada.
Em época de crise a construção civil é sempre a que mais sofre. Muitos empregos na nossa comunidade dependem directa ou indirectamente da construção civil.
NI – Em época de crise a construção civil é sempre a que mais sofre. Muitos empregos na nossa comunidade dependem directa ou indirectamente da construção civil. O ministro das Finanças do Ontário anunciou 30 biliões para o sector. Acho que vamos ultrapassar a crise sem grandes efeitos na construção civil?
PF- O grande desafio para todos neste momento é a economia. Estamos numa época de grandes desafios. Há factores que não podemos controlar na província porque são factores externos. O que podemos controlar é o plano que estamos a pôr em prática para nos levar a bom porto durante esta fase e para que quando sairmos dela estejamos na dianteira. Assim o governo está a fazer investimentos, um dos mais importantes diz respeito à construção de infraestruturas na província, que nos vai possibilitar estarmos à frente de muitos outros quando a crise acabar. Queremos tornar a nossa província num local onde os indivíduos e as empresas se sintam bem. Assim estamos a financiar a formação de trabalhadores para termos uma força humana invejada pelos empregadores do exterior. Queremos mais jovens a terminar os seus estudos secundários. O nosso investimento vai para a educação e para a formação profissional contínua. Podemos controlar este plano interno a caminho do futuro para estarmos preparados para o fim da crise com empresas inovadoras, com jovens e trabalhadores com formação adequada, mantendo a inteligência e a inovação da nossa riqueza humana. Queremos estar preparados com novos produtos e serviços para manter o Ontário próspero e forte. Tendo em conta os desafios ambientais e económicos, queremos novos produtos nascidos destes desafios e que serão invejados no país e no exterior. Vamos criar condições para que os nossos trabalhadores sejam inovadores e que criem produtos e serviços novos. Queremos companhias do exterior a trabalhar no Ontário com as nossas pessoas que vão inovar e trazer respostas para os problemas actuais e do futuro. Neste processo a contrução civil e os serviços afins vai modernizar-se e preparar-se para os desafios do futuro. Estou confiante que vamos sair desta crise mais fortes e com respostas que o mundo vai precisar.
Humberta Araújo
Outono: estação dos sentidos
O Outono é sem dúvida uma estação para os sentidos. Deslumbrantes tonalidades pintam o horizonte a cada esquina. As mudanças de temperatura pincelam a cidade, enquanto as primeiras lareiras aquecem os serões e, as mesas ostentam sabores da quadra, que em cada cultura reserva receitas típicas, fruto da forma imaginativa com que aproveitam o produto da terra.
Para nós este é sem dúvida o período do ano em que a memória recria a tradicional vindima, o vinho doce, o figo e a abóbora.
Todavia, o Outono representa, pelo menos para mim uma renovação. No Outono regressava-se às aulas e à aprendizagem o que significava uma abertura ao mundo do conhecimento e ao engrandecimento pessoal. Toronto é sem dúvida uma bela cidade quando acariciada pelas tonalidades outonais.
Uma cidade de universidades de mérito, que incluíram nos seus programas estudos portugueses, o que espelha bem a importância que a nossa língua tem no mundo. E foi do português ensinado nas universidades da América do Norte que se falou em Toronto numa conferência organizada pelo departamento de português desta Universidade.
Durante três dias teve lugar uma análise da problemática do ensino universitário por diversos professores universitários a leccionar no Canadá e nos Estados Unidos. A temática, embora direccionada para as instituições de ensino superior, convergiu muito com o ensino básico e secundário. As experiências de muitos professores e os seus métodos estratégicos de ensino do português como língua estrangeira – que o é para a maioria dos alunos que frequentam aulas nas comunidades – foram infelizmente desperdiçadas pelos docentes não universitários de Toronto. Esta teria sido uma das poucas oportunidades de valorização profissional e de contactos para os professores comunitários. Não foi decerto por falta de convites da organizacão ou de publicidade nos orgãos de comunicação social.
As ocasiões para formação contínua, nomeadamente oficinas de trabalho ou palestras têm sido praticamente nulas. Por isso, qualquer oportunidade deve ser sempre aproveitada, mormente numa profissão onde as metodologias de ensino precisam de se adaptar aos novos tempos e às tecnologias existentes. O departamento de português da Universidade de Toronto está de parabéns.
Ensino da Lingua portuguesa
O português nas universidades da América do Norte foi um tema discutido durante três dias na Universidade de Toronto numa iniciativa do Departamento de português daquela instituição de ensino superior.
Um tema, que embora direccionado para as universidades, convergiu muito com o ensino básico e secundário. As experiências e modos de ensino de muitos dos professores presentes podem ser adaptadas a estratégias para o ensino básico e secundário, numa altura em que o ensino da língua portuguesa deve ser visto como o ensino de uma segunda língua requerendo formação especializada e contínua de professores, muitos deles seguindo um sistema que se encontra divorciado da realidade actual do ensino nas comunidades. Entre muitos temas tratados destaque para ensino da língua e aprendizagem, implicações do acordo ortográfico, língua e cultura fora da sala de aula, o papel da família na diversidade cultural, literatura portuguesa ao nível universitário, boas estratégias de aprendizagem, propósitos pedagógicos, português e brasileiro na sala de aula, material didáctico entre outros. Temas que para os académicos presentes possibilitou uma visão mais abrangente da situação actual e dos muitos caminhos a tomar para o ensino do português como língua estrangeira nas universidades.
A necessidade dos professores se manterem atentos às modificações pedagógicas do ensino do português só é possível “se os docentes tiverem interesse numa formação permanente e se ajustem aos desafios na sala de aula”. Como na altura foi defendido, “o professor não pode ser obrigadoa comparecer a simpósios ou oficinas. Todavia, uma das suas responsabilidades, como bom profissional é manter-se a par do que se passa na sua profissão e isto só é possível com uma formação profissional contínua e o aproveitamento de oportunidades, como esta em Toronto, onde as questões do ensino da língua portuguesa surgem”.
Um dos desafios deixados neste fórum esteve relacionado com a necessidade da coordenação do ensino se envolver mais nas questões da formação contínua de professores, nomeadamente na organização de acções concertadas com apoio de especialistas na área das metodologias de ensino de uma segunda língua.
Os trabalhos destes três dias de congresso incluíram intervenções de docentes da Universidade de Toronto, York, Brown, coordenadora do ensino de português nos Estados Unidos, e representantes da Associação dos Portugueses no Estrangeiro, Instituto Camões, Palcus e Congresso Luso Canadiano.
Humberta Araújo
A crise e a comunidade
Os tempos são de reflexão. A economia de cada indivíduo está directamente relacionada com o país onde reside e a comunidade global. A nada somos indiferentes. Mesmo se a escolha fosse ignorar o que se passa à nossa volta seria impossível, pois muitos factores exteriores, influenciam o nosso dia a dia. Daí a actualidade de um seminário promovido pela Federação de Empresários e Profissionais Luso-Canadianos (FPCBP) para analisar a situação económica actual. Longe de fomentar o “desconforto”, esta iniciativa teve por mérito dizer de forma profissional aos seus membros que a contracção económica é uma realidade, que muitos sectores essenciais para a vida económica da comunidade vão de certo modo ser afectados, nomeadamente a construção civil, o crédito e a imobiliária. São para estas ocasiões que as associações profissionais servem, a par do trabalho constante feito anualmente de formação e informação daqueles que representam. Os portugueses estão preocupados, na maioria dos casos porque desconhecem – até os peritos têm dúvidas – na sua totalidade os factores que estão a influenciar a economia mundial, e consequentemente os seus empregos, as suas dí-vidas ou poupanças. Portanto, nada melhor do que estar informado sobre o que acontece à sua volta, compreender todas as facetas do problema e encontrar dentro do seu próprio meio fórmulas de encarar a crise e assim aliviar os seus impactos.
Nestas circunstâncias, nada melhor do que as associações com representatividade comunitária chamarem a si a responsabilidade de fomentar a discussão e alargar a sua esfera de influência, saindo do mero jantar e baile para mergulharem em questões que afectam directamente a vida dos portugueses.
Sem conhecimento do que se passa será muito mais dificil encarar as dificuldades. Daí que importa expandir as actividades das nossas organizacões, para que assim possam melhor representar a comunidade e chamar a si um número mais atractivo de associados e amigos.
Friday, June 06, 2008
O Espírito e a Função também aqui
Cerca de seiscentas pessoas responderam à chamada da primeira Irmandade do Espírito Santo de Mississauga para a celebração do Pentecostes. Depois da missa, que teve lugar na igreja portuguesa de S. José em Oakville, o cortejo religioso deixou o templo, para dar início a uma curta procissão ao redor da igreja.
Os costumes populares estiveram bastante patentes em todos os aspectos desta celebração açoriana. Em alguns momentos do cortejo era possível reviver as imagens e os cenários da ilha: as coroas, os diálogos, a filarmónica, o choro de uma criança, as recordações de um idoso, o membro da filarmónica a descansar, a estreita canada delineada pelo arvoredo, o andor, a bandeira do arquipélago.
Como ditam os costumes deste festejo em louvor do Espírito Santo, depois de cumpridos os deveres religiosos, chegou o momento da confraternização e do alimento. O caldo, que há muitas horas vinha sendo preparado na cozinha da igreja pelas diligentes cozinheiras e ajudantes, era distribuído com mestria a todos, acompanhado das tradicionais carnes cozidas e depois a alcatra, o bolo e o vinho e refrescos. Uma mesa farta, que simboliza o espírito da dádiva e do quinhão. Aqui partilha-se o gosto pelo memorial, e o reviver de um povo que se reconhece, como nenhum outro, nos símbolos seculares do reinado do império: a coroa, a pomba e o estandarte. Equipados com os símbolos do poder terreno, o povo açoriano encontrou a sua fórmula para fugir ao esquecimento: o império do espírito.
E em Oakville foi possível uma vez mais reviver esta conquista.
Texto e fotos
Humberta Araújo
Quando a verdade incomoda
Recentemente a Aliança dos Clubes (ACAPO) responsável pela organização das festas da Semana de Portugal em Toronto, reuniu os órgãos de comunicação social e patrocinadores num encontro-almoço para dar a conhecer à comunidade o extenso e bastante diversificado programa das festividades da Semana de Portugal. Uma das grandes novidades desta edição 2008, que já fica conhecida pelo “Mês de Portugal” centra-se no facto desta celebração cultural portuguesa “saltar” a geografia do seu característico espaço sócio-cultural para se dar a conhecer aos canadianos não lusos. Assim, locais de grande valor turístico para o Ontário vão receber também a cultura portuguesa, nomeadamente o “Bata Show Museum”, o “Eaton Centre” entre outros.
O programa da Semana de Portugal já se tornou num acontecimento colectivo de grande valor para o calendário turístico da província e, já foi considerado, como a maior manifestação de portugalidade fora de Portugal.
A iniciativa foi agora contemplada com um apoio do governo da província através do programa “ Celebrate Ontário”, do Ministério do Turismo.
Os fundos públicos, que resultam dos impostos de todos os canadianos, entre eles os trabalhadores luso-canadianos, são propriedade pública e, como tal, devem ser disponibilizados sempre que sejam solicitados. Na conferência de imprensa fomos informados que a festa estava orçada em 400 mil dólares, montante que será coberto pelo generoso apoio de muitos patrocinadores portugueses e pelo Ministério do Turismo. Como qualquer jornalista profissional e interessado nos factos, solicitamos à ACAPO informações sobre o montante que a instituição vai receber do governo. À segunda tentativa, a sugestão foi a de que teríamos de perguntar ao Ministério do Turismo (!!!), uma vez que a informação faz parte do registo público e que como tal o ministério “teria muito prazer em facultar esta informação.” E assim fizemos.
A gentileza do ministro Peter Fonseca foi tal, que se deu ao trabalho de ligar à jornalista pessoalmente para providenciar todos os dados no passado dia 27. Assim sendo os portugueses e as associações - entidades públicas – ficam a saber que o governo vai dar mais de 73 mil e seiscentos dólares, os quais devem ser gastos em determinados sectores da Semana de Portugal, que garantem maior número de participantes, mais envolvimento na organização e presença de artistas e outros personalidades que enriqueçam a festa cultural portuguesa.
A “indisponibilidade" da Aliança em fornecer estes dados deixou igualmente o ministro surpreso, que fez questão de publicamente anunciar na cerimónia oficial da abertura da Semana de Portugal no consulado, o montante que o ministério disponibiliza para a festa portuguesa!
O programa da Semana de Portugal já se tornou num acontecimento colectivo de grande valor para o calendário turístico da província e, já foi considerado, como a maior manifestação de portugalidade fora de Portugal.
A iniciativa foi agora contemplada com um apoio do governo da província através do programa “ Celebrate Ontário”, do Ministério do Turismo.
Os fundos públicos, que resultam dos impostos de todos os canadianos, entre eles os trabalhadores luso-canadianos, são propriedade pública e, como tal, devem ser disponibilizados sempre que sejam solicitados. Na conferência de imprensa fomos informados que a festa estava orçada em 400 mil dólares, montante que será coberto pelo generoso apoio de muitos patrocinadores portugueses e pelo Ministério do Turismo. Como qualquer jornalista profissional e interessado nos factos, solicitamos à ACAPO informações sobre o montante que a instituição vai receber do governo. À segunda tentativa, a sugestão foi a de que teríamos de perguntar ao Ministério do Turismo (!!!), uma vez que a informação faz parte do registo público e que como tal o ministério “teria muito prazer em facultar esta informação.” E assim fizemos.
A gentileza do ministro Peter Fonseca foi tal, que se deu ao trabalho de ligar à jornalista pessoalmente para providenciar todos os dados no passado dia 27. Assim sendo os portugueses e as associações - entidades públicas – ficam a saber que o governo vai dar mais de 73 mil e seiscentos dólares, os quais devem ser gastos em determinados sectores da Semana de Portugal, que garantem maior número de participantes, mais envolvimento na organização e presença de artistas e outros personalidades que enriqueçam a festa cultural portuguesa.
A “indisponibilidade" da Aliança em fornecer estes dados deixou igualmente o ministro surpreso, que fez questão de publicamente anunciar na cerimónia oficial da abertura da Semana de Portugal no consulado, o montante que o ministério disponibiliza para a festa portuguesa!
Thursday, June 05, 2008
O sucesso português
O abandono escolar português resulta de factores de ordem social e cultural. As estatísticas estão aí. Embora talvez gostássemos que as mesmas não surgissem nos orgãos de comunicação social canadianos, ou que fossem transmitidas primeiro à comunidade, o facto é que os números, bonitos ou não, são oficiais e compilados por organismos estatais ou pelos corpos governamentais das escolas públicas e católicas. Estes são números igualmente confirmados por diversos outros estudos feitos por investigadores universitários em Toronto, Montreal e Vancouver.
Os corpos directivos das escolas têm os seus ‘trustees’, membros escolhidos pelos eleitores, cujo papel é auscultar as suas comunidades e aconselhar os ‘boards’ das escolas. Estes ‘trustees’ – portugueses ou não - há muito que conhecem os números do insucesso escolar português. Porém, e ao que parece, alguns gostam de os camuflar ou esquecê-los. Quem sabe, talvez por incapacidade de trazer à mesa as razões para os números; ou porque não encontram, no seu pequeno mundo, as medidas concretas para abordar o paradoxo. E digo paradoxo, por considerar que por si só este não é um problema – é tão somente uma visão diferente de ver a vida e o sucesso, que não se integra na perspectiva da superioridade intelectual comungada por muitos. Esta visão transporta consigo o desafio de compreender e aceitar como válidas as percepções de riqueza, reconhecimento social e satisfacão pessoal. Há, portanto, a fazer um trabalho profundo, que passa por uma auscultação honesta, junto dos alunos, das famílias, dos ‘boards’ e dos governos. Os jovens portugueses – a maioria destes 43% da escola pública (a situção deve ser idêntica na católica, embora fôssemos informados pelo departamento das relações comunitárias, que os números não existem - têm uma percepção diferente do sucesso. Filhos de famílias operárias, por razões sócio-económicas decidem iniciar uma profissão cedo (algumas com salários bastantes apreciáveis, nomeadamente no ramo da construção civil, restauração e pequenas empresas afins), pois querem garantir os meios materiais, que suportem a sua percepção de sucesso, em parte herdada da família, que imigrou para fugir à pobreza. A este factor há que aliar o facto de muitos destes jovens casarem extremamente cedo e, na maioria dos casos, com membros da sua comunidade linguística, os quais comugam dos mesmos valores.
Estes jovens abandonam o sistema não para entrarem numa vida de delinquência (como se constacta nas jovens comunidades africanas), mas para seguirem uma via de sucesso que consideram honrosa e herdada das famílias.
Não podemos também ignorar o forte impacto que o sistema ditactorial teve em várias gerações de portugueses. Apesar de ter constituído um sistema obrigatório de aprendizagem até à quarta-classe, nunca incutiu nos portugueses uma percepção de sucesso individual, que decerto levaria, a incitar ao conflicto e ao desmoronamento do sistema suportado pelos pilares : “Pátria, Deus e Família.” Por outro lado, e reflectindo particularmente no caso insular, a exploração da terra pelos rendeiros e a subserviência aos senhores proprietários e aos seus filhos ‘meninos doutores’ não serviu para alimentar no povo o desejo de ‘mandar os filhos estudar para a cidade’ antro de perdição de valores. Enquanto que os ‘meninos doutores’ viviam do fruto do trabalho das famílias a quem arrendavam a terra, os outros jovens viviam a trabalhar de sol a sol, para garantir o mínimo de dignidade. Este fosso cravou na alma açoriana uma certa aversão ‘ao estudo, à cidade’, à vida dos donos da terra. Assim, a virtude do homem e da mulher que emigrou continuou enraizada na ética do trabalho, do amor à terra e do respeito mútuo. Tendo em conta estes factores, poder-se-á dizer que o abandono escolar português não está aí para o escondermos ou para nos humilhar. Deve servir sim, para que mostremos aos restantes ‘canadianos’, que temos percepcões diferentes do sucesso, e que os nossos jovens necessitam é que o governo do Ontário, juntamente com os conselhos directivos das escolas, os ‘trustees’, (sejam eles quais forem), em parceria com os alunos, as famílias e a comunidade encontrem os caminhos e os meios que possam responder às necessidades dos nossos jovens e da economia da província. O país e a província necessita de mais imigrantes. Vamos junto dos actores deste processo tentar saber como é que os jovens portugueses, já equipados de uma ética profissional e pessoal forte, podem apoiar a província no seu desenvolvimento, enquanto garantem uma visão de sucesso portuguesa. A terminar, uma palavra aos nossos ‘trustees’: os orgãos de comunicação social portugueses, entre eles o Nove Ilhas, são tão ou mais conhecedores das questões comunitárias, que o “Toronto Sun” ou a ‘TVO” expôs. A vossa comunidade é a comunidade portuguesa e, por isso, a ela devem em primeiro lugar responder, nomeadamente quando inquiridos pelos OCS. E por favor, não deixemos no ar a vaga possibilidade de uma escola lusocêntrica.
Humberta Araujo
Os corpos directivos das escolas têm os seus ‘trustees’, membros escolhidos pelos eleitores, cujo papel é auscultar as suas comunidades e aconselhar os ‘boards’ das escolas. Estes ‘trustees’ – portugueses ou não - há muito que conhecem os números do insucesso escolar português. Porém, e ao que parece, alguns gostam de os camuflar ou esquecê-los. Quem sabe, talvez por incapacidade de trazer à mesa as razões para os números; ou porque não encontram, no seu pequeno mundo, as medidas concretas para abordar o paradoxo. E digo paradoxo, por considerar que por si só este não é um problema – é tão somente uma visão diferente de ver a vida e o sucesso, que não se integra na perspectiva da superioridade intelectual comungada por muitos. Esta visão transporta consigo o desafio de compreender e aceitar como válidas as percepções de riqueza, reconhecimento social e satisfacão pessoal. Há, portanto, a fazer um trabalho profundo, que passa por uma auscultação honesta, junto dos alunos, das famílias, dos ‘boards’ e dos governos. Os jovens portugueses – a maioria destes 43% da escola pública (a situção deve ser idêntica na católica, embora fôssemos informados pelo departamento das relações comunitárias, que os números não existem - têm uma percepção diferente do sucesso. Filhos de famílias operárias, por razões sócio-económicas decidem iniciar uma profissão cedo (algumas com salários bastantes apreciáveis, nomeadamente no ramo da construção civil, restauração e pequenas empresas afins), pois querem garantir os meios materiais, que suportem a sua percepção de sucesso, em parte herdada da família, que imigrou para fugir à pobreza. A este factor há que aliar o facto de muitos destes jovens casarem extremamente cedo e, na maioria dos casos, com membros da sua comunidade linguística, os quais comugam dos mesmos valores.
Estes jovens abandonam o sistema não para entrarem numa vida de delinquência (como se constacta nas jovens comunidades africanas), mas para seguirem uma via de sucesso que consideram honrosa e herdada das famílias.
Não podemos também ignorar o forte impacto que o sistema ditactorial teve em várias gerações de portugueses. Apesar de ter constituído um sistema obrigatório de aprendizagem até à quarta-classe, nunca incutiu nos portugueses uma percepção de sucesso individual, que decerto levaria, a incitar ao conflicto e ao desmoronamento do sistema suportado pelos pilares : “Pátria, Deus e Família.” Por outro lado, e reflectindo particularmente no caso insular, a exploração da terra pelos rendeiros e a subserviência aos senhores proprietários e aos seus filhos ‘meninos doutores’ não serviu para alimentar no povo o desejo de ‘mandar os filhos estudar para a cidade’ antro de perdição de valores. Enquanto que os ‘meninos doutores’ viviam do fruto do trabalho das famílias a quem arrendavam a terra, os outros jovens viviam a trabalhar de sol a sol, para garantir o mínimo de dignidade. Este fosso cravou na alma açoriana uma certa aversão ‘ao estudo, à cidade’, à vida dos donos da terra. Assim, a virtude do homem e da mulher que emigrou continuou enraizada na ética do trabalho, do amor à terra e do respeito mútuo. Tendo em conta estes factores, poder-se-á dizer que o abandono escolar português não está aí para o escondermos ou para nos humilhar. Deve servir sim, para que mostremos aos restantes ‘canadianos’, que temos percepcões diferentes do sucesso, e que os nossos jovens necessitam é que o governo do Ontário, juntamente com os conselhos directivos das escolas, os ‘trustees’, (sejam eles quais forem), em parceria com os alunos, as famílias e a comunidade encontrem os caminhos e os meios que possam responder às necessidades dos nossos jovens e da economia da província. O país e a província necessita de mais imigrantes. Vamos junto dos actores deste processo tentar saber como é que os jovens portugueses, já equipados de uma ética profissional e pessoal forte, podem apoiar a província no seu desenvolvimento, enquanto garantem uma visão de sucesso portuguesa. A terminar, uma palavra aos nossos ‘trustees’: os orgãos de comunicação social portugueses, entre eles o Nove Ilhas, são tão ou mais conhecedores das questões comunitárias, que o “Toronto Sun” ou a ‘TVO” expôs. A vossa comunidade é a comunidade portuguesa e, por isso, a ela devem em primeiro lugar responder, nomeadamente quando inquiridos pelos OCS. E por favor, não deixemos no ar a vaga possibilidade de uma escola lusocêntrica.
Humberta Araujo
Thursday, May 29, 2008
OS PORTUGUESES MUDARAM TORONTO
Tal como os pais, os jovens
portugueses dão valor ao trabalho
Entrevista e fotos
Humberta Araújo
Toronto
“A comunidade de língua portuguesa é vibrante, activa e integrada na cidade em áreas tão diversas como a cultura, os negócios e a política. É literalmente possível dizer-se que a comunidade portuguesa, foi uma das comunidades que construiu Toronto. Os portugueses foram muito activos no movimento sindical assegurando protecção aos trabalhadores. Numa perspectiva muito pessoal, recordo que a minha mãe ao vir para Toronto após ter vivido em Londres durante o “blitz” acabou por abandonar a cidade. A razão, segundo me disse, foi porque achou Toronto “desinteressante”. Esta situação mudou definitivamente a partir dos anos 50 e 60. Toronto tornou-se numa cidade dinâmica, viva e de sucesso. A comunidade portuguesa é uma das razões desta mudança. De uma cidade tipo presbisteriana, Toronto passou a ser uma urbe mais europeia, com charme e interesse. Sem dúvida que os portugueses contribuíram, enormemente para esta mudança."
Impostos para todos
Os membros da comunidade de língua portuguesa, tal como todos os outros cidadãos deste município contribuem para as finanças da autarquia e são afectados por toda e qualquer decisão do município. David Miller diz estar consciente da situação e que apesar dos apertos financeiros do orçamento camarário, que obrigaram à implementação de novos impostos, estas novas cargas fiscais não afectam os trabalhadores. "Com a integração de outros municípios, a cidade não possuía os fundos financeiros necessários para fazer aquilo que os seus munícipes esperavam. Desde esta altura – 10 anos ainda antes da minha presidência - que o município tem sobrevivido com dificuldade. Tivemos algum apoio do governo provincial de Dalton McGuinty, mas continuamos a ter problemas financeiros, em parte devido ao facto de o governo ter transferido para a câmara responsabilidades da província nas áreas dos serviços sociais e transportes, que agora devem ser pagos pela cidade. Os novos impostos foram para meter os nossos ‘livros’ em ordem. Posso dizer que este ano temos o nosso primeiro orçamento equilibrado. Assim pudemos conservar serviços essenciais para os cidadãos, entre eles os portugueses."
Consciente da polémica em torno do “Land Transfer Tax” Davi Miller continua a defender o novo imposto, considerando-o justo. “Na minha perspectiva este é um imposto equitativo porque atinge quem tem mais, financiando os serviços para todos. É também um imposto progressivo. Se tem uma casa que vale mais do que um milhão de dólares, o imposto cobrado durante a transacção reverte a favor da cidade. Obviamente, que esta pessoa paga substancialmente mais do que se a casa custasse 250 mil. Se a sua casa vale menos de 400 mil e é a primeira vez que concretiza uma transacção não paga nada." Na prática”assegura Miller “este imposto progressivo cobra aos que têm mais, em beneficio de todos e, especialmente dos que possuem menos. Acho que esta filosofia se adapta perfeitamente aos princípios dos canadianos e possibilitou-nos que preservássemos não só serviços actuais, como investíssemos em novos programas que as pessoas desejam.”
“Vamos ganhar o GST”
Para David Miller estas medidas fiscais “ajudaram muito” embora existam ainda algumas áreas a rever, nomeadamente na forma de funcionamento do imposto sobre a propriedade. “Este ano arrecadamos exactamente o mesmo montante de impostos que o ano passado, com excepção para os novos imóveis. Na prática, se num local o valor de uma propriedade subir e, consequentemente aumentar o total arrecadado pelo imposto, noutro local da cidade outra pessoa paga menos. Por esta razão recebemos o mesmo. Porém, as nossas despesas continuaram a aumentar, em parte por causa dos serviços que usam combustíveis. O combustível continua a subir, mas nem por isso os dinheiros da câmara aumentam. O “Land Transfer Tax”vai ajudar um pouco a ultrapassar esta situação, mas a longo prazo vamos necessitar, tal como acontece na Europa de termos um imposto de venda – “Sales Tax”. Por isso “salientou o presidente da câmara, “estamos a trabalhar muito na campanha "1 cêntimo do GST.” Miller considera que a luta da edilidade a favor desta fatia do GST está já a dar passos significativos para a sua institucionalização. “Registamos já nesta matéria algum progresso. Os Liberais e o NDP mostram muita sensibilidade para a nossa luta. O governo federal dos Conservadores não tem neste momento ainda opinião positiva sobre o assunto. De registar, no entanto, que no Outono passado em algumas cidades, o imposto sobre gás foi implementado. Acho que tal aconteceu porque o parlamento aprovou tal medida na sequência da mossa campanha pelo GST. Levou-nos 7 anos para termos o imposto sobre o combustível. Estamos a lutar por uma fatia do GST há um ano. Cedo ou tarde vamos ver o nosso desejo realizado porque esta é uma luta justa.”
A propósito dos fundos federais para as cidades, Miller relembrou a sua recente visita à China, onde constatou situações em que os municípios usufruem de importantes meios financeiros advindos dos impostos federais. “Acabei de vir de uma visita à China e o município que visitei recebe metade das receitas fiscais. Nós recebemos seis cêntimos por dólar. Não admira que a China esteja a investir.”
Apesar dos contratempos nesta campanha por uma fatia do GST, David Miller está optimista. “Iremos ganhar esta luta. Uma percentagem de 65% dos canadianos concorda com esta medida. E quando os canadianos concordam, eventualmente o parlamento acaba também por concordar”.
“Temos que seguir o exemplo europeu”
Miller vê na Europa muitos exemplos a seguir pelos governos centrais relativamente ao seu espaço territorial. “Quando olhamos para a Europa, através da União Europeia ou outros, verifica-se investimento. Na Europa vê-se investimentos nas infra-estruturas e nas pessoas. Nós aqui temos uma cidade moderna, excepcional e da qual estamos muito orgulhosos. Todavia, necessitamos de investir também. Temos por exemplo um projecto nos transportes. O “Transit City” pretende construir um sistema de transporte rápido por toda a cidade. Já conseguimos algum dinheiro da província e estamos já a começar a construir três novas linhas. Os estudos de impacto ambiental estão em marcha. Estes investimentos criam empregos, tornam a cidade mais atractiva para quem nela quer viver.” Miller exprimiu a sua admiração pelo sistema europeu, considerando que ele tem apoiado o desenvolvimento integrado das suas parcelas. “Temos que começar a pensar do mesmo modo e a apanhar o comboio da Europa e da China para começarmos a andar.”
Uma das questões levadas ao presidente da câmara esteve relacionada com o facto da "Sociedade Portuguesa dos Deficientes/Society of Portuguese Disabled Persons" estar há muito tempo a lutar pela isensão dos impostos pagos pela propriedade onde funcionam os seus serviços. Apesar de ter ganho uma batalha ao ver o imposto comercial ter sido substituído pelo imposto habitacional, a luta vai no sentido da instituição ficar totalmente isenta de impostos sobre a propriedade. Apesar de promessas de alguns conselheiros municipais que estariam a lutar pela isenção, Miller diz desconhecer completamente a questão, afirmando estar disponível para analisar o problema concreto e encontrar soluções para o estrangulamento financeiro da instituição. “Existem questões a ponderar nesta situação: Os impostos provinciais, tem regras especificas ditadas pela província.
Dentro das regras provinciais a municipalidade tem alguma mobilidade. Esta situação particular nunca foi posta à minha consideração. É sempre um desafio para nós quando as pessoas transformam uma propriedade com estatuto comercial para outros fins acarretando para o município perca de rendimentos. Todavia, temos algumas politicas que se referem directamente a organizações sem fins lucrativos. É sem dúvida possível que possamos olhar para esta situação particular. Não lhe posso dar pormenores sobre este assunto em particular, até porque pode haver algumas regras provinciais que se apliquem. Mas caso sejam regras autárquicas podemos olhar, em particular, a este caso.”
A questão da criação de uma escola afro - centrista no município e as elevadas percentagens de abandono escolar no seio da comunidade portuguesa foram outros assuntos tratados com o presidente da câmara. A propósito Miller declarou ao Nove Ilhas que “eu não mando nas escolas. Evidentemente que tenho as minhas opiniões pessoais sobre o assunto. A questão de uma escola afro - centrista no nosso município é da inteira responsabilidade do executivo das escolas públicas. Estou igualmente consciente da questão que se relaciona com o abandono escolar dos jovens portugueses em Toronto, mas estes são assuntos que nos ultrapassam.”
Questionado sobre a possibilidade do município trabalhar em conjunto com a província para, no caso português, incentivar o apoio a programas de aprendizagem nas áreas dos ofícios, Miller foi peremptório.
“Nós estamos a trabalhar num importante número de iniciativas, particularmente na área dos ofícios. O Ontário tinha um programa de aprendizagem muito bom, que não foi seguido e protegido da forma como devia ter sido. Nós, cidade de Toronto, estamos a trabalhar com o governo provincial e bairros no sentido de assegurar que existam sistemas de formação profissional não só na área dos ofícios – que sabemos paga bem - mas também nas artes, nos novos media, entre outros.
A comunidade portuguesa dá muito valor ao trabalho e é normal que os jovens sigam esta filosofia de vida. Acredito que a eles se deve apresentar um vasto campo de possibilidades. Confesso que estou preocupado com a área dos ofícios pois parece-me que não tem sido dada a atenção especial que merece. Eles são muito importantes, especialmente para a cidade de Toronto, uma cidade líder na construção e afins. Temos por isso que assegurar que a formação profissional existe para quem escolhe outras formas de vida.
Buracos nas ruas: 5 dias promete Miller
O Inverno foi um dos mais rigorosos dos últimos tempos e as estradas sofreram substancialmente. “O Inverno foi muito mau, mas estamos também a pagar pelo facto da cidade nos últimos 15 anos ter deferido trabalhos de manutenção por causa de problemas financeiros. Nos últimos dois orçamentos começamos a resolver esta situação. Estamos a aumentar os serviços de manutenção e garantimos aos munícipes cinco dias no máximo, para repararmos qualquer buraco que encontrem, logo que sejamos informados. Acho que pelo final da Primavera teremos feito um bom trabalho na reparação das vias e as pessoas vão ver um melhoramento nestes serviços.”
Todos com direito à informação
A cidade de Toronto tem serviços diversificados para apoio ao munícipe e está empenhada em prosseguir serviços para todos os cidadãos. Todavia, por questões de língua não chegam a todos os munícipes. Uma delas, por exemplo referiu Miller diz respeito a uma campanha a favor do controlo de armas – Gun Ban - que Miller está a levar a efeito, Miller reconheceu ao Nove Ilhas que a cidade não tem feito um bom trabalho de informação junto dos seus constituintes.
Todavia, com a recente aprovação de novos poderes para o presidente, Miller assegura que os portugueses, como outras comunidades, vão ouvir falar mais da sua cidade. “Temos trabalhado cuidadosamente para que os órgãos de comunicação social de todas as comunidades sejam informadas dos nossos serviços e do que acontece na sua cidade. Mas a verdade é que a cidade não tem feito o melhor que pode para manter todos informados, situação que se reflectiu por exemplo, o verão passado quando tivemos que fazer cortes nos serviços camarários, porque os novos impostos tinham sido deferidos. As pessoas ficaram surpreendidas por que desconheciam que a cidade funciona num sistema de governo 'pay-as-you’.”
Esta situação resultou, segundo David Miller da estrutura existente na qual “todo o conselho administrava a cidade e ninguém era responsável por levar a mensagem para o exterior. Agora tenho esta possibilidade legal de o fazer." E, numa altura em que a comunidade portuguesa se prepara para celebrar Portugal, David Miller no final da sua conversa com o Nove Ilhas, deixou um agradecimento especial a toda a comunidade de língua portuguesa "pelo seu trabalho e contributo na construção da identidade desta cidade de Toronto."
Texto e fotos: Humberta Araújo
portugueses dão valor ao trabalho
Entrevista e fotos
Humberta Araújo
Toronto
“A comunidade de língua portuguesa é vibrante, activa e integrada na cidade em áreas tão diversas como a cultura, os negócios e a política. É literalmente possível dizer-se que a comunidade portuguesa, foi uma das comunidades que construiu Toronto. Os portugueses foram muito activos no movimento sindical assegurando protecção aos trabalhadores. Numa perspectiva muito pessoal, recordo que a minha mãe ao vir para Toronto após ter vivido em Londres durante o “blitz” acabou por abandonar a cidade. A razão, segundo me disse, foi porque achou Toronto “desinteressante”. Esta situação mudou definitivamente a partir dos anos 50 e 60. Toronto tornou-se numa cidade dinâmica, viva e de sucesso. A comunidade portuguesa é uma das razões desta mudança. De uma cidade tipo presbisteriana, Toronto passou a ser uma urbe mais europeia, com charme e interesse. Sem dúvida que os portugueses contribuíram, enormemente para esta mudança."
Impostos para todos
Os membros da comunidade de língua portuguesa, tal como todos os outros cidadãos deste município contribuem para as finanças da autarquia e são afectados por toda e qualquer decisão do município. David Miller diz estar consciente da situação e que apesar dos apertos financeiros do orçamento camarário, que obrigaram à implementação de novos impostos, estas novas cargas fiscais não afectam os trabalhadores. "Com a integração de outros municípios, a cidade não possuía os fundos financeiros necessários para fazer aquilo que os seus munícipes esperavam. Desde esta altura – 10 anos ainda antes da minha presidência - que o município tem sobrevivido com dificuldade. Tivemos algum apoio do governo provincial de Dalton McGuinty, mas continuamos a ter problemas financeiros, em parte devido ao facto de o governo ter transferido para a câmara responsabilidades da província nas áreas dos serviços sociais e transportes, que agora devem ser pagos pela cidade. Os novos impostos foram para meter os nossos ‘livros’ em ordem. Posso dizer que este ano temos o nosso primeiro orçamento equilibrado. Assim pudemos conservar serviços essenciais para os cidadãos, entre eles os portugueses."
Consciente da polémica em torno do “Land Transfer Tax” Davi Miller continua a defender o novo imposto, considerando-o justo. “Na minha perspectiva este é um imposto equitativo porque atinge quem tem mais, financiando os serviços para todos. É também um imposto progressivo. Se tem uma casa que vale mais do que um milhão de dólares, o imposto cobrado durante a transacção reverte a favor da cidade. Obviamente, que esta pessoa paga substancialmente mais do que se a casa custasse 250 mil. Se a sua casa vale menos de 400 mil e é a primeira vez que concretiza uma transacção não paga nada." Na prática”assegura Miller “este imposto progressivo cobra aos que têm mais, em beneficio de todos e, especialmente dos que possuem menos. Acho que esta filosofia se adapta perfeitamente aos princípios dos canadianos e possibilitou-nos que preservássemos não só serviços actuais, como investíssemos em novos programas que as pessoas desejam.”
“Vamos ganhar o GST”
Para David Miller estas medidas fiscais “ajudaram muito” embora existam ainda algumas áreas a rever, nomeadamente na forma de funcionamento do imposto sobre a propriedade. “Este ano arrecadamos exactamente o mesmo montante de impostos que o ano passado, com excepção para os novos imóveis. Na prática, se num local o valor de uma propriedade subir e, consequentemente aumentar o total arrecadado pelo imposto, noutro local da cidade outra pessoa paga menos. Por esta razão recebemos o mesmo. Porém, as nossas despesas continuaram a aumentar, em parte por causa dos serviços que usam combustíveis. O combustível continua a subir, mas nem por isso os dinheiros da câmara aumentam. O “Land Transfer Tax”vai ajudar um pouco a ultrapassar esta situação, mas a longo prazo vamos necessitar, tal como acontece na Europa de termos um imposto de venda – “Sales Tax”. Por isso “salientou o presidente da câmara, “estamos a trabalhar muito na campanha "1 cêntimo do GST.” Miller considera que a luta da edilidade a favor desta fatia do GST está já a dar passos significativos para a sua institucionalização. “Registamos já nesta matéria algum progresso. Os Liberais e o NDP mostram muita sensibilidade para a nossa luta. O governo federal dos Conservadores não tem neste momento ainda opinião positiva sobre o assunto. De registar, no entanto, que no Outono passado em algumas cidades, o imposto sobre gás foi implementado. Acho que tal aconteceu porque o parlamento aprovou tal medida na sequência da mossa campanha pelo GST. Levou-nos 7 anos para termos o imposto sobre o combustível. Estamos a lutar por uma fatia do GST há um ano. Cedo ou tarde vamos ver o nosso desejo realizado porque esta é uma luta justa.”
A propósito dos fundos federais para as cidades, Miller relembrou a sua recente visita à China, onde constatou situações em que os municípios usufruem de importantes meios financeiros advindos dos impostos federais. “Acabei de vir de uma visita à China e o município que visitei recebe metade das receitas fiscais. Nós recebemos seis cêntimos por dólar. Não admira que a China esteja a investir.”
Apesar dos contratempos nesta campanha por uma fatia do GST, David Miller está optimista. “Iremos ganhar esta luta. Uma percentagem de 65% dos canadianos concorda com esta medida. E quando os canadianos concordam, eventualmente o parlamento acaba também por concordar”.
“Temos que seguir o exemplo europeu”
Miller vê na Europa muitos exemplos a seguir pelos governos centrais relativamente ao seu espaço territorial. “Quando olhamos para a Europa, através da União Europeia ou outros, verifica-se investimento. Na Europa vê-se investimentos nas infra-estruturas e nas pessoas. Nós aqui temos uma cidade moderna, excepcional e da qual estamos muito orgulhosos. Todavia, necessitamos de investir também. Temos por exemplo um projecto nos transportes. O “Transit City” pretende construir um sistema de transporte rápido por toda a cidade. Já conseguimos algum dinheiro da província e estamos já a começar a construir três novas linhas. Os estudos de impacto ambiental estão em marcha. Estes investimentos criam empregos, tornam a cidade mais atractiva para quem nela quer viver.” Miller exprimiu a sua admiração pelo sistema europeu, considerando que ele tem apoiado o desenvolvimento integrado das suas parcelas. “Temos que começar a pensar do mesmo modo e a apanhar o comboio da Europa e da China para começarmos a andar.”
Uma das questões levadas ao presidente da câmara esteve relacionada com o facto da "Sociedade Portuguesa dos Deficientes/Society of Portuguese Disabled Persons" estar há muito tempo a lutar pela isensão dos impostos pagos pela propriedade onde funcionam os seus serviços. Apesar de ter ganho uma batalha ao ver o imposto comercial ter sido substituído pelo imposto habitacional, a luta vai no sentido da instituição ficar totalmente isenta de impostos sobre a propriedade. Apesar de promessas de alguns conselheiros municipais que estariam a lutar pela isenção, Miller diz desconhecer completamente a questão, afirmando estar disponível para analisar o problema concreto e encontrar soluções para o estrangulamento financeiro da instituição. “Existem questões a ponderar nesta situação: Os impostos provinciais, tem regras especificas ditadas pela província.
Dentro das regras provinciais a municipalidade tem alguma mobilidade. Esta situação particular nunca foi posta à minha consideração. É sempre um desafio para nós quando as pessoas transformam uma propriedade com estatuto comercial para outros fins acarretando para o município perca de rendimentos. Todavia, temos algumas politicas que se referem directamente a organizações sem fins lucrativos. É sem dúvida possível que possamos olhar para esta situação particular. Não lhe posso dar pormenores sobre este assunto em particular, até porque pode haver algumas regras provinciais que se apliquem. Mas caso sejam regras autárquicas podemos olhar, em particular, a este caso.”
A questão da criação de uma escola afro - centrista no município e as elevadas percentagens de abandono escolar no seio da comunidade portuguesa foram outros assuntos tratados com o presidente da câmara. A propósito Miller declarou ao Nove Ilhas que “eu não mando nas escolas. Evidentemente que tenho as minhas opiniões pessoais sobre o assunto. A questão de uma escola afro - centrista no nosso município é da inteira responsabilidade do executivo das escolas públicas. Estou igualmente consciente da questão que se relaciona com o abandono escolar dos jovens portugueses em Toronto, mas estes são assuntos que nos ultrapassam.”
Questionado sobre a possibilidade do município trabalhar em conjunto com a província para, no caso português, incentivar o apoio a programas de aprendizagem nas áreas dos ofícios, Miller foi peremptório.
“Nós estamos a trabalhar num importante número de iniciativas, particularmente na área dos ofícios. O Ontário tinha um programa de aprendizagem muito bom, que não foi seguido e protegido da forma como devia ter sido. Nós, cidade de Toronto, estamos a trabalhar com o governo provincial e bairros no sentido de assegurar que existam sistemas de formação profissional não só na área dos ofícios – que sabemos paga bem - mas também nas artes, nos novos media, entre outros.
A comunidade portuguesa dá muito valor ao trabalho e é normal que os jovens sigam esta filosofia de vida. Acredito que a eles se deve apresentar um vasto campo de possibilidades. Confesso que estou preocupado com a área dos ofícios pois parece-me que não tem sido dada a atenção especial que merece. Eles são muito importantes, especialmente para a cidade de Toronto, uma cidade líder na construção e afins. Temos por isso que assegurar que a formação profissional existe para quem escolhe outras formas de vida.
Buracos nas ruas: 5 dias promete Miller
O Inverno foi um dos mais rigorosos dos últimos tempos e as estradas sofreram substancialmente. “O Inverno foi muito mau, mas estamos também a pagar pelo facto da cidade nos últimos 15 anos ter deferido trabalhos de manutenção por causa de problemas financeiros. Nos últimos dois orçamentos começamos a resolver esta situação. Estamos a aumentar os serviços de manutenção e garantimos aos munícipes cinco dias no máximo, para repararmos qualquer buraco que encontrem, logo que sejamos informados. Acho que pelo final da Primavera teremos feito um bom trabalho na reparação das vias e as pessoas vão ver um melhoramento nestes serviços.”
Todos com direito à informação
A cidade de Toronto tem serviços diversificados para apoio ao munícipe e está empenhada em prosseguir serviços para todos os cidadãos. Todavia, por questões de língua não chegam a todos os munícipes. Uma delas, por exemplo referiu Miller diz respeito a uma campanha a favor do controlo de armas – Gun Ban - que Miller está a levar a efeito, Miller reconheceu ao Nove Ilhas que a cidade não tem feito um bom trabalho de informação junto dos seus constituintes.
Todavia, com a recente aprovação de novos poderes para o presidente, Miller assegura que os portugueses, como outras comunidades, vão ouvir falar mais da sua cidade. “Temos trabalhado cuidadosamente para que os órgãos de comunicação social de todas as comunidades sejam informadas dos nossos serviços e do que acontece na sua cidade. Mas a verdade é que a cidade não tem feito o melhor que pode para manter todos informados, situação que se reflectiu por exemplo, o verão passado quando tivemos que fazer cortes nos serviços camarários, porque os novos impostos tinham sido deferidos. As pessoas ficaram surpreendidas por que desconheciam que a cidade funciona num sistema de governo 'pay-as-you’.”
Esta situação resultou, segundo David Miller da estrutura existente na qual “todo o conselho administrava a cidade e ninguém era responsável por levar a mensagem para o exterior. Agora tenho esta possibilidade legal de o fazer." E, numa altura em que a comunidade portuguesa se prepara para celebrar Portugal, David Miller no final da sua conversa com o Nove Ilhas, deixou um agradecimento especial a toda a comunidade de língua portuguesa "pelo seu trabalho e contributo na construção da identidade desta cidade de Toronto."
Texto e fotos: Humberta Araújo
A TRINDADE
Faltaram os foguetes. Não que me pareçam imprescindíveis. Sempre os achei um incómodo. Incomodava-me aquele rebentar contínuo e, eu ali, debaixo de um sol quente, colada às mãos da minha avó, sempre à espreita não me fosse cair em cima um resto quente de uma roqueira ou de um bombão e, acabasse a festa no consultório do Dr. Sampaio. Não eram só as dores que me preocupavam. Agonizava-me a imagem do Dr. Sampaio, com o seu nariz pontiagudo a olhar para mim, com aquele cheiro a álcool e a desinfectante.
Felizmente, nunca fui ferida por nenhum foguete. Considero tal possível, porque segui sempre com muita atenção a trajectória daquelas canas voadoras, que os homens aqueciam numa das extremidades onde se encontrava o pequeno recipiente de pólvora, com a ponta do cigarro. Depois do arranque inicial, lá iam as roqueiras e os “bombãs” fazendo por vezes uns ziguezagues no céu, indo terminar as suas curtas e barulhentas vidas, nos pastos ou nos quintais mais próximos.
Quando não me era exequível visionar os seus percursos, tentava encostar-me o mais possível às fachadas das casas, para me abrigar debaixo das telhas, não fosse em dia santo o diabo tecê-las.
Mas ontem em Oakville não houve foguetes a estalar nos céus, mas houve de tudo o mais que a festa da Função obriga. O pequeno império ostentando a pombinha, as crianças no coreto a jogar à bola, o ferver das sopas e as mulheres rosadas a partilhar um copo e a gargalhada, o ajudante com o suor em bico enquanto vai coando o caldo, o senhor padre feliz por ter casa cheia, a menina que aprende a preparar os tapetes de flores para a procissão, o céu azul que partilha o horizonte com a ramagem fresca que baila ao sabor da aragem, e a bandeira vermelha rasgando o horizonte, enquanto o trombone transpira e o vinho transborda.
Nada pode ser mais açoriano que isso. Nada diz mais da nossa pertença a este império que os símbolos e os detalhes da nossa herança.
Wednesday, May 14, 2008
O Meu Nome é Saudade
"O Meu nome é Saudade" faz parte de um projecto internacional que a RTP vai emitir e que pretende dar a conhecer o mundo da diaspora "infanto-juvenil".
Deixe o seu comentario sobre a historia e o que pensa do projecto. Estrangeirismos e "erros" sao proprios da linguagem utilizada pelos personagens.
Humberta Araujo
Autora
O meu nome é Saudade
My name is “Saudade”
I
“Faz-me mállássádás, grandma”
A algazarra é grande na cozinha.
“Grandma, make me some mállássádás.”
“Maria, explica-me a esta minha neta, que não estamos no Carnaval.”
“Honey, your vavó can’t cook malassadas, now. We are not in Carnaval.”
“Please mom, ask vavó to make mállássádás for me. Pode ser just one…please.”
“Dear Nancy, vavó can’t just cook one malassada. Besides, they are just made during Carnaval. E agora estamos no Verão.”
“Mas eu gosta tanto, mãe. Please…”
“Ok Saudade,” diz a avó Beatriz, que escuta a conversa entre neta e filha. “Esta menina é uma gulosa. Granma vai cook malassadas for you. Mas diz direito com a avó: malassadas”
“Mállássádás.”
“No, Saudade! Malassadas.”
“Mállássádás.”
“Ok, mállássádás. Dá cá um abraço forte à tua granma.”
“ Thank you, querida granny. I love you.”
“I love you too, Saudade.”
Nancy, é o meu nome. Mas a minha avó chama-me Saudade. Por isso sempre tive dois nomes: aquele pelo qual sou conhecida na escola pelos professores e amigas; o outro pela minha avó. Na nossa casa, o meu pai que não é português, também me chama Saudade. A minha grandma não fala muito inglês. Ela emigrou para o Canadá há muitos anos para se juntar ao meu avô, que trabalhava nos caminhos-de-ferro. Mas eu sei que ela sabe mais inglês do que mostra. A minha avó é muito orgulhosa, e só quer que se fale português na nossa casa.
“Please grandma give me a cookie.”
“Não sei o que estás a dizer. Mas se queres ‘cookies’ o melhor é pedires biscoitos.”
E ela ri muito. Eu adoro rir com a minha grandma. A minha mãe também se diverte muito com a teimosia da minha avó. As duas estão sempre a falar entre si e, eu divirto-me imenso, a ouvi-las. Parecem duas papagaias. Eu percebo muito pouco do que dizem. Acho que isto é mau, porque com toda a certeza, fico sempre de fora de muitos dos seus segredos. O meu pai também quer aprender português para fazer parte das conversas entre a avó e a mãe. Ele costuma dizer, a brincar, que as duas conspiram contra ele.
Quando elas estão juntas, gosto de ficar abraçada ao meu daddy, a olhar a avó e a mãe à volta das hortaliças e das carnes, que elas transformam em deliciosos pratos e sobremesas portuguesas.
Amanhã na minha escola há um festival de culturas. Só na minha turma tenho amigos e amigas de oito países diferentes: China, Iraque, Brasil, Jamaica, Índia, México, África do Sul e Vietname. Cada um de nós leva um prato típico preparado pelas nossas famílias. Alguns alunos vestem os seus trajes típicos. Gosto muito deste festival, porque fico a conhecer novos costumes, e posso dançar ao som de músicas de outros países.
Para este festival a minha avó, com a ajuda do pai, prepara um prato de arroz- doce enfeitado com corações de pó de canela. Este é um dos doces preferidos do meu father. Por isso ele já aprendeu a confeccioná-lo. Esta responsabilidade torna a minha granny nervosa. Ela fica sempre muito preocupada quando os seus pratos vão ser apreciados por outras pessoas.
“George, os hearts…no good! No good…too grandes. Pequenos, make them small, please…”
O pai, que não tem a paciência da minha grandma, vai desenhando no arroz grandes corações de canela, que na verdade mais parecem balões a rebentar.
“George…small…corações…please!”
O meu daddy, que já tem canela nos bigodes, começa a transpirar. Eu e a minha mãe ficamos as duas ao longe a observar e a rir. Acho aquela cena muito engraçada. A minha granny é que não está a achar graça nenhuma com o trabalho do meu querido pai.
“Sorry” diz o meu pai. Pérdoa-mê vóvó, diz ele abraçando a minha grandma, que já tem um sorriso do tamanho da lua, quando parece uma fatia de melancia.
“Ok…Ok…estás perdoado. Come here. Tenho arroz na panela para rapares.”
Agora sim, o meu pai com bigodes de canela, está completamente feliz.
II
O lanche
Estou a caminho da minha escola. Hoje vou poder provar muita comida saborosa e diferente. Mesmo assim, a minha avó insistiu para que eu levasse sopa quentinha para a escola. A minha grandma faz-me sempre uns lanches muito completos: sopa, sandes, fruta, sobremesa e um sumo. Eu sou a única pessoa naquela turma que tem um lanche assim. Por vezes, sinto-me embaraçada, porque todas as minhas amigas, levam lanches mais simples. Mas o meu tem sempre uma sopa. Para não deixar a minha granny triste, ofereço a sopa à minha amiga chinesa Chen, que adora os caldos da minha
avó. Em troca, ela dá-me os seus biscoitos da sorte. Gosto de abrir os “fortune cookies” para saber o que a sorte me reserva para cada dia.
“Saudade, minha querida neta. Comeste a sopinha toda?”
“Grandma eu come dessas comidas Portuguese que tu faz, mas eu não goste’ to take sopas to school.”
“Eu como querida! Não eu come. E as sopas are very good for you! O que é que a minha linda neta queria? Pão com peanut butter? Nem pensar. Não para a minha beautiful Saudade.
“Please grandma, eu não gosto de levá these soups all the time.”
“Saudade…gosto de levar…please. Tem cuidado com os verbos.”
“Grandma estes verbs são very dificult para mim…”
“Eu só tive a quarta-classe, mas vou ensinar-te os verbos em português, para nunca mais te enganares. Ok?”
“Ok, grandma. Depois me dizes também why you call me Saudade?”
“Digo-te one day. Um dia a avó explica-te why granma calls you, Saudade. Agora vamos aos verbos.”
“No more sopas grandma to escola. Please?”
“Vou pensar. Granma gone think. Se aprenderes os verbos, maybe granma não faz mais sopas?”
“Ok vavó. I love you!”
“Então vamos lá: eu como, tu comes, ele come…”
“Eu come, tu comas…”
III
O mandado
Hoje é Domingo. Ontem a minha avó ensinou-me um pouco mais dos verbos. Hoje, como sempre, ela levantou-se cedo. É o dia da missa. A mãe e o pai gostam muito do Domingo porque sempre podem dormir mais um pouco. Mas nunca perdem a missa. Vamos sempre juntos à igreja portuguesa. Eu não entendo muito o que o senhor padre diz, mas tenho a certeza que são coisas muito importantes, pois a minha granny fica espetada, que nem um lápis, a escutar com muita atenção o que o senhor padre diz. Não sei como é que ela consegue ficar tanto tempo parada e calada, pois em casa ela nunca descansa. Na igreja, quando a avó faz o sinal da cruz, ela fica sempre a olhar para mim, para ver se o faço direitinho, tal qual ela mo ensinou.
Aos Domingos, quando me levanto, o breakfast já está preparado e esperando por mim. Mas a minha granny faz um prato especial só para ela. E, ainda bem que assim é, porque aquela sopa que ela come, é mesmo muito estranha.
Chamam-se sopas de leite. Ela ferve o leite e depois espalha-o sobre o pão, que ela esmagou numa tigela grande, com as mãos. Depois junta açúcar.
“Grandma eu ‘pode’ meter o sugar?”
“Não é ‘pode’ querida. É posso.”
“Ok grandma. Posso meter o sugar?”
“Sim, minha querida Saudade. Vem cá para o colo da tua granma para provares um bocadinho das minhas sopas.”
“NO WAY!… Sorry grandma… No sopas de milk for me.”
Eu não gosto daquele breakfast da minha granny, mas gosto de saber da história das sopas. A minha vavó sabe muitas histórias. Algumas são verdadeiras, como aquela em que ela não podia ler ou brincar depois da escola.
“Mas o que fazias grandma after school?”
“Bom, depois da escola ia trabalhar. Ajudava à tua bisavó na cozinha. Ela sempre tinha coisas para eu fazer: descascar batatas, polvilhar a pá para levar o pão ao forno; procurar lenha para o lume; varrer a cozinha e tratar dos animais.”
“Animals…I love animals grandma…tell me about os teus animals”.
“Bom a avó ia tratar do porco, recolher os ovos e ver se tinham nascidos pintainhos. Dava comida e água ao meu cão, que se chamava Campeão. Apanhava ainda a roupa do fio e flores para enfeitar a casa.”
“Muito work grandma.”
“Sim. Mas todos trabalhavam lá em casa. Tínhamos que nos ajudar uns aos outros. Mas o que a granma mais gostava era de fazer mandados.”
“Manados? What is manados grandma?”
“Mandados querida? Bom como vou explicar? Olha, pergunta à tua mãe.”
“Mommy, mommy… what’s fazer manados?”
“Mais uma palavra portuguesa da tua grandma? Ok, honey… It means to go to the cornerstone to buy something, like milk, sugar or cheese. Um mandado was an errand. It was a job with lots of responsibility. Se te mandassem fazer um mandado, it meant that you were grown and ready to accept responsibilities.”
“Ok mommy posso ir fazer um manado para ti?”
“Mandado, querida. Soon honey. Um dia destes deixo-te ir, está bem?”
“Grandma… mother vai me mandar fazer um manado soon.”
“Que bom, querida... um manado.”
Granny and mommy riem às gargalhadas e abraçam-se.
“Vem cá Saudade, que a granma quer dar-te uma coisa.”
A minha grandma has a ‘piggy-bank’ hiding under her skirt. Num lindo lencinho bordado, ela guarda o seu dinheiro, que depois pendura no cinto da saia. Eu gosto de abrir o lencinho e encontrar notas e moedas que ela vai poupando.
“Grandma, porque guardas o teu money num lencinho?”
“É um velho costume da nossa terra. O money era pouco e poupávamos muito. Por isso tínhamos esta nossa carteira, feita com um lencinho, para guardar o dinheiro necessário para o dia a dia.”
“Eu também want um lencinho like your’s grandma.”
“E olha, aqui tens uma nota grande.”
“Obrigado grandma. Vou meter no meu lencinho, também.”
De repente, a campainha toca. Que bela surpresa…”
IV
Os jogos
“Hi uncle Charles. I am so happy to see you. I have a lencinho, like grandma, and mom will let me do a manado?”
“A what…?”
“Um mandado, Carlos,” explica a minha avó.
“Ok um mandado? That’s wonderful. I always loved mandados.”
“Mãe, lembras-te quando eu e a Maria brigávamos para irmos à loja do senhor Manuel fazer os mandados?”
“Sim filho, lembro-me bem!”
“Uncle, you also did manados?”
“Yes Nancy, and I always got to buy a soft drink, as a reward. It was called a Pirolito.”
“Piro…what? A soft drink with a very funny name.”
“It was the best soft drink ever. Eram deliciosos aqueles pirolitos.”
Eu estou muito feliz com a visita dos meus tios e das minhas primas. Agora compreendo porque a minha avó está a cozinhar tantos pratos diferentes.
“Crianças, it’s a beautiful day. Kids go to the park with uncle.”
“Maria, fala-me português com estas crianças.”
“Sim mãe, desculpa. Tens razão.”
Sei que a minha avó esta a ralhar com a minha mãe por falar em inglês connosco. É sempre assim com a minha avó.
Quando o sol está inteirinho no céu a olhar para mim, eu fico contente. E hoje estou duplamente alegre, pois o sol está gordinho e as minhas primas encontram-se comigo.
O meu tio gosta muito de nos ensinar os jogos infantis que jogava em Portugal quando era criança. Sempre que ele vem à cidade para nos visitar, trás sempre um novo jogo.
“Uncle, que jogo vais ensinar-me hoje?”
“The handkerchief game – o jogo do lencinho.”
“It sounds great, uncle.”
Estão mais crianças no parque. O meu tio convida-as, e de mãos dadas fazemos um círculo. O meu tio fica de fora com o lenço na mão correndo à nossa volta e dizendo:
O lencinho vai na minha mão, - The handkerchief is in my hand
Quando quer cai no chão, – When it wants, it falls
Ele aqui vai, ele aqui fica – Here it goes. Here it stays.
Em casa da tia Anica – At aunt Anica’s house.
Estamos todas muito atentas para ver onde o lenço vai cair.
“Oh my God…let it be me.”
O meu tio continua às voltas com o lencinho na mão. Ele ri, salta e canta. Tenho a certeza que vai deixar cair o lenço ao pé de mim.
“Vamos tio. Let the handkerchief fall.”
“Sejam pacientes, children.”
Preciso estar muito atenta. Se não observar com atenção e apanhar o lenço, vou de castigo prisioneira para dentro do círculo.
“I got it, tio. Apanhei o lenço.”
Durante horas corremos atrás do lenço. Muitas vezes fiquei prisioneira. Depois de tanta brincadeira, o sol torna-se de repente mais pequenino, e o meu estômago, começa a dar horas.
“Vamos embora, children. Time for dinner.”
Adoro o meu tio e os seus jogos do passado. Ao chegarmos a casa, um calor gostoso recebe-nos à porta. A mesa está linda, muito colorida com diferentes pratos, saladas, sobremesas, sumos, vinho e chá. Muitos aromas distintos invadem o meu nariz. Todos falam e riem. Os copos tilintam, enquanto o gramofone da minha grandma toca o seu fado favorito. O meu pai beija a minha mãe, que tem estrelas nos olhos. Grandma parece-me mais rosada e feliz. Tira agora o seu avental. Aproxima-se de mim a sorrir. Abre-me os seus braços e convida-me para entrar neles. Leva-me até à cozinha. E ali estão elas: perfumadas, fumegantes e doiradas. As minhas mállássádás.
“É por isso que te chamo Saudade. Porque you always make me remember what I can’t forget. Tu fazes granny ser fiel às suas raízes. E agora vamos jantar e depois comer as tuas mállássádás.”
“Vavó quero que me chames sempre Saudade.”
Fim
Deixe o seu comentario sobre a historia e o que pensa do projecto. Estrangeirismos e "erros" sao proprios da linguagem utilizada pelos personagens.
Humberta Araujo
Autora
O meu nome é Saudade
My name is “Saudade”
I
“Faz-me mállássádás, grandma”
A algazarra é grande na cozinha.
“Grandma, make me some mállássádás.”
“Maria, explica-me a esta minha neta, que não estamos no Carnaval.”
“Honey, your vavó can’t cook malassadas, now. We are not in Carnaval.”
“Please mom, ask vavó to make mállássádás for me. Pode ser just one…please.”
“Dear Nancy, vavó can’t just cook one malassada. Besides, they are just made during Carnaval. E agora estamos no Verão.”
“Mas eu gosta tanto, mãe. Please…”
“Ok Saudade,” diz a avó Beatriz, que escuta a conversa entre neta e filha. “Esta menina é uma gulosa. Granma vai cook malassadas for you. Mas diz direito com a avó: malassadas”
“Mállássádás.”
“No, Saudade! Malassadas.”
“Mállássádás.”
“Ok, mállássádás. Dá cá um abraço forte à tua granma.”
“ Thank you, querida granny. I love you.”
“I love you too, Saudade.”
Nancy, é o meu nome. Mas a minha avó chama-me Saudade. Por isso sempre tive dois nomes: aquele pelo qual sou conhecida na escola pelos professores e amigas; o outro pela minha avó. Na nossa casa, o meu pai que não é português, também me chama Saudade. A minha grandma não fala muito inglês. Ela emigrou para o Canadá há muitos anos para se juntar ao meu avô, que trabalhava nos caminhos-de-ferro. Mas eu sei que ela sabe mais inglês do que mostra. A minha avó é muito orgulhosa, e só quer que se fale português na nossa casa.
“Please grandma give me a cookie.”
“Não sei o que estás a dizer. Mas se queres ‘cookies’ o melhor é pedires biscoitos.”
E ela ri muito. Eu adoro rir com a minha grandma. A minha mãe também se diverte muito com a teimosia da minha avó. As duas estão sempre a falar entre si e, eu divirto-me imenso, a ouvi-las. Parecem duas papagaias. Eu percebo muito pouco do que dizem. Acho que isto é mau, porque com toda a certeza, fico sempre de fora de muitos dos seus segredos. O meu pai também quer aprender português para fazer parte das conversas entre a avó e a mãe. Ele costuma dizer, a brincar, que as duas conspiram contra ele.
Quando elas estão juntas, gosto de ficar abraçada ao meu daddy, a olhar a avó e a mãe à volta das hortaliças e das carnes, que elas transformam em deliciosos pratos e sobremesas portuguesas.
Amanhã na minha escola há um festival de culturas. Só na minha turma tenho amigos e amigas de oito países diferentes: China, Iraque, Brasil, Jamaica, Índia, México, África do Sul e Vietname. Cada um de nós leva um prato típico preparado pelas nossas famílias. Alguns alunos vestem os seus trajes típicos. Gosto muito deste festival, porque fico a conhecer novos costumes, e posso dançar ao som de músicas de outros países.
Para este festival a minha avó, com a ajuda do pai, prepara um prato de arroz- doce enfeitado com corações de pó de canela. Este é um dos doces preferidos do meu father. Por isso ele já aprendeu a confeccioná-lo. Esta responsabilidade torna a minha granny nervosa. Ela fica sempre muito preocupada quando os seus pratos vão ser apreciados por outras pessoas.
“George, os hearts…no good! No good…too grandes. Pequenos, make them small, please…”
O pai, que não tem a paciência da minha grandma, vai desenhando no arroz grandes corações de canela, que na verdade mais parecem balões a rebentar.
“George…small…corações…please!”
O meu daddy, que já tem canela nos bigodes, começa a transpirar. Eu e a minha mãe ficamos as duas ao longe a observar e a rir. Acho aquela cena muito engraçada. A minha granny é que não está a achar graça nenhuma com o trabalho do meu querido pai.
“Sorry” diz o meu pai. Pérdoa-mê vóvó, diz ele abraçando a minha grandma, que já tem um sorriso do tamanho da lua, quando parece uma fatia de melancia.
“Ok…Ok…estás perdoado. Come here. Tenho arroz na panela para rapares.”
Agora sim, o meu pai com bigodes de canela, está completamente feliz.
II
O lanche
Estou a caminho da minha escola. Hoje vou poder provar muita comida saborosa e diferente. Mesmo assim, a minha avó insistiu para que eu levasse sopa quentinha para a escola. A minha grandma faz-me sempre uns lanches muito completos: sopa, sandes, fruta, sobremesa e um sumo. Eu sou a única pessoa naquela turma que tem um lanche assim. Por vezes, sinto-me embaraçada, porque todas as minhas amigas, levam lanches mais simples. Mas o meu tem sempre uma sopa. Para não deixar a minha granny triste, ofereço a sopa à minha amiga chinesa Chen, que adora os caldos da minha
avó. Em troca, ela dá-me os seus biscoitos da sorte. Gosto de abrir os “fortune cookies” para saber o que a sorte me reserva para cada dia.
“Saudade, minha querida neta. Comeste a sopinha toda?”
“Grandma eu come dessas comidas Portuguese que tu faz, mas eu não goste’ to take sopas to school.”
“Eu como querida! Não eu come. E as sopas are very good for you! O que é que a minha linda neta queria? Pão com peanut butter? Nem pensar. Não para a minha beautiful Saudade.
“Please grandma, eu não gosto de levá these soups all the time.”
“Saudade…gosto de levar…please. Tem cuidado com os verbos.”
“Grandma estes verbs são very dificult para mim…”
“Eu só tive a quarta-classe, mas vou ensinar-te os verbos em português, para nunca mais te enganares. Ok?”
“Ok, grandma. Depois me dizes também why you call me Saudade?”
“Digo-te one day. Um dia a avó explica-te why granma calls you, Saudade. Agora vamos aos verbos.”
“No more sopas grandma to escola. Please?”
“Vou pensar. Granma gone think. Se aprenderes os verbos, maybe granma não faz mais sopas?”
“Ok vavó. I love you!”
“Então vamos lá: eu como, tu comes, ele come…”
“Eu come, tu comas…”
III
O mandado
Hoje é Domingo. Ontem a minha avó ensinou-me um pouco mais dos verbos. Hoje, como sempre, ela levantou-se cedo. É o dia da missa. A mãe e o pai gostam muito do Domingo porque sempre podem dormir mais um pouco. Mas nunca perdem a missa. Vamos sempre juntos à igreja portuguesa. Eu não entendo muito o que o senhor padre diz, mas tenho a certeza que são coisas muito importantes, pois a minha granny fica espetada, que nem um lápis, a escutar com muita atenção o que o senhor padre diz. Não sei como é que ela consegue ficar tanto tempo parada e calada, pois em casa ela nunca descansa. Na igreja, quando a avó faz o sinal da cruz, ela fica sempre a olhar para mim, para ver se o faço direitinho, tal qual ela mo ensinou.
Aos Domingos, quando me levanto, o breakfast já está preparado e esperando por mim. Mas a minha granny faz um prato especial só para ela. E, ainda bem que assim é, porque aquela sopa que ela come, é mesmo muito estranha.
Chamam-se sopas de leite. Ela ferve o leite e depois espalha-o sobre o pão, que ela esmagou numa tigela grande, com as mãos. Depois junta açúcar.
“Grandma eu ‘pode’ meter o sugar?”
“Não é ‘pode’ querida. É posso.”
“Ok grandma. Posso meter o sugar?”
“Sim, minha querida Saudade. Vem cá para o colo da tua granma para provares um bocadinho das minhas sopas.”
“NO WAY!… Sorry grandma… No sopas de milk for me.”
Eu não gosto daquele breakfast da minha granny, mas gosto de saber da história das sopas. A minha vavó sabe muitas histórias. Algumas são verdadeiras, como aquela em que ela não podia ler ou brincar depois da escola.
“Mas o que fazias grandma after school?”
“Bom, depois da escola ia trabalhar. Ajudava à tua bisavó na cozinha. Ela sempre tinha coisas para eu fazer: descascar batatas, polvilhar a pá para levar o pão ao forno; procurar lenha para o lume; varrer a cozinha e tratar dos animais.”
“Animals…I love animals grandma…tell me about os teus animals”.
“Bom a avó ia tratar do porco, recolher os ovos e ver se tinham nascidos pintainhos. Dava comida e água ao meu cão, que se chamava Campeão. Apanhava ainda a roupa do fio e flores para enfeitar a casa.”
“Muito work grandma.”
“Sim. Mas todos trabalhavam lá em casa. Tínhamos que nos ajudar uns aos outros. Mas o que a granma mais gostava era de fazer mandados.”
“Manados? What is manados grandma?”
“Mandados querida? Bom como vou explicar? Olha, pergunta à tua mãe.”
“Mommy, mommy… what’s fazer manados?”
“Mais uma palavra portuguesa da tua grandma? Ok, honey… It means to go to the cornerstone to buy something, like milk, sugar or cheese. Um mandado was an errand. It was a job with lots of responsibility. Se te mandassem fazer um mandado, it meant that you were grown and ready to accept responsibilities.”
“Ok mommy posso ir fazer um manado para ti?”
“Mandado, querida. Soon honey. Um dia destes deixo-te ir, está bem?”
“Grandma… mother vai me mandar fazer um manado soon.”
“Que bom, querida... um manado.”
Granny and mommy riem às gargalhadas e abraçam-se.
“Vem cá Saudade, que a granma quer dar-te uma coisa.”
A minha grandma has a ‘piggy-bank’ hiding under her skirt. Num lindo lencinho bordado, ela guarda o seu dinheiro, que depois pendura no cinto da saia. Eu gosto de abrir o lencinho e encontrar notas e moedas que ela vai poupando.
“Grandma, porque guardas o teu money num lencinho?”
“É um velho costume da nossa terra. O money era pouco e poupávamos muito. Por isso tínhamos esta nossa carteira, feita com um lencinho, para guardar o dinheiro necessário para o dia a dia.”
“Eu também want um lencinho like your’s grandma.”
“E olha, aqui tens uma nota grande.”
“Obrigado grandma. Vou meter no meu lencinho, também.”
De repente, a campainha toca. Que bela surpresa…”
IV
Os jogos
“Hi uncle Charles. I am so happy to see you. I have a lencinho, like grandma, and mom will let me do a manado?”
“A what…?”
“Um mandado, Carlos,” explica a minha avó.
“Ok um mandado? That’s wonderful. I always loved mandados.”
“Mãe, lembras-te quando eu e a Maria brigávamos para irmos à loja do senhor Manuel fazer os mandados?”
“Sim filho, lembro-me bem!”
“Uncle, you also did manados?”
“Yes Nancy, and I always got to buy a soft drink, as a reward. It was called a Pirolito.”
“Piro…what? A soft drink with a very funny name.”
“It was the best soft drink ever. Eram deliciosos aqueles pirolitos.”
Eu estou muito feliz com a visita dos meus tios e das minhas primas. Agora compreendo porque a minha avó está a cozinhar tantos pratos diferentes.
“Crianças, it’s a beautiful day. Kids go to the park with uncle.”
“Maria, fala-me português com estas crianças.”
“Sim mãe, desculpa. Tens razão.”
Sei que a minha avó esta a ralhar com a minha mãe por falar em inglês connosco. É sempre assim com a minha avó.
Quando o sol está inteirinho no céu a olhar para mim, eu fico contente. E hoje estou duplamente alegre, pois o sol está gordinho e as minhas primas encontram-se comigo.
O meu tio gosta muito de nos ensinar os jogos infantis que jogava em Portugal quando era criança. Sempre que ele vem à cidade para nos visitar, trás sempre um novo jogo.
“Uncle, que jogo vais ensinar-me hoje?”
“The handkerchief game – o jogo do lencinho.”
“It sounds great, uncle.”
Estão mais crianças no parque. O meu tio convida-as, e de mãos dadas fazemos um círculo. O meu tio fica de fora com o lenço na mão correndo à nossa volta e dizendo:
O lencinho vai na minha mão, - The handkerchief is in my hand
Quando quer cai no chão, – When it wants, it falls
Ele aqui vai, ele aqui fica – Here it goes. Here it stays.
Em casa da tia Anica – At aunt Anica’s house.
Estamos todas muito atentas para ver onde o lenço vai cair.
“Oh my God…let it be me.”
O meu tio continua às voltas com o lencinho na mão. Ele ri, salta e canta. Tenho a certeza que vai deixar cair o lenço ao pé de mim.
“Vamos tio. Let the handkerchief fall.”
“Sejam pacientes, children.”
Preciso estar muito atenta. Se não observar com atenção e apanhar o lenço, vou de castigo prisioneira para dentro do círculo.
“I got it, tio. Apanhei o lenço.”
Durante horas corremos atrás do lenço. Muitas vezes fiquei prisioneira. Depois de tanta brincadeira, o sol torna-se de repente mais pequenino, e o meu estômago, começa a dar horas.
“Vamos embora, children. Time for dinner.”
Adoro o meu tio e os seus jogos do passado. Ao chegarmos a casa, um calor gostoso recebe-nos à porta. A mesa está linda, muito colorida com diferentes pratos, saladas, sobremesas, sumos, vinho e chá. Muitos aromas distintos invadem o meu nariz. Todos falam e riem. Os copos tilintam, enquanto o gramofone da minha grandma toca o seu fado favorito. O meu pai beija a minha mãe, que tem estrelas nos olhos. Grandma parece-me mais rosada e feliz. Tira agora o seu avental. Aproxima-se de mim a sorrir. Abre-me os seus braços e convida-me para entrar neles. Leva-me até à cozinha. E ali estão elas: perfumadas, fumegantes e doiradas. As minhas mállássádás.
“É por isso que te chamo Saudade. Porque you always make me remember what I can’t forget. Tu fazes granny ser fiel às suas raízes. E agora vamos jantar e depois comer as tuas mállássádás.”
“Vavó quero que me chames sempre Saudade.”
Fim
Wednesday, March 19, 2008
SATA com novos aviões canadianos da Bombardier
A transportadora aérea SATA vai renovar a sua frota com novos aviões para a sua rota regional. A compra deverá ser feita à companhia canadiana Bombardier que não confirma a notícia uma vez que não foi ainda assinado qualquer contrato. O o presidente da SATA, na sua recente deslocação a Toronto, visitou as instalações da companhia responsável pela construção dos DASH Q200 e Q400 num investimento de 111,6 milhões de dólares
*Humberta Araújo
Nove Ilhas
A aquisicão das aeronaves já foi anunciada publicamente pelo presidente do governo açoriano após uma reunião com o responsável do Grupo SATA António Meneses, que deverá regressar ao Canadá. Um porta-voz da companhia em Toronto, confirmou ao Nove Ilhas que a companhia está em negociações com os Açores, mas que até ao momento não foi ainda firmado qualquer contrato.
A nova frota de aviões da SATA Air-Açores deverá vir a ser constituída por aparelhos da família DASH, desta fábrica. A nova frota será constituída por duas unidades do modelo DASH Q200, de 37 lugares, e quatro unidades do modelo DASH Q400, de 80 lugares, num investimento global de 111,6 milhões de dólares norte-americanos, cerca de 72 milhões de euros.
Segundo adiantou Carlos César, estes aviões constituem a opção mais vantajosa para a região, na medida em que oferecem soluções tecnológicas mais avançadas, têm mais potência, mais velocidade de ponta e maior capacidade de passageiros e de carga, face às outras alternativas existentes no mercado. Das razões que fundamentam a escolha, destacou as seguintes vantagens dos aviões DASH: o modelo Q200 apresenta inegáveis vantagens para a operação no Corvo, Flores, Graciosa, e S. Jorge, permitindo à SATA melhorar substancialmente o serviço aos passageiros nas rotas que servem estas ilhas, introduzindo níveis de qualidade, rapidez e segurança muito superiores aos actuais, o que possibilitará, inclusive, adicionar maior número de frequências. Quanto ao modelo Q400, é, entre todos os turbo-hélices, o mais avançado tecnologicamente, com maior potência, maior velocidade e mais capacidade de passageiros e de carga, na sua classe. É segundo os reponsáveis um aparelho que possibilita voos de melhor qualidade, em termos de tempo, de insonorização, de redução de vibrações, e em termos de qualidade de serviço e de rapidez no embarque e de desembarque de passageiros.
A renovação da frota far-se-á em 2009 e em 2010, prevendo-se, em primeiro lugar, a entrega dos Q-200, enquanto os novos modelos DASH Q-400 só sairão da fábrica em 2010. Mas o presidente do Governo anunciou outras medidas relacionadas com o transporte aéreo, nomeadamente no que se refere à implementação das novas tarifas promocionais para residentes nos voos inter-ilhas.
À excepção dos meses de Junho, Julho e Agosto e a partir de 30 de Março de 2008, a SATA Air-Açores passará a praticar tarifas promocionais em todas as rotas para residentes, correspondentes a, pelo menos, 10% dos lugares oferecidos. Estas tarifas promocionais terão um desconto de 30%. Para além disso, as Flores e a Graciosa passarão a ter um voo ao domingo durante todo o ano, anunciou ainda Carlos César.
Os emigrantes que anualmente viajam na SATA Internacional para a região poderão igualmente usufruir de certas vantagens com as novas aeronaves, nomeadamente no sector de bagagem.
* GaCS
*Humberta Araújo
Nove Ilhas
A aquisicão das aeronaves já foi anunciada publicamente pelo presidente do governo açoriano após uma reunião com o responsável do Grupo SATA António Meneses, que deverá regressar ao Canadá. Um porta-voz da companhia em Toronto, confirmou ao Nove Ilhas que a companhia está em negociações com os Açores, mas que até ao momento não foi ainda firmado qualquer contrato.
A nova frota de aviões da SATA Air-Açores deverá vir a ser constituída por aparelhos da família DASH, desta fábrica. A nova frota será constituída por duas unidades do modelo DASH Q200, de 37 lugares, e quatro unidades do modelo DASH Q400, de 80 lugares, num investimento global de 111,6 milhões de dólares norte-americanos, cerca de 72 milhões de euros.
Segundo adiantou Carlos César, estes aviões constituem a opção mais vantajosa para a região, na medida em que oferecem soluções tecnológicas mais avançadas, têm mais potência, mais velocidade de ponta e maior capacidade de passageiros e de carga, face às outras alternativas existentes no mercado. Das razões que fundamentam a escolha, destacou as seguintes vantagens dos aviões DASH: o modelo Q200 apresenta inegáveis vantagens para a operação no Corvo, Flores, Graciosa, e S. Jorge, permitindo à SATA melhorar substancialmente o serviço aos passageiros nas rotas que servem estas ilhas, introduzindo níveis de qualidade, rapidez e segurança muito superiores aos actuais, o que possibilitará, inclusive, adicionar maior número de frequências. Quanto ao modelo Q400, é, entre todos os turbo-hélices, o mais avançado tecnologicamente, com maior potência, maior velocidade e mais capacidade de passageiros e de carga, na sua classe. É segundo os reponsáveis um aparelho que possibilita voos de melhor qualidade, em termos de tempo, de insonorização, de redução de vibrações, e em termos de qualidade de serviço e de rapidez no embarque e de desembarque de passageiros.
A renovação da frota far-se-á em 2009 e em 2010, prevendo-se, em primeiro lugar, a entrega dos Q-200, enquanto os novos modelos DASH Q-400 só sairão da fábrica em 2010. Mas o presidente do Governo anunciou outras medidas relacionadas com o transporte aéreo, nomeadamente no que se refere à implementação das novas tarifas promocionais para residentes nos voos inter-ilhas.
À excepção dos meses de Junho, Julho e Agosto e a partir de 30 de Março de 2008, a SATA Air-Açores passará a praticar tarifas promocionais em todas as rotas para residentes, correspondentes a, pelo menos, 10% dos lugares oferecidos. Estas tarifas promocionais terão um desconto de 30%. Para além disso, as Flores e a Graciosa passarão a ter um voo ao domingo durante todo o ano, anunciou ainda Carlos César.
Os emigrantes que anualmente viajam na SATA Internacional para a região poderão igualmente usufruir de certas vantagens com as novas aeronaves, nomeadamente no sector de bagagem.
* GaCS
Friday, February 15, 2008
2008: ano crucial para a SATA
Ao mesmo tempo que o Grupo SATA expande os seus
destinos, inicia também uma “revolução” ao nível de
serviços, por forma a tornar a companhia mais acessível
aos seus utilizadores. O novo presidente desta companhia açoriana, António Gomes de Menezes, esteve recentemente em Toronto para conhecer de perto a realidade da SATA. Nesta cidade, confraternizou com diversos agentes, orgãos de comunicação social e entidades várias ligadas à aviação
Humberta Araujo
haraujo@noveilhas.com
De uma pequena companhia de aviação regional, iniciada há mais de meio século nos Açores, a Sociedade de Transportes Aéreos Açorianos (STAA) descola em 1947 na sua primeira aeronave o “Açor”, para tornar-se numa companhia internacional conhecida em alguns dos mais importantes aeroportos internacionais. Neste seu voo inaugural, do “Aerovacas” na ilha de S. Miguel, a (STAA) estava longe de imaginar quão longe viajaria um dia, numa aventura que acompanha de perto também a saga da emigração dos açorianos.
Muitos anos passados, a SATA viu finalmente os seus horizontes expandirem-se na década de noventa, altura em que inicia a sua operação não regular com voos charter. A companhia arrancou em Dezembro de 1990 com a designação “OceanAir” e em 1991 recebe autorização para uma operação não regular. A SATA Air Açores tornava-se na accionista principal da companhia. Em 1994 a SATA Air Açores tornava-se a única proprietária “OceanAir”. Em 1998 muda de nome para SATA Internacional e inicia a conquista de um vasto número de rotas nacionais e internacionais. Actualmente voa para França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Espanha, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. A companhia que suporta ainda uma considerável operação charter, iniciou também o processo de substituição da sua frota a operar inter-ilhas.
Modernização ao serviço dos vários agentes
António Gomes de Menezes acredita que os próximos cinco anos serão cruciais para a rota canadiana. “Em cinco anos a SATA tem condições para crescer e tornar-se numa das principais transportadoras entre o Canadá e os mais importantes aeroportos portugueses, Lisboa, Porto e Faro.” Para tal diz Menezes, “existem segmentos de mercado para serem trabalhados. Portugal apresenta vários destinos turísticos que podem interessar a diferentes tipos de viajantes. (…) A situação ideal passa, segundo o presidente do grupo pelo “crescimento, mas no sentido de tornar a nossa operação cada vez mais regular, mais frequente”.
No que diz respeito a Toronto e Montreal, “pretendemos consolidar uma operação regular. O ideal seria durante todo o ano passar por Montreal e consolidar a de Toronto”. Todavia, António Menezes alerta para o facto de existirem ainda alguns entraves a estes objectivos. “É difícil prever o número exacto de voos. Obviamente, que temos de ir estimulando e reagindo à procura e fazer com que haja cada vez mais notoriedade, não só da marca SATA, mas inclusive dos próprios destinos.”
O entendimento com uma companhia canadiana que facilitasse escoamento está actualmente prejudicado, devido ao estatuto de charter sobre o qual a companhia opera. “Estamos a diligenciar no sentido de modificar o estatuto. Aí sim, será relativamente mais fácil obter um entendimento de modo a que dentro do Canadá outras transportadoras consigam construir com a SATA um entendimento para que qualquer pessoa em qualquer parte do país consiga aceder aos voos da SATA”.
Entre outras estratégias está “obviamente o trabalho ao nível da distribuição. Estamos muito satisfeitos com o nosso modelo de negócios em que operamos e que privilegia o papel do ‘distribuidor/tour-operator/ travel agent’. Mas queremos testar os sistemas de reservas para que a automatização seja uma ferramenta de trabalho ao serviço dos ‘tour operators e travel agents’ para que os sistemas de reservas e acesso a disponibilidade de lugares sejam de facto assegurados de forma mais sustentada”.
Actualmente, assegurou ao Correio Canadiano/Nove Ilhas o presidente da SATA, “estamos a trabalhar de uma forma bastante activa neste sentido. “Todavia, há decisões que passam por outras instituições. Mas acreditamos que durante este ano de 2008 teremos algumas novidades nesta matéria”.
A comunhão entre a SATA e outros organismos relacionados com o desenvolvimento económico e turístico das ilhas é crucial. “Entendo que a SATA deve estar ao serviço do desenvolvimento económico dos Açores e, por conseguinte, deve estar ao serviço do desenvolvimento do turismo, pois o mesmo condicionará a ‘performance’ económica da região. A SATA tem que estar na linha da frente e, é isso exactamente que ela tem feito ao abrir portas para o mercado Açores que continua a crescer no sector turístico. A oferta de camas está a aumentar. A proposta de valor do destino Açores tem vindo a enriquecer em inúmeras áreas. Obviamente que a base estará sempre entre o mar e a natureza, mas dentro deste figurino aspectos como o golfe, congressos e cruzeiros serão interessantes. Queremos igualmente trabalhar no sentido de aumentarmos a nossa capacidade relacionada com o ‘airlift’ que providenciamos”.
Para além de encontros com agentes de viagens, operadores turísticos e comunicação social, Gomes de Menezes visitou a fábrica de aeronaves ‘Bombardier’ uma das companhias que poderão vir a substituir os actuais aviões da frota inter-ilhas.
destinos, inicia também uma “revolução” ao nível de
serviços, por forma a tornar a companhia mais acessível
aos seus utilizadores. O novo presidente desta companhia açoriana, António Gomes de Menezes, esteve recentemente em Toronto para conhecer de perto a realidade da SATA. Nesta cidade, confraternizou com diversos agentes, orgãos de comunicação social e entidades várias ligadas à aviação
Humberta Araujo
haraujo@noveilhas.com
De uma pequena companhia de aviação regional, iniciada há mais de meio século nos Açores, a Sociedade de Transportes Aéreos Açorianos (STAA) descola em 1947 na sua primeira aeronave o “Açor”, para tornar-se numa companhia internacional conhecida em alguns dos mais importantes aeroportos internacionais. Neste seu voo inaugural, do “Aerovacas” na ilha de S. Miguel, a (STAA) estava longe de imaginar quão longe viajaria um dia, numa aventura que acompanha de perto também a saga da emigração dos açorianos.
Muitos anos passados, a SATA viu finalmente os seus horizontes expandirem-se na década de noventa, altura em que inicia a sua operação não regular com voos charter. A companhia arrancou em Dezembro de 1990 com a designação “OceanAir” e em 1991 recebe autorização para uma operação não regular. A SATA Air Açores tornava-se na accionista principal da companhia. Em 1994 a SATA Air Açores tornava-se a única proprietária “OceanAir”. Em 1998 muda de nome para SATA Internacional e inicia a conquista de um vasto número de rotas nacionais e internacionais. Actualmente voa para França, Alemanha, Irlanda, Holanda, Espanha, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. A companhia que suporta ainda uma considerável operação charter, iniciou também o processo de substituição da sua frota a operar inter-ilhas.
Modernização ao serviço dos vários agentes
António Gomes de Menezes acredita que os próximos cinco anos serão cruciais para a rota canadiana. “Em cinco anos a SATA tem condições para crescer e tornar-se numa das principais transportadoras entre o Canadá e os mais importantes aeroportos portugueses, Lisboa, Porto e Faro.” Para tal diz Menezes, “existem segmentos de mercado para serem trabalhados. Portugal apresenta vários destinos turísticos que podem interessar a diferentes tipos de viajantes. (…) A situação ideal passa, segundo o presidente do grupo pelo “crescimento, mas no sentido de tornar a nossa operação cada vez mais regular, mais frequente”.
No que diz respeito a Toronto e Montreal, “pretendemos consolidar uma operação regular. O ideal seria durante todo o ano passar por Montreal e consolidar a de Toronto”. Todavia, António Menezes alerta para o facto de existirem ainda alguns entraves a estes objectivos. “É difícil prever o número exacto de voos. Obviamente, que temos de ir estimulando e reagindo à procura e fazer com que haja cada vez mais notoriedade, não só da marca SATA, mas inclusive dos próprios destinos.”
O entendimento com uma companhia canadiana que facilitasse escoamento está actualmente prejudicado, devido ao estatuto de charter sobre o qual a companhia opera. “Estamos a diligenciar no sentido de modificar o estatuto. Aí sim, será relativamente mais fácil obter um entendimento de modo a que dentro do Canadá outras transportadoras consigam construir com a SATA um entendimento para que qualquer pessoa em qualquer parte do país consiga aceder aos voos da SATA”.
Entre outras estratégias está “obviamente o trabalho ao nível da distribuição. Estamos muito satisfeitos com o nosso modelo de negócios em que operamos e que privilegia o papel do ‘distribuidor/tour-operator/ travel agent’. Mas queremos testar os sistemas de reservas para que a automatização seja uma ferramenta de trabalho ao serviço dos ‘tour operators e travel agents’ para que os sistemas de reservas e acesso a disponibilidade de lugares sejam de facto assegurados de forma mais sustentada”.
Actualmente, assegurou ao Correio Canadiano/Nove Ilhas o presidente da SATA, “estamos a trabalhar de uma forma bastante activa neste sentido. “Todavia, há decisões que passam por outras instituições. Mas acreditamos que durante este ano de 2008 teremos algumas novidades nesta matéria”.
A comunhão entre a SATA e outros organismos relacionados com o desenvolvimento económico e turístico das ilhas é crucial. “Entendo que a SATA deve estar ao serviço do desenvolvimento económico dos Açores e, por conseguinte, deve estar ao serviço do desenvolvimento do turismo, pois o mesmo condicionará a ‘performance’ económica da região. A SATA tem que estar na linha da frente e, é isso exactamente que ela tem feito ao abrir portas para o mercado Açores que continua a crescer no sector turístico. A oferta de camas está a aumentar. A proposta de valor do destino Açores tem vindo a enriquecer em inúmeras áreas. Obviamente que a base estará sempre entre o mar e a natureza, mas dentro deste figurino aspectos como o golfe, congressos e cruzeiros serão interessantes. Queremos igualmente trabalhar no sentido de aumentarmos a nossa capacidade relacionada com o ‘airlift’ que providenciamos”.
Para além de encontros com agentes de viagens, operadores turísticos e comunicação social, Gomes de Menezes visitou a fábrica de aeronaves ‘Bombardier’ uma das companhias que poderão vir a substituir os actuais aviões da frota inter-ilhas.
No interior do seio sagrado
Mariana vive no interior da ilha. A décima. Só se desloca à cidade pelas festas do Senhor Santo Cristo. Os cinco filhos que teve apenas conheceram a parteira. Médico só na vila e mesmo assim só em tempo de emergências, que felizmente não têm batido à porta. Achaques e moléstias são curadas com mezinhas e remédios caseiros. Nada de mais para sobressaltar a família. Assim se vive numa calma desconcertada, pois paira sobre a cabeça de Mariana o medo daquele peito. Que Deus a proteja da sina da mãe, da avó e de duas tias. Porém, no silêncio das palavras mudas, Mariana ouve o trepar calado do sangue a alimentar a herança. Que nada se veja e que nada se diga daquele mal desentendido pelas gentes, que se acomoda no seu corpo, como a água da chuva que o pasto sorve. Mariana esconde o que ferozmente lhe consome o peito. Não vá a vizinha, a rua, a freguesia deitar-lhe aquele olhar , o mesmo a que se acostumou a reconhecer nas caras das gentes da rua, depositado depois no seu corpo, quando de mãos dadas com a mãe acompanhou o féretro da avó e, depois já mulher, o de sua mãe.
Na terra do analfabetismo e do esquecimento, o tumor galgava o corpo da mulher, semeando a ignomínia como o mar em tempo de tempestade. Na terra, a doença “salve-seja” mais do que a certeza da dor e da morte, trazia consigo o xaile do preconceito. O peito é agora uma chaga rebentada. Já não pode negar, nem a si nem a ninguém, que aquele corpo já não lhe pertence, tomado que foi pela peçonha. É tarde demais. Tarde demais para tudo. A pobreza, a ignorância, o medo, a distância fizeram um pacto com a “salve-seja” e nada mais lhe resta do que dizer adeus aos poucos. Adeus aos horizontes azuis, ao nascer do sol, aos filhos e ao marido, ao álbum das fotografias – poucas – pois naquele tempo eram poucos os retratos.
Viveu o medo de deixar as mãos e os dedos percorrer o peito à procura do “caroço". O medo de descobrir qualquer coisa de “ruím” e fechar-se no anonimato de um incómodo, sem um abraço de esperança. Lembra as mulheres que o tumor consumiu e que ela herdou. Lembra o sangue feminino que corre no seu corpo e no seu nome. Vive o preconceito e o silêncio.
Assim morreram muitas mães e avós. Muitas amigas e filhas. Já não é preciso o silêncio. A solidariedade e a ciência já conquistaram os muros do medo. Mesmo assim, para muitas mulheres falta ainda a informação e os meios para que de uma vez por todas conquistem com orgulho o seio feminino.
Wednesday, February 06, 2008
Novo presidente do grupo Sata em Toronto
"Conhecer de perto realidade da SATA"
O novo presidente do conselho de administração do grupo Sata vai estar em Toronto. António Gomes de Menezes substui no cargo o economista Manuel António Cansado, que deixou a presidência alegando o desejo de retomar a sua carreira profissional. O novo presidente de 34 anos é doutorado em Economia e desde 2006, que desempenha funções de vogal no executivo do conselho de administração da Agência para a Promoção do Investimento dos Açores (APIA) e da ASTA-Atlântida - Sociedade de Turismo e Animação. A companhia sob a administração de Manuel António Cansado, que tomou posse como presidente do conselho de administração em Maio de 1997, conseguiu passar dos 240 mil passageiros para cerca de 1,3 milhões em parte resultado da internacionalização da companhia. Em declarações ao CC/NI o novo presidente da SATA afirmou que relativamente a esta sua viagem a Toronto ela tem como objectivo “conhecer in loco a realidade da SATA, pois a América do Norte é um mercado extremamente importante para o futuro desenvolvimento do grupo”. Nesta perspectiva, os contactos no Canadá servirão “para tomar o pulso da situação e conhecer de perto, em diálogo com todos envolvidos nesta exploração” o mercado e serviços. O futuro da SATA internacional é crucial “numa perspectiva de futuro considerando que o grupo na sua estratégia de expansão pretende melhorar em todos os aspectos o trabalho da transportadora”.
A presença da SATA em Toronto remonta a 1986 ano em que a companhia iniciou a sua presença com escritórios nesta cidade. A SATA num esforço interno de modernização nos Açores, estuda agora a compra de novas aeronaves para os transportes inter-ilhas e já anunciou tarifas mais baixas no arquipélago durante nove meses por ano. O anúncio foi feito recentemente pelo secretário regional da Economia Duarte Ponte. “O governo em concertação com a transportadora aérea regional, espera poder publicar, ainda em Fevereiro ou então em Março, um tarifário promocional, naturalmente com restrições”. Este tarifário terá efeitos positivos também para os emigrantes que se desloquem às ilhas. Recorde-se ainda que recentemente foram anunciadas baixas para as tarifas dos emigrantes.
Humberta Araújo
O novo presidente do conselho de administração do grupo Sata vai estar em Toronto. António Gomes de Menezes substui no cargo o economista Manuel António Cansado, que deixou a presidência alegando o desejo de retomar a sua carreira profissional. O novo presidente de 34 anos é doutorado em Economia e desde 2006, que desempenha funções de vogal no executivo do conselho de administração da Agência para a Promoção do Investimento dos Açores (APIA) e da ASTA-Atlântida - Sociedade de Turismo e Animação. A companhia sob a administração de Manuel António Cansado, que tomou posse como presidente do conselho de administração em Maio de 1997, conseguiu passar dos 240 mil passageiros para cerca de 1,3 milhões em parte resultado da internacionalização da companhia. Em declarações ao CC/NI o novo presidente da SATA afirmou que relativamente a esta sua viagem a Toronto ela tem como objectivo “conhecer in loco a realidade da SATA, pois a América do Norte é um mercado extremamente importante para o futuro desenvolvimento do grupo”. Nesta perspectiva, os contactos no Canadá servirão “para tomar o pulso da situação e conhecer de perto, em diálogo com todos envolvidos nesta exploração” o mercado e serviços. O futuro da SATA internacional é crucial “numa perspectiva de futuro considerando que o grupo na sua estratégia de expansão pretende melhorar em todos os aspectos o trabalho da transportadora”.
A presença da SATA em Toronto remonta a 1986 ano em que a companhia iniciou a sua presença com escritórios nesta cidade. A SATA num esforço interno de modernização nos Açores, estuda agora a compra de novas aeronaves para os transportes inter-ilhas e já anunciou tarifas mais baixas no arquipélago durante nove meses por ano. O anúncio foi feito recentemente pelo secretário regional da Economia Duarte Ponte. “O governo em concertação com a transportadora aérea regional, espera poder publicar, ainda em Fevereiro ou então em Março, um tarifário promocional, naturalmente com restrições”. Este tarifário terá efeitos positivos também para os emigrantes que se desloquem às ilhas. Recorde-se ainda que recentemente foram anunciadas baixas para as tarifas dos emigrantes.
Humberta Araújo
RIAC - Ligar Toronto aos Açores
Os açorianos a residir na província do Ontário vão dispor, a partir deste ano, de um serviço de atendimento, localizado nas novas instalações da Casa dos Açores do Ontário. Vasco Cordeiro, secretário regional da presidência, explica o porquê desta decisão do governo dos Açores.
"RIAC vai também colmatar a falta de um funcionário para CAO"
Carlos Botelho. presidente Casa dos Açores
Humberta Araújo
haraujo@noveilhas.com
Os actuais 26 postos da Rede Integrada de Atendimento ao Cidadão que se encontram a funcionar nos Açores, asseguraram 75 mil atendimentos nos primeiros nove meses deste ano, registando um acréscimo de procura de 109%, face ao mesmo período de 2006. Estes dados foram fornecidos pelo vice-presidente do governo, Sérgio Ávila, na passada quinta-feira na inauguração do RIAC, na Madalena do Pico. “O projecto já comum a todos os açorianos, é uma aposta ganha e uma mais-valia no dia-a-dia” da população dos Açores, afirmou Sérgio Ávila, indicando que, devido ao seu sucesso, serve de referência ao processo de lançamento, no Continente, da segunda geração das “Lojas do Cidadão. Quando começaram a funcionar, os postos RIAC eram utilizados, sobretudo, para pagamentos de despesas periódicas – água, luz, telemóveis, telefones e TV Cabo – mas hoje prestam uma variedade de serviços que vão da emissão do Cartão de Cidadão à apresentação de reclamações ou candidaturas a sistemas de incentivos financeiros, explicou Sérgio Ávila. Muitos destes serviços podem ser agora requeridos pelos açorianos a viver em Toronto. Circulação rodoviária, obrigações relativas ao sector da saúde, tais como cartão de utente, reembolso de despesas para aposentados da ADSE, adesão ao protocolo dos aposentados, documentos e licenças, entre eles passaportes, certificados do registo criminal, certidões, registo civil, comercial e predial e caderneta predial urbana são só algumas das responsabilidades do RIAC, que se podem estender ao cartão do cadastro comercial, candidaturas a apoios, escoamento e promoção de produtos açorianos ou pedidos de apoio para habitação. Para os jovens facilita a inscrição no Programa de Ocupação dos Tempos Livres e de Mobilidade e Intercâmbio Juvenil. Disponibiliza ainda serviços camarários e da Direcção-Geral dos Impostos, entre outros. Para Carlos Botelho, presidente da Casa dos Açores, o "RIAC vai do mesmo modo colmatar a falta de um funcionário a tempo inteiro para o clube, que prestará serviços de secretariado à direcção da Casa dos Açores, apoio aos associados, organização interna de documentos oficiais do clube," entre outros.
"Um passo importante na ligação afectiva com os açorianos"
Vasco Cordeiro
Nove Ilhas - Seguindo o sucesso dos RIAC nos Açores, o governo dos Açores em recente reunião decidiu que os açorianos radicados em Toronto iriam dispor de postos de atendimento da RIAC (Agência para a Modernização e Qualidade do Serviço ao Cidadão). Na sua essência, qual a filosofia subjacente ao alargamento do RIAC às comunidades?
Vasco Cordeiro - O Governo pretende disponibilizar aos açorianos emigrados na área de Toronto, o conjunto de serviços que são acessíveis através da Rede Integrada de Apoio ao Cidadão. Trata-se assim, não apenas de facilitar o acesso desses Açorianos à realidade da administração regional, facilitando esse contacto, mas também uma forma de reforçar a ligação da nossa comunidade aos Açores.
NI- No que diz respeito a Toronto e, na sequência de declarações prestadas pelo presidente do governo aquando da inauguração das instalações da Casa dos Açores do Ontário, estes serviços funcionariam nas novas instalações. Para quando o início dos mesmos e que passos faltam dar?
VC - Neste momento o processo está a ser ultimado, pelo que acreditamos ainda ser possível este ano a entrada em funcionamento desse serviço.
NI - O RIAC irá facilitar serviços da Administração Pública Regional, por exemplo, em questões relacionadas com propriedades, entre outros. Especificamente que tipo de serviços poderá a Agência oferecer aos emigrantes?
VC - Essencialmente, todos os serviços que estão disponíveis nesses Postos, nomeadamente, na área de relacionamento com a administração regional e com a administração autárquica. Aqui incluem-se licenças de vária ordem, certidões diversas e alvarás emitidos quer pelo Governo Regional, quer pelas Câmaras Municipais.
NI - Estes serviços podem estender-se também a emigrantes de outras regiões portuguesas?
VC - Nesta fase, e como atrás se explicou, estes serviços estão direccionados para os actos da Administração Regional Autónoma dos Açores e das Câmaras Municipais dos Açores. Pode, assim, qualquer cidadão que necessite de obter actos ou dados dessas instituições recorrer ao Posto RIAC.
NI - Ao nível da ligação afectiva dos açorianos com a região, esta é também uma aposta no prolongamento de laços facilitando ao mesmo tempo uma via de relacionamento com as novas gerações?
VC - Este é, efectivamente, um dos objectivos e das vantagens desta decisão do Governo Regional. Muito embora a actuação do Governo Regional de fomentar a ligação dos Açorianos emigrados à nossa Região não se esgote nessa medida, ela constitui um passo importante nesse sentido.
"RIAC vai também colmatar a falta de um funcionário para CAO"
Carlos Botelho. presidente Casa dos Açores
Humberta Araújo
haraujo@noveilhas.com
Os actuais 26 postos da Rede Integrada de Atendimento ao Cidadão que se encontram a funcionar nos Açores, asseguraram 75 mil atendimentos nos primeiros nove meses deste ano, registando um acréscimo de procura de 109%, face ao mesmo período de 2006. Estes dados foram fornecidos pelo vice-presidente do governo, Sérgio Ávila, na passada quinta-feira na inauguração do RIAC, na Madalena do Pico. “O projecto já comum a todos os açorianos, é uma aposta ganha e uma mais-valia no dia-a-dia” da população dos Açores, afirmou Sérgio Ávila, indicando que, devido ao seu sucesso, serve de referência ao processo de lançamento, no Continente, da segunda geração das “Lojas do Cidadão. Quando começaram a funcionar, os postos RIAC eram utilizados, sobretudo, para pagamentos de despesas periódicas – água, luz, telemóveis, telefones e TV Cabo – mas hoje prestam uma variedade de serviços que vão da emissão do Cartão de Cidadão à apresentação de reclamações ou candidaturas a sistemas de incentivos financeiros, explicou Sérgio Ávila. Muitos destes serviços podem ser agora requeridos pelos açorianos a viver em Toronto. Circulação rodoviária, obrigações relativas ao sector da saúde, tais como cartão de utente, reembolso de despesas para aposentados da ADSE, adesão ao protocolo dos aposentados, documentos e licenças, entre eles passaportes, certificados do registo criminal, certidões, registo civil, comercial e predial e caderneta predial urbana são só algumas das responsabilidades do RIAC, que se podem estender ao cartão do cadastro comercial, candidaturas a apoios, escoamento e promoção de produtos açorianos ou pedidos de apoio para habitação. Para os jovens facilita a inscrição no Programa de Ocupação dos Tempos Livres e de Mobilidade e Intercâmbio Juvenil. Disponibiliza ainda serviços camarários e da Direcção-Geral dos Impostos, entre outros. Para Carlos Botelho, presidente da Casa dos Açores, o "RIAC vai do mesmo modo colmatar a falta de um funcionário a tempo inteiro para o clube, que prestará serviços de secretariado à direcção da Casa dos Açores, apoio aos associados, organização interna de documentos oficiais do clube," entre outros.
"Um passo importante na ligação afectiva com os açorianos"
Vasco Cordeiro
Nove Ilhas - Seguindo o sucesso dos RIAC nos Açores, o governo dos Açores em recente reunião decidiu que os açorianos radicados em Toronto iriam dispor de postos de atendimento da RIAC (Agência para a Modernização e Qualidade do Serviço ao Cidadão). Na sua essência, qual a filosofia subjacente ao alargamento do RIAC às comunidades?
Vasco Cordeiro - O Governo pretende disponibilizar aos açorianos emigrados na área de Toronto, o conjunto de serviços que são acessíveis através da Rede Integrada de Apoio ao Cidadão. Trata-se assim, não apenas de facilitar o acesso desses Açorianos à realidade da administração regional, facilitando esse contacto, mas também uma forma de reforçar a ligação da nossa comunidade aos Açores.
NI- No que diz respeito a Toronto e, na sequência de declarações prestadas pelo presidente do governo aquando da inauguração das instalações da Casa dos Açores do Ontário, estes serviços funcionariam nas novas instalações. Para quando o início dos mesmos e que passos faltam dar?
VC - Neste momento o processo está a ser ultimado, pelo que acreditamos ainda ser possível este ano a entrada em funcionamento desse serviço.
NI - O RIAC irá facilitar serviços da Administração Pública Regional, por exemplo, em questões relacionadas com propriedades, entre outros. Especificamente que tipo de serviços poderá a Agência oferecer aos emigrantes?
VC - Essencialmente, todos os serviços que estão disponíveis nesses Postos, nomeadamente, na área de relacionamento com a administração regional e com a administração autárquica. Aqui incluem-se licenças de vária ordem, certidões diversas e alvarás emitidos quer pelo Governo Regional, quer pelas Câmaras Municipais.
NI - Estes serviços podem estender-se também a emigrantes de outras regiões portuguesas?
VC - Nesta fase, e como atrás se explicou, estes serviços estão direccionados para os actos da Administração Regional Autónoma dos Açores e das Câmaras Municipais dos Açores. Pode, assim, qualquer cidadão que necessite de obter actos ou dados dessas instituições recorrer ao Posto RIAC.
NI - Ao nível da ligação afectiva dos açorianos com a região, esta é também uma aposta no prolongamento de laços facilitando ao mesmo tempo uma via de relacionamento com as novas gerações?
VC - Este é, efectivamente, um dos objectivos e das vantagens desta decisão do Governo Regional. Muito embora a actuação do Governo Regional de fomentar a ligação dos Açorianos emigrados à nossa Região não se esgote nessa medida, ela constitui um passo importante nesse sentido.
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